Consideremos
o grande milagre que se produziu a seguir, uma vez que ele constitui o prólogo daquilo
que iria passar-se em breve. Logo após o batismo do Salvador, não foi o antigo
Paraíso que se abriu, foi o próprio céu: «Uma
vez batizado, […] eis que se rasgaram os céus» (Mt 3,16). Porque se terão
aberto os céus quando do batismo de Jesus Cristo? Para nos ensinar que o mesmo
se passa no nosso: assim nos chama Deus à nossa pátria celeste e nos convida a
não ter mais nada em comum com a terra. […] E se agora não conseguimos ver os
mesmos sinais, recebemos, no entanto, as mesmas graças, das quais os sinais
eram o símbolo.
Viu-se então uma pomba descer do céu,
indicando tanto a João como ao povo hebreu que Jesus era o Filho de Deus; de
resto, também a nós nos indica que no momento do nosso batismo o Espírito Santo
desce à nossa alma. E se não desce numa forma visível, é porque já não
precisamos que isso aconteça, uma vez que é suficiente a nossa fé. […]
E porque desceu o Espírito Santo na forma
duma pomba? Porque a pomba é mansa e pura, e o Espírito é todo Ele pureza e
mansidão. Para além disso, a pomba relembra-nos um episódio do Antigo
Testamento (Gn 8,10ss.): depois de a terra ter sido submergida pelo dilúvio e
toda a humanidade ter perecido, regressou a pomba a comprovar o fim do
cataclismo, de ramo de oliva na boca, anunciando o restabelecimento da paz
sobre a terra.
Ora, tudo isso constitui uma prefiguração dos tempos futuros.
[…] Depois de tudo estar perdido, surgiram a libertação e a renovação; e, assim
como tudo dantes aconteceu por um dilúvio de chuva, acontece agora por um
dilúvio de graça e misericórdia, e já não é só a um homem que a pomba convida a
sair da arca para repovoar a terra: agora ela atrai todos os homens para o céu,
e em lugar do ramo de oliva traz aos homens a dignidade de filhos de Deus.
São João Crisóstomo – século V
Hoje celebramos:
São Carlos Sezze
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