Porquê
esta ordem? Para que, uma vez afastado todo e qualquer motivo de escândalo,
consumadas a cruz e a Paixão, eliminado todo e qualquer obstáculo capaz de
afastar a multidão da crença nele, o conhecimento exato daquilo que Ele era
pudesse gravar-se profundamente e para sempre nos corações. O seu poder ainda
não tinha brilhado de forma deslumbrante. Ele esperava que a evidência da
verdade e a autoridade dos fatos confirmasse o seu testemunho, para que depois
os apóstolos pregassem sobre Ele.
Pois uma coisa era vê-Lo multiplicar
prodígios na Palestina e seguidamente ser alvo de perseguições e ultrajes - e a
cruz seguir-se-ia a estes prodígios; outra coisa era vê-Lo ser adorado,
acreditado em toda a terra, salvo dos maus tratos que outrora tinha sofrido.
Por isso lhes recomendou que nada dissessem a ninguém.
Se os apóstolos, que
tinham sido testemunhas dos milagres e que tinham participado em tantos
mistérios inexprimíveis, tinham dificuldade em aceitar uma única palavra a
respeito da Paixão - incluindo o próprio Pedro, que era chefe de todos, o que
teria pensado o comum dos mortais? Depois de ter ouvido dizer que Jesus era o
Filho de Deus, que pensariam eles ao vê-Lo sujo de escarros e pregado à cruz? E
isto antes da vinda do Espírito Santo, quando ainda não se conhecia a razão
destes mistérios?
São João Crisóstomo – século IV
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