O
Papa Francisco canonizou no dia 14 de janeiro de 2015 o Padre José Vaz,
sacerdote de origem portuguesa que viveu nos séculos XVII e XVIII. Em Visita
Apostólica ao Sri Lanka, o Papa presidiu à celebração de canonização daquele
que é considerado o missionário daquele país.
São
João Paulo II quando o beatificou há vinte anos afirmou que: “Em
consideração de tudo o que o padre Vaz foi e fez, do modo como o fez e das
circunstâncias nas quais conseguiu realizar a grande obra de salvação de uma
Igreja em perigo, é justo saudá-lo como o maior missionário cristão que a Ásia
jamais teve”.
Segundo nos conta a história, o Cristianismo começou
a espalhar-se no Sri Lanka apenas com a chegada dos portugueses, no século XVI.
Com a autorização do rei de Kotte, foi
erigida uma capela em honra de São Lourenço, onde se celebrou uma Missa
presidida por frei Vicente, capelão dos navegadores. À medida que o acesso ao
país se foi facilitando, os franciscanos foram enviados para a ilha, pelo que
em 1530 já havia alguns religiosos e um pároco, cujo túmulo foi descoberto em
1836. Segundo o ‘Dicionário de História Religiosa de Portugal’, o primeiro
vigário de Ceilão foi o padre Luís Monteiro de Setúbal, que ali viria a ser
enterrado em 1536.
Em 1543, cinco franciscanos enviados pelo rei
D. João III chegaram a Kotte para converter o soberano local, o que viria a
acontecer com o rei Dharmapala em 1551.
Esta conversão abriu caminho ao crescimento
da fé católica, num esforço missionário que contou com a participação de outras
ordens religiosas, como os jesuítas e os dominicanos.
Em meados do século XVII, os holandeses
chegaram à ilha e expulsaram os portugueses, ocupando os seus territórios, ao
que se seguiu a proibição do catolicismo.
É neste contexto que decorreu a ação do padre
José Vaz, vindo de Goa, entrou no Sri Lanka disfarçado para ajudar os
católicos.
José
Vaz nasceu em 21 de abril de 1651 na Goa, na costa oeste da Índia. Quando
menino visitava com frequência o Santíssimo Sacramento. A tradição local diz
que as portas da igreja se abriam para que entrasse e passasse horas diante de
Jesus sacramentado. Em sua cidade natal já o chamavam de santo e era conhecido
por rezar o Santo Rosário enquanto caminhava para a escola ou à Igreja.
Nas
escolas onde esteve aprendeu português e latim, sendo um estudante brilhante.
Seu pai o enviou a Goa para que estudasse na Universidade dos Jesuítas e
posteriormente à Academia de Santo Tomás de Aquino, onde estudou filosofia e
teologia.
O
beato foi ordenado diácono em 1675 e sacerdote em 1676. Em Sancoale onde
iniciou seu ministério abriu uma escola de latim para os futuros seminaristas e
para a educação de outros jovens. Sendo devoto de Nossa Senhora, consagrou-se
como “Escravo de Maria”, tal como se constata em sua “Carta de Escravidão”.
José
Vaz estava muito preocupado pela situação difícil da Igreja no Sri Lanka, onde
os governantes holandeses tinham proibido que os sacerdotes trabalhassem na
ilha. O beato se ofereceu para ir ao Sri Lanka, mas foi enviado a Kanara, atual
Karnataka e Mangalore, Índia.
Ao
retornar a Goa adotou a regra do Oratório fundado por São Felipe Neri junto a
outros sacerdotes indianos e decidiram levar uma vida em comum. Eles se ficaram
conhecidos como os“sacerdotes do Oratório”.
Seu
desejo de ir ao Sri Lanka permanecia e em 1686 partiu da Goa até a Jaffna, na
costa norte do Sri Lanka. Teve que disfarçar-se como pedreiro para que não
fosse preso. Mais adiante faz contato com os católicos às escondidas.
Converteu-se
em um mestre do disfarce fazendo-se de padeiro, servo ou porteiro para atender os católicos sem levantar
suspeitas do governo do Sri Lanka. Como sacerdote, costumava trabalhar durante
as noites, aproveitando a luz da Lua. A seu sobrinho escreveu: “Ser
como a Lua, frente a Jesus, o Sol”. Por este motivo sua iconografia o
representa com o Sol e a Lua.
Quando chegou,
como escravo e mendigo, todos os sacerdotes tinham sido mortos, as igrejas
profanadas ou destruídas, os fiéis dispersos, amedrontados pela ameaça de
morte.
O Padre Vaz chegou mesmo a ser preso. Ajudava
clandestinamente as comunidades católicas, celebrando Missa de noite. Fez uma
tradução do Evangelho para as línguas tâmil e cingalês.
Quando o Padre José Vaz faleceu havia uma
Igreja florescente, com setenta mil católicos fervorosos, quinze igrejas,
quatrocentas capelas, dez presbíteros e numerosos catequistas leigos que se
ocupavam da formação do povo, servindo-se dos manuais que o padre Vaz compusera
em língua local. Este homem franzino, com a santidade de vida e o seu zelo
apostólico, lançou raízes tão profundas que as tempestades vindouras não conseguiriam
extirpar.
Na noite de 15 de Janeiro de 1711, recebendo
o viático, à comunidade oratoriana que lhe pedia uma última lembrança, Vaz
disse: «Recordem-se que não se pode facilmente cumprir no momento da morte
aquilo que foi descuidado durante a vida inteira». E com uma vela acesa
nas mãos, com o nome de Jesus nos lábios, concluiu a sua extenuante
peregrinação terrena.
O missionário do Sri Lanka, como é conhecido,
morreu a 16 de janeiro de 1711 e foi beatificado por São João Paulo II em
janeiro de 1995, também durante uma viagem ao Sri Lanka.
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