«Porventura não nos ardia o coração no peito, quando Ele
nos explicava as Escrituras?». Este desejo
ardente de Deus que sentiam os discípulos de Emaús manifesta-se profundamente
em Marcelino Champagnat, que foi um sacerdote conquistado pelo amor de Jesus e
de Maria. Graças à sua fé inabalável, permaneceu fiel a Cristo, mesmo nos
momentos difíceis, num mundo por vezes privado do sentido de Deus. Também nós
somos chamados a haurir a nossa força na contemplação de Cristo ressuscitado,
seguindo o exemplo da Virgem Maria.
São
Marcelino anunciava o Evangelho com coração totalmente ardente. Foi sensível às
necessidades espirituais e educativas da sua época, sobretudo a ignorância
religiosa e as situações de abandono vividas em particular pela juventude. O
seu sentido pastoral é exemplar para os sacerdotes: chamados a proclamar a Boa
Nova, eles devem ser de igual modo para os jovens, que procuram dar sentido à
sua vida, verdadeiros educadores, acompanhando-os ao longo do seu caminho e
explicando-lhes as Escrituras. O Padre Champagnat é também um modelo para os
pais e os educadores, ajudando-os a ter plena esperança nos jovens, a amá-los
com um amor total que favoreça uma verdadeira formação humana, moral e
espiritual.
Marcelino
Champagnat também nos convida a ser missionários, para fazer com que Jesus
Cristo seja conhecido e amado, como fizeram os Irmãos maristas, indo até à Ásia
e à Oceania. Tendo Maria como guia e Mãe, o cristão é missionário e servidor
dos homens. Peçamos ao Senhor a graça de termos um coração ardente como o de
Marcelino Champagnat, para O reconhecer e sermos Suas testemunhas.
Papa
João Paulo II – Homilia de Canonização – 18 de abril de 1999
São Marcelino
Champagnat nasce a 20 de
maio de 1789, em Marlhes, aldeia da França. A Revolução acaba de estourar. Ele
é o nono filho de uma família cristã. Sua educação é essencialmente familiar.
Sua mãe e sua tia religiosa, expulsa do convento pelos revolucionários,
despertam nele fé sólida e profunda devoção a Maria. Seu pai, agricultor e
comerciante, possui instrução acima da média; aberto às idéias novas,
desempenha um papel político na aldeia e na região. Transmite a Marcelino a
habilidade para os trabalhos manuais, o gosto pelo trabalho, o senso das
responsabilidades e a abertura às idéias novas.
Aos 14 anos, um padre o
visita e lhe faz descobrir que Deus o chama à vocação sacerdotal. Quando Marcelino,
de quase nenhuma escolaridade, vai se meter a estudar, "porque Deus o
quer!", o seu ambiente, sabedor de suas limitações, procura dissuadi-lo.
No Seminário Maior de Lião,
tem por colegas João Maria Vianney, futuro cura d'Ãrs, e João Cláudio Colin, que
será o fundador dos Padres Maristas. Junta-se a um grupo de seminaristas que
projeta fundar uma Congregação que abrange padres, religiosas e uma Ordem
Terceira, levando o nome de Maria - a "Sociedade de Maria" - para
cristianizar a sociedade. Impressionado pelo abandono cultural e espiritual das
crianças da campanha, Marcelino sente a urgência de incluir nessa Congregação
Irmãos para a educação cristã da juventude: "Não posso ver uma criança sem
sentir o desejo de fazer-lhe compreender quanto Jesus Cristo a amou". No
dia seguinte de sua ordenação, esses neo sacerdotes vão consagrar-se a Maria,
colocando seu projeto sob sua proteção no santuário de N.S.a de Fourvière.
Marcelino é enviado como
coadjutor na paróquia de Lã Valla. A visita aos doentes, a catequese das
crianças, o atendimento aos pobres, o acompanhamento da vida cristã das
famílias, são as atividades do seu ministério. Sua pregação simples e direta, a
profunda devoção a Maria e seu zelo apostólico, marcam profundamente os
paroquianos. A assistência a um adolescente de 17 anos, às portas da morte e
sem conhecer Deus, o perturba profundamente, impelindo-o a executar logo o seu
projeto.
Apenas 6 meses depois de sua
chegada a Lã Valla, Marcelino reúne seus dois primeiros discípulos: a
Congregação dos Irmãozinhos de Maria, ou Irmãos Maristas, nasce na pobreza e
humildade, na total confiança em Deus, sob a proteção de Maria. Além de
garantir seu ministério paroquial, forma seus Irmãos, preparando-os para a
missão de mestres cristãos, de catequistas, de educadores dos jovens. Vai viver
com eles.
Apaixonado pelo Reino de
Deus, consciente das imensas carências da juventude e educador nato, Marcelino
faz desses jovens camponeses sem cultura apóstolos generosos. Sem tardar abre
escolas. As vocações vêm, e a primeira casa, apesar de aumentada pelo próprio
Marcelino, torna-se logo pequena demais. As dificuldades são numerosas, mas as
populações rurais não cessam de pedir Irmãos para garantir a instrução cristã
das crianças.
Marcelino e seus Irmãos
participam na construção de sua nova casa para abrigar mais de cem pessoas e
que levará o nome de "Nossa Senhora de l'Hermitage ". Em 1825, livre
da função de coadjutor, pode dedicar-se inteiramente à sua Congregação: à
formação e acompanhamento espiritual, pedagógico e apostólico dos seus Irmãos,
à visita das escolas, à fundação de novas obras.
Homem de fé profunda, não
cessa de procurar a vontade de Deus na oração e no diálogo com as autoridades
religiosas e com seus Irmãos. Bem consciente de suas limitações, conta apenas
com Deus e a proteção de Maria, a "Boa Mãe", o "Recurso
Habitual", a "Primeira Superiora". Sua grande humildade, seu senso
profundo da presença de Deus, fazem-lhe superar, com muita paz interior, as
numerosas provações. Reza amiúde o Salmo 126: "Se o Senhor não constrói a
casa", convencido de que a Congregação dos Irmãos é obra de Deus, obra de
Maria. "Tudo a Jesus por Maria, tudo a Maria para Jesus" é sua
divisa.
"Tornar Jesus Cristo
conhecido e amado" é a missão dos Irmãos. A escola é o meio privilegiado
para essa missão de evangelização. Marcelino inculca a seus discípulos o
respeito, o amor às crianças, a atenção aos mais pobres, aos mais ingratos, aos
mais abandonados, especialmente os órfãos. A presença prolongada entre os
jovens, a simplicidade, o espírito de família, o amor ao trabalho, o agir em
tudo do jeito de Maria, são os pontos essenciais de sua concepção educativa.
Em 1836, a Igreja reconhece a Sociedade de Maria e lhe confia a missão da
Oceania. Marcelino pronuncia seus votos como membro da Sociedade de Maria.
Envia três Irmãos com os primeiros Padres Maristas missionários nas ilhas do
Pacífico. "Todas as dioceses do mundo entram em nossos planos",
escreve.
As providências concernentes
à autorização legal de sua Congregação exigem dele muito tempo, energia e
espírito de fé. Não cessa de repetir: "Quando temos Deus a nosso favor,
quando depositamos nele nossas esperanças, nada é impossível".
A doença prevalece sobre sua
robusta constituição. Esgotado pelo trabalho, morre aos 51 anos de idade, a 6
de junho de 1840, deixando aos seus Irmãos esta mensagem: "Que haja entre
vocês um só coração e um só espírito! Que se possa dizer dos Irmãozinhos de
Maria como dos primeiros cristãos: 'Vejam como eles se amam!'".
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