Ordenado sacerdote na basílica de São João de
Latrão a 16 de Maio de 1818, Vicente Palotti pertencia ao clero de Roma. Era,
portanto, um sacerdote romano que na primeira metade do séc. XIX se
distinguiu entre os sacerdotes pela sua formação intelectual e espiritual. Um
modelo de sacerdote bom pastor que guiava e defendia os crentes, no tempo do
enfraquecimento da fé. Mas, sobretudo, inscreveu-se na história da Igreja com
as suas iniciativas a fim de promover a formação espiritual e pastoral dos
sacerdotes romanos.
Com a sua profunda vida espiritual, suas múltiplas
atividades apostólicas e a realização profética do apostolado, influiu de modo
relevante na história da Igreja no século XIX. Ele viveu num tempo em que
foram impostos fundamentos do mundo moderno e de uma nova ordem sociopolítica.
As ideias do iluminismo, as turbulências do período napoleônico, o surgimento
da questão operária, que culminou no “manifesto comunista”, as tendências
liberais, os movimentos nacionalistas na Europa e o desenvolvimento da imprensa
são algumas vozes que caracterizaram os tempos de São Vicente Pallotti.
Pallotti confrontava-se com os problemas que
dificultavam a vivência da fé e o crescimento das tarefas ligadas ao anúncio do
Evangelho nas terras de missão. Diante de tais problemas que a Igreja devia
afrontar, Pallotti voltava sua atenção sobre a necessidade urgente de reavivar
a fé e de reacender a caridade entre os católicos para anunciar a todos os
homens a boa notícia da salvação.
Vicente Pallotti nasceu em Roma no dia 21/04/1795.
No dia seguinte foi Batizado na Igreja de São Lourenço, em Damasco, com o nome
de Vicente Luiz Francisco.
“Deu-me Deus pais santos. Que conta lhe
deverei dar, se não aproveitar dos seus ensinamentos!”
Seus pais tinham em pleno centro de Roma um
matrimônio feliz: 10 filhos. Cinco morreram na infância. Os que sobreviveram
eram homens. Nenhum se casou. Por isso a família Pallotti não teve
descendência.
“Quem se coloca com toda a alma no
caminho do amor de Deus, não pode falir.”
Foram os encontros com o amigo Padre Fazzini que
levaram Vicente a tomar a decisão de ser sacerdote, realizando assim um desejo
que sentia desde pequeno, quando disse a sua mãe: “Um dia você me verá
celebrar a Missa no altar de São Felipe Néri”.
Aos 15 anos, foi impedido de entrar no seminário
por causa das perseguições religiosas. Então transforma a casa num pequeno
seminário, onde Padre Fazzini o acompanha nos estudos e oração e já pensa no
seu apostolado de amanhã.
Vicente Pallotti, na sua amizade com Bernardino
Fazzini, foi descobrindo que Deus o chamava para o sacerdócio. Uma descoberta
que lhe fez experimentar o amor de Deus. Toda manhã saía de casa para ir até o
seminário para participar das aulas e retornava à família onde se dedicava ao
estudo, ao trabalho e à oração.
No tempo livre do estudo, encontramos o jovem
Vicente no meio das crianças do seu bairro, atento aos pobres e doentes, pelos
quais quer ser: “Quisera ser alimento para os famintos, veste para os
nus, bebida para os sedentos, licor para o estômago débeis, plumas macias para
repouso de membros quebrados e cansados, medicamento e saúde para os doentes e
sofredores, para os coxos, para os mutilados, para os surdos, para os mudos;
luz para os cegos de corpo e de espírito; vida para ressurreição das
criaturas todas que morreram para Deus e para os homens, a fim de que o
retorno à vida as leve a realizar, até o dia do juízo, grandes coisas para a
honra do meu Deus, do meu Criador, do meu bem, do meu tudo.”
“Quando vejo ou ouço falar em pessoas
aflitas, angustiadas, atribuladas, cansadas, carregadas de pesos e
fadigas..lavradores, carroceiros, pedreiros, pobres…pelas noites em que não
dormem, porque eles mesmos estão doentes ou inquietos…o desprezo e o sofrimento
dos pobrezinhos de Jesus Cristo…quando reflito sobre todas as outras misérias
que não enumerei e nem sequer compreendo…se eu mesmo ou outra pessoa pudesse
penetrar em todos os ângulos da terra e enxergar de uma só vez as misérias que
atribulam a pobre humanidade, acredito que o coração humano não suportaria
semelhante visão, mas todos morreríamos de dor.”
Padre Vicente era um ótimo aluno de Teologia,
aplicado, inteligente, fiel, à doutrina da Igreja. Professor, amado pela sua
compreensão e temido pela sua exigência. Despojou-se de toda autoridade e
fez-se um aluno no meio dos outros, cativando a simpatia de todos. Não tardou
em compreender que não era a sua vocação ser professor, embora tivesse
capacidade. Sentia que o Senhor o queria no meio do povo.
“Procura a Deus e irás encontrá-lo
Procura-o sempre, irás encontrá-lo em tudo.”
Uma das características da vida de Padre Vicente
era não saber dizer não, e era sua alegria ir ao encontro de todos. Ajudar,
doar seu tempo e amor com plena e total generosidade. Não pensava que o
dia tinha 24 horas, assumia compromisso para 48 horas diárias. Estando em
apuros recorria aos amigos sacerdotes ou leigos para que o ajudassem. Padre
Vicente era tão santo que não precisava dormir, diziam os amigos que o viam
sempre trabalhando, estava disponível de dia e de noite para os irmãos. Durante
a noite a luz do quarto ficava acesa, era Padre Vicente que depois das fadigas
diárias, dedicava-se ao estudo.
Padre Vicente queria ajudar os missionários, e,
desde o início do seu sacerdócio, foi procurando terços, medalhas, crucifixos
para doá-los aos missionários que voltavam para a própria missão. Não se
envergonhava de pedir, sabia que não era para ele e que tudo isso seria um meio
para tornar-se missionário com os missionários.
Vicente atuava com eles, como mãe solícita por seus
filhos queridos. Administrava-lhes remédios, dava-lhes de beber, erguia-os na
cama, quando era necessário, animava-os a suportar tudo com paciência,
consolava-os de maneira mais afetuosa.
Visita ao Papa Pio IX
Um dia foi visitar o Papa Pio IX, já seu velho
amigo. O Papa, olhando com carinho para Padre Vicente, lhe perguntou:
-Está contente, Padre Vicente?
E, notando que não estava plenamente feliz, diz a
todos
-Vocês veem. Eu sabia que o Padre Vicente não
estaria de modo algum satisfeito. Estar satisfeito é parar no caminho.
O médico diagnosticou uma pleuresia, doença grave,
porque tinha os pulmões bem debilitados. O Padre Vaccari, o sucessor na direção
do Apostolado Católico, disse-lhe apreensivo:
-Padre Vicente, se o senhor pedir a Deus que
prolongue a sua vida, Deus escutá-lo-á. Vicente, olhando-o com muita bondade
respondeu-lhe:
-Deixa-me ir para onde Deus me chama.
Era o dia 22 de janeiro de 1850, às 21h45. Padre
Vicente voltava feliz e rico em merecimentos para a Casa do Pai.
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