A vida e o ensinamento de
São Tomás de Aquino poderia se resumir em um episódio apanhado pelos biógrafos
antigos. Enquanto o santo, como era seu costume, estava em oração perante o
crucifixo, pelo início da manhã na Capela de São Nicolau, em Nápoles, Domingo
de Caserta, o sacristão da igreja, sentiu desenvolver-se um diálogo. Tomás
perguntava, preocupado, se o que havia escrito sobre os mistérios da fé cristã
estava correto. E o Crucifixo respondeu: “Tu tens falado bem de mim, Tomás. Qual será
tua recompensa?”. E a resposta que Tomás deu é a que nós também, amigos
e discípulos de Jesus, sempre quisemos dizer: “Nada mais que Tu, Senhor”.
A busca da verdade foi
sempre uma grande preocupação de Tomás, que nas meditações, ao longo de sua
vida, buscava resposta. Um dos maiores teólogos da Igreja e grande filósofo, nasceu
na Itália, no Castelo de Roccassecca, num pequeno lugarejo a 30 quilometro de
Nápoles, provavelmente no inicio do ano 1225. Seu pai era um nobre,
Landolfo de Aquino, Conde de Aquino, que vivia no Castelo com sua família
constituída de esposa e cinco filhos, três rapazes e duas moças.
Como era comum naquela
época, Tomás foi enviado a Abadia, pertencente a Ordem Religiosa Beneditina,
com cinco anos de idade, na condição de“oblato” (leigo
que se oferece para serviços numa Ordem Monástica), onde permaneceu por mais de
8 anos.
Mais tarde, Tomás
descobriu nos ensinamentos e orientações do Frei João o carisma Dominicano que
cativou o seu espírito. Depois de diversos encontros e muitos assuntos
abordados, aderiu a Ordem Religiosa. Na continuidade, em 1244, com a idade de
20 anos e contra a vontade da família, entrou oficialmente na Ordem Dominicana,
fundada pelo Padre Domingos de Gusmão, que acabava de ser constituída
oficialmente.
Quando sua mãe, a Condessa
Teodora ficou sabendo da decisão do seu filho, perdeu totalmente o controle
emocional, pois não concordou com a atitude dele e se dispôs a fazê-lo desistir
daquele intento, voltando a Monte Cassino, “nem que fosse à força”. Tomás
ao receber a intimação da sua mãe, e conhecendo bem a força da vontade materna,
que removia montanhas para satisfazer o seu objetivo, fugiu para Paris, a fim
de escapar de sua tirania. Mas, logo no inicio da viagem, foi dominado pelos
seus dois irmãos militares, que vieram buscá-lo para conduzi-lo a presença da
mãe. Ele quis resistir, mas seus irmãos eram muito mais fortes, depois de o
espancarem brutalmente, tentaram e quase conseguiram arrancar o seu hábito
religioso. Ele teve que ficar muito esperto, para não ser despojado de sua
veste dominicana e ficar praticamente sem roupa.
Assim, capturado, o
levaram a presença da mãe. Foram muitos dias de conversa e propostas, mas que
na realidade, resultaram em nada, porque ele não cedeu, queria continuar
Dominicano. Nervosa e quase perdendo a tranquilidade, a mãe mandou que as duas
filhas, usassem de seus argumentos com a finalidade de convencer, a qualquer
preço, o seu irmão “rebelde” a renunciar a Ordem Dominicana.
Tomás também decidiu apresentar os seus fortes argumentos e suas fundamentadas
razões. Resultou numa longa semana de muita conversa e entendimentos entre os
três irmãos. O desfecho desta
longa entrevista foi surpreendente: uma de suas irmãs decidiu se fazer
religiosa, entrou no Convento de Santa Maria de Cápua, onde viveu santamente e
se tornou Abadessa. A outra irmã, embora permanecendo no lar junto à mãe,
buscou acalmar o ambiente, empregando todo o seu esforço para que houvesse paz
na família.
Mas a mãe não queria saber
de muita conversa. Farta de ouvir argumentos com os quais não concordava, tomou
uma medida drástica: mandou encarcerar o Tomás na torre do Castelo,
forçando-o com esta tentativa violenta, a fazê-lo desistir de sua vocação
Dominicana.
Assim, em completa
solidão, Tomás permaneceu por mais de um ano. Pela porta do aposento onde se
encontrava, só chegavam às refeições; ele não podia sair para nenhum lugar.
Mas, sabiamente ele soube aproveitar o seu tempo, dedicando-o aos estudos e a
contemplação do Senhor.
Já havia decorrido um
tempo considerável e Tomás não tinha modificado a sua vontade. Sua mãe e seus
irmãos elaboraram uma trama: com a desculpa de que uma mulher queria
encontrá-lo para se confessar, enviaram-na à torre. Mas era uma prostituta, que
foi contratada para fazê-lo pecar. Era um dia frio e a lareira estava acesa. A
porta se abriu e entrou a moça com um vestido muito justo e um olhar cheio de
sedução. Ele muito ligeiro,
saltou da cadeira, pegou um tição em brasa na lareira e partiu na direção dela,
que não esperou, deu uma rápida meia volta e fugiu como pode, para escapar do
fogo do tição que brilhava nas mãos de Tomás.
Naquele mesmo momento
traçou com o mesmo tição em brasa uma cruz na parede, ajoelhou-se e renovou sua
promessa de castidade.
Descreve a Tradição, que
Deus, vendo o seu esforço e autêntico autodomínio para vencer as forças do
maligno, à noite lhe proporcionaram um magnífico sonho: dois Anjos vieram
visitá-lo e o cingiram com um cordão celestial, dizendo: "Viemos
da parte de Deus e conferir-te o dom da virgindade perpétua, que a partir de
agora será irrevogável".
Nunca mais São Tomás
sofreu qualquer tentação de concupiscência ou de orgulho. Após a sua morte,
quando recebeu o titulo de Doutor
Angélico, não lhe foi dado apenas por ter transmitido a mais alta doutrina,
mas também e, sobretudo, por ter com seu comportamento ilibado.
Em
1244, percebendo que todas as suas tentativas de dissuadir Tomás fracassaram,
Teodora tentou salvar a dignidade da família e arranjou para ele escapasse
durante uma noite pela janela. Ela acreditava que uma fuga secreta da prisão
era menos prejudicial que uma rendição aberta aos dominicanos.
Estudou filosofia em
Nápoles e, ao longo dos estudos, revelou as suas preciosas e consistentes
qualidades. Por essa razão, foi enviado pelos seus superiores a estudar em
Paris, na França. Seu professor Santo Alberto Magno, ficou impressionado com
sua inteligência e com sua sisudez. Percebeu que ele não gostava de “muita
conversa”. E por isso mesmo, os colegas o apelidaram de “boi mudo” (comia
as letras e as ruminava, quieto e calado). Santo Alberto disse sobre ele:
“Quando este boi mugir, o
mundo inteiro ouvirá o seu mugido”.
Deixou Paris em 1248,
acompanhado de seu mestre, e foram para a Alemanha. Dom Alberto foi incumbido
de fundar o “Studium Generale” dos Dominicanos, na cidade de
Colônia, onde Tomás terminou os seus estudos. Em 1252, Tomás de Aquino retornou
a Paris, e obteve licença para lecionar teologia e logo iniciou o seu
magistério.
Foi mestre na Universidade
de Paris (Sorbona), no reinado de Luis IX, e atuou como professor, lecionando
pelo resto da sua vida. Foi convocado pelo Papa Gregório X para participar do
II Concílio Geral de Lyon, na França, mas faleceu a caminho, antes de chegar ao
destino, com apenas 49 anos de idade, no dia 7 de Março de 1274.
Antes de iniciar esta
viagem, a sua saúde já havia se manifestado com problemas, aos quais, ele não
deu a devida importância. Com o tempo, o mal evoluiu. Assim que iniciou a
viagem para participar do Concílio, sua doença forçou-o a se abrigar na Abadia
Cisterciense de Fossanova, nas imediações da capital italiana, onde veio a
falecer, cercado pelo carinho de toda a Comunidade Religiosa.
Sua Obra tornou-se tão
vasta, que só para enumerá-la, com uma pequena explicação, são necessárias
várias páginas. São quase sessenta grandes obras, entre comentários, sumas,
questões e opúsculos. Todavia, sem dúvida, a sua grande Obra é a famosa “Suma
Teológica”.
Sua prodigiosa faculdade
de memorizar lhe permitia reter todas as leituras que havia feito, entre elas a
Bíblia, as obras dos filósofos antigos e dos Padres da Igreja. Todas as oitenta mil citações
contidas em seus escritos brotaram espontaneamente de sua capacidade retentora.
Nunca precisou ler duas vezes o mesmo trecho. Ao
lhe ser perguntado qual era o maior favor sobrenatural que recebera, depois da
graça santificante, respondeu: "Creio que o de ter entendido tudo
quanto li".
Muitas vezes também,
recorreu a Jesus Sacramentado. E diante do Sacrário, passava horas em orações.
Tomás afirmava com segurança, ter aprendido mais desta forma, junto de Deus, do
que em todos os estudos que fizera. Amava a Eucaristia, e este grande amor, o
levou a compor o “Pange Língua” e o “Lauda Sion” para
uma festa de Corpus Christi.
Descrevem os seus
hagiógrafos, que ao receber a Sagrada Eucaristia pela última vez, ele disse:
"Eu Vos recebo, preço
do resgate de minha alma e Viático de minha peregrinação, por cujo amor eu
estudei, eu vigiei, trabalhei, preguei e ensinei. Tenho escrito tanto, e tão
frequentemente tenho discutido sobre os mistérios da Vossa Lei, ó meu Deus;
sabeis que nada desejei ensinar que não tivesse aprendido de Vós. Se o que
escrevi é verdade, aceitai-o como uma homenagem à Vossa infinita majestade; se
é falso, perdoai a minha ignorância. Consagro tudo o que fiz e o submeto ao
infalível julgamento da Vossa Santa Igreja Católica Apostólica Romana, na
obediência à qual estou prestes a partir desta vida."
A Igreja não tardou a
glorificá-lo, elevando-o à honra dos altares em 1323.
Na cerimônia de
canonização, o Papa João XXII afirmou:
"Tomás sozinho
iluminou a Igreja mais do que todos os outros doutores. Tantos são os milagres
que fez, quantas as questões que resolveu".
No Concílio de Trento, as
três obras de referência postas sobre a mesa da assembleia foram: a
Bíblia, os Atos Pontificais e a Suma Teológica. É difícil exprimir o que a
Igreja deve a este seu filho admirável.
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