Um
profundo desejo de plena conformidade com a vontade de Deus também marcou toda
a vida de consagração da Beata Flórida Cevoli, formada na escola espiritual de
Santa Veronica Giuliani. Conduzida pelo Espírito da Verdade, que leva os
crentes a interiorizar a Palavra de Deus transformadora e santificadora de
dentro de sua existência, a nova Beata, em seu escritório de abadessa, aprendeu
a viver com estilo evangélico sua tarefa, como uma verdadeira serva das Irmãs.
Com o seu exemplo arrastou a Ordem das Clarissas à observância generosa da
ordem franciscana, especialmente no que diz respeito à pobreza, austeridade e
simplicidade de vida.
Papa
João Paulo II – Homilia de Beatificação – 16 de maio de 1993
Lucrécia
Helena Cevoli nasceu em Pisa no dia 11 de novembro de 1685, filha do Conde
Curzio e da Condessa Laura da Seta.
Com
18 anos, na primavera de 1703, Lucrécia decidiu entrar no mosteiro das
Clarissas Capuchinhas de Città di Castello. Poucos acreditaram que Lucrécia,
habituada a uma vida cômoda, pudesse superar as austeridades de uma vida ditada
pela Regra de Santa Clara. Todavia, ela transpôs o portal do mosteiro das
capuchinhas de Cittá di Castelo, e não voltaria jamais para trás. No dia 8 de
junho de 1703 iniciou o período de noviciado, em 10 de junho de 1705 emitiu a
profissão solene dos votos e adotou o
nome de Florida.
O
impacto com o mosteiro fora mais duro do que o previsto, as Irmãs pareciam
hostis e a Mestre, a futura Santa, Irmã Verônica Giuliani, dava a impressão de
não querer recebê-la. Florida conseguiu superar aquele terrível momento, porque
sua vocação era autêntica. Soube dar provas de humildade e desejou sinceramente
fazer penitência.
Nos
séculos XVII-XVIII as noviças deviam enfrentar uma disciplina duríssima e por
qualquer coisa podiam ser mandadas embora; a humildade era uma das virtudes
mais inculcadas, e não se hesitava humilhar em publico as noviças. Este
rigoroso caminho ascético não era um fim em si mesmo; nas personalidades mais
puras tinha o efeito de fogo purificador, e queimando as escórias levava as
almas a subir na oração.
Uma
sede de contemplação, nunca extinta, dominou a vida inteira de Irmã Florida,
que se tornava fervorosa sustentadora do mais rigoroso ideal franciscano. E,
contudo, não seria ela marcada pela grandeza de contemplação, porque era mulher
dotada de pulso, hábil e capaz no governo. Uma das testemunhas dizia que “Irmã Verônica era ótima para rezar, Irmã
Florida tinha mais espírito e mais coragem”.
As
Irmãs logo perceberam sua personalidade e lhe confiaram, ainda que jovem, o
encargo de supervisora da disciplina da comunidade. Isso lhe deu a
possibilidade de empreender mudanças: o mosteiro não estava bem de acordo com o
espírito rigoroso de Santa Clara, e uma interpretação branda da regra
facilitava muitas acomodações.
Em
1716, quando Verônica Giuliani foi eleita abadessa, Florida, que no momento
completava 31 anos, lhe foi dada como vigária. E enquanto a abadessa se
dedicava mais ao campo espiritual, voltada às alturas vertiginosas da mais alta
contemplação, a vigária fazia acontecer, de acordo com a madre, a vida
doméstica, encarregando-se das tarefas concretas, enfrentando as pequenas e
grandes dificuldades da vida, cuidando com grande atenção das relações humanas.
Santa
Verônica Giuliani permaneceu como abadessa ao longo de onze anos consecutivos,
isto é, até sua morte, ocorrida em 1727. Sucedeu-a no cargo a Irmã Florida, que
guiou o mosteiro até 1736, continuando o trabalho iniciado. Sem solavancos
violentos, empreendeu com mão segura, forte e suave, uma progressiva mudança na
vida comunitária. Não lhe faltaram contrariedades, mas soube superá-las para
realizar os seus projetos.
Despertava
encanto nas religiosas a coragem e a naturalidade com que a abadessa, criada em
ambiente aristocrático e que com frequência recebia visita de nobres senhoras,
executava os serviços mais humildes da casa.
Após
nove anos de abadessa, foi-lhe confiado o encargo de mestra das noviças,
depois, voltou a ser abadessa, vigária, alternando-se em tais encargos até o
dia de sua morte. De seu sábio governo viveu o mosteiro.
Não
lhe faltaram também os sofrimentos físicos ao longo de vinte anos, mas ela
vivia na calma sem que as demais se dessem conta.
Irmã
Florida favoreceu a introdução da causa de beatificação de Verônica, e foi ela
que decidiu, em 1753, erguer um novo mosteiro na casa dos Giuliani, em
Mercatello.
Em
algumas das suas cartas relativas à construção do Mosteiro em Mercatello, em
1754, vemo-la dando ordens práticas sobre o aproveitamento do prédio antigo. Ao
pároco escrevia, em fevereiro de 1755, reclamando de ter lhe pedido dados
concretos de um certo trabalho: “já passou o Advento há dois meses e passou o
carnaval, e ainda não tenho sequer uma linha do senhor capelão. Mas que é isto?
Estão vivos ou estão mortos?”
Por
ocasião de sua morte, após trinta e sete dias de febre forte, no dia 12 de
junho de 1767, ao se examinar o cadáver verificaram-se alguns sinais
prodigiosos em seu peito testados por um médico presente.
A
causa de sua beatificação foi iniciada em 1838, e em 1910 suas virtudes
heroicas foram aprovadas. Foi beatificada em 16 de maio de 1993 pelo papa João
Paulo II.
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