Sincero e humilde, ele foi um dos maiores pregadores que
a Espanha já conheceu. Promotor da paz e defensor da justiça na sociedade,
sua defesa dos direitos dos trabalhadores é outro fato marcante em sua vida. A
devoção à Eucaristia marcou todos os aspectos da vida de São João de
Sahagún.
Ele nasceu por volta de 1430 em São Fagondez, hoje
Sahagún, de uma família distinta. Desde bem jovem ele deu sinais de santidade.
João foi fruto de ardentes orações de seus pais depois de
16 anos de infertilidade. Deus ainda abençoou o casal com mais sete crianças.
Seu pai se chamava John Gonzalez de Castrillo e sua mãe Sancia Martinez. Sua
educação inicial foi confiada aos Beneditinos do mosteiro de São Fagondez, sua
cidade natal.
Ainda jovem, seu pai (de acordo com o costume da época)
procurou e conseguiu para ele um benefício eclesiástico que lhe garantiria uma
renda substancial. Isto não estava em seus planos e era contrário às suas
convicções. João renunciou a essa posição confortável e lucrativa pois ele
considerava o benefício como uma oposição aos desígnios de Deus. Sua família
ficou muito desapontada.
Levando em conta seu ideal, ele foi apresentado e
colocado à serviço do bondoso Bispo de Burgos, Afonso de Cartagena, que,
impressionado pelas suas qualidades, continuou a educação de João de Sahagún em
sua própria residência e o ordenou sacerdote em 1445.
O que se seguiu foi um trabalho administrativo na cúria e
uma promessa de uma indicação para cônego. Novamente, João recusou tais
perspectivas de carreira e ficou somente com o trabalho em uma capela, servindo
zelosamente pela salvação das almas. Mas a vida de sacerdote não trouxe total
satisfação ao seu ideal. Nem sequer a promessa de ser cônego o reteve. Ele
buscava serviços que preenchessem melhor todos os seus ideais.
Assim, desejando uma entrega mais completa a Deus e
acreditando que uma melhor compreensão de teologia seria benéfico, obteve
permissão de seu bispo e foi estudar teologia em Salamanca. Ao mesmo tempo em
que prosseguia nos estudos – durando quatro anos -, dedicou-se à pregação. Ele
exerceu seu ministério sagrado na capela da Faculdade de São Bartolomeu, na
paróquia São Sebastião, onde trabalhou por nove anos.
O jovem padre já era visto como um Santo, tão ardente era
sua devoção à Santa Missa. Ainda não satisfeito, ele escolheu entrar na Ordem
dos Agostinianos e seguiu o caminho da santidade através de um profundo amor
pela Eucaristia, por meio da pregação e, principalmente, um incansável promotor
e realizador da paz e defensor dos direitos dos trabalhadores.
Foi em 1463 que ele fez o pedido de admissão e ingressou
no dia 18 de junho do mesmo ano na Ordem de Santo Agostinho, logo depois de ter
doado para um pobre homem metade de suas roupas. Na noite seguinte experimentou
tão grande aumento no amor de Deus que ele se refere a esse fato como sua
conversão. Ele emitiu seus votos no dia 28 de agosto de 1464.
Frei João de Sahagún foi um modelo de religioso e logo
lhe foi confiado importantes cargos na Ordem: mestre de noviços e prior do
convento da cidade de Salamanca, entre outros. João de Sahagún comandava bem,
pois, sabia obedecer como ninguém. Quando ele observava em si mesmo um
pequenino defeito em sua obediência, ele reparava o erro com penitências
extraordinárias.
Cheio de humildade e sinceridade, infatigável pregador,
prosseguiu promovendo a paz, a convivência social, defendendo os direitos dos
humildes e trabalhadores.
Profundamente devoto da Eucaristia, frequentemente quando
oferecia o adorável Sacrifício com tenra piedade, ele se deliciava com a visão
de Jesus na glória e teve doces colóquios com Ele. O inefável êxtase desses
momentos lhe fez passar muito mais tempo celebrando a Eucaristia do que os
outros padres e todos estavam reclamando. Seu Superior então o proibiu de
atrasar as missas daquela maneira.
Como ele tinha o dom de penetrar nos segredos da
consciência, não era fácil enganá-lo. Assim, quem o procurava invariavelmente
acabava por fazer uma boa confissão, que era o primeiro passo para começar a
corrigir os erros e pecados da vida.
Em seus sermões, assim como aconteceu com são João
Batista, ele pregava sem medo a palavra de Deus e denunciava crimes e erros,
mesmo que isso ofendesse poderosos. Isso fez com que ele colecionasse muitos
inimigos.
Durante uma pregação, mostrou-se tão rigoroso contra os
senhores que favoreciam e defendiam os bandidos que perturbavam, maltratavam,
roubavam e que sustentavam os bandos armados, que, embora tivesse guardado a
moderação, o Duque de Alba julgou que tudo aquilo tinha sido dito para ele, e
zangou-se muito. O Duque lhe disse:
- Padre, o Sr. excedeu-se em suas palavras e falou sem
delicadeza.
Frei João respondeu:
- Senhor, para que subo ao púlpito e para que vou pregar?
Para dizer a verdade ou para lisonjear e agradar os ouvintes? Saiba que convém
ao pregador falar a verdade e morrer por ela, repreender os vícios e louvar as
virtudes.
O poder de sua santidade pessoal estava estampado na sua
pregação, o que produziu uma reforma completa na moral em Salamanca. Ele tinha
um dom especial para reconciliar diferenças e foi capaz de terminar com lutas e
disputas entre nobres, na época realidade muito comum e fatal. A coragem
mostrada por São João em reprovar os erros colocou sua vida em perigo.
Um dos contemporâneos dá testemunho do caráter de João de
Sahagún:
Se você me perguntar sobre as ações de frei João em
relação ao pobre e ao afligido, viúvas e crianças exploradas, necessitados e
doentes, eu diria que ele era naturalmente compelido a ajudá-los com palavras e
ações.
Ele era particularmente interessado em liderar a paz e a
harmonia e colocar fim às hostilidades. Morando em Salamanca, onde a cidade
inteira estava dividida em facções, ele teve sucesso em evitar muito
derramamento de sangue.
Devido às constantes iniciativas de paz, os nobres de
Salamanca que eram inimigos entre si assinaram um tratado solene e perpétuo de
paz em 1476.
Certa ocasião, um poderoso nobre, tendo sido corrigido
por João por oprimir os que para ele trabalhavam, enviou dois assassinos para
matá-lo. Mas o aspecto reconhecidamente santo de João, resultado da constante
paz que reinava em sua alma, refletiu em respeito e admiração neles e eles não
puderam executar a ordem dada e humildemente pediram seu perdão. O próprio
mandante, o nobre poderoso, ficou doente, mas, arrependido, recuperou a saúde
por meio de orações do Santo que ele havia desejado matar.
São João foi também muito zeloso em denunciar os erros da
impureza e foi em defesa da santa pureza que ele encontrou sua morte:
Uma senhora de nascimento nobre, mas de vida desregrada,
cujo companheiro de cama o santo havia convertido, preparou a administração de
uma dose fatal de veneno para o santo. Depois de meses de sofrimento terrível,
suportado com paciência exemplar, São João partiu para a casa do Pai no dia 11
de junho de 1479, em Salamanca.
Nos 16 anos como agostiniano ele ganhou a reputação de
grande santidade. Um número grande de milagres se seguiu em sua tumba e
outros lugares, mesmo pela simples evocação de seu nome.
Seu processo de beatificação começou em 1525 e já em 1601
ele foi declarado beato. Ele foi canonizado em 16 de outubro de 1690 pelo Papa
Alexandre VIII. Em arte, ele é representado segurando um cálice com a Hóstia
Sagrada envolta em raios de luz.
A morte dolorosa e a razão pela qual ele sofreu fizeram
com que vários historiadores afirmassem que ele conquistou a coroa do martírio.
Suas relíquias conservam-se na catedral nova de
Salamanca, cidade cheia de lugares cujos nomes recordam as obras do santo em vida
e depois de morto. Com sua morte, João deixou a cidade completamente
transformada e a vida espiritual de seus habitantes renovada de maneira
admirável. São João é honrado como o patrono da cidade e da diocese de Salamanca
Oração
Deus, autor da paz e fonte da caridade, que destes a São
João de Sahagún a graça maravilhosa de pacificar os ânimos; fazei que nós, a
seu exemplo, permaneçamos firmes na caridade e jamais nos separemos do vosso
amor.
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