A festa da
Conversão de São Paulo coloca-nos de novo na presença deste grande Apóstolo,
escolhido por Deus para ser a sua "testemunha
diante de todos os homens" (At 22, 15). Para Saulo de Tarso, o
momento do encontro com Cristo ressuscitado no caminho de Damasco marcou a
mudança decisiva da vida.
Realizou-se
então a sua completa transformação, uma verdadeira conversão espiritual. Num
momento, por intervenção divina, o cruel perseguidor da Igreja de Deus ficou
cego, oscilando na escuridão, mas levando já no coração uma grande luz que o
teria guiado, dali a pouco, para ser um fervoroso apóstolo do Evangelho. A
consciência de que só a graça divina tinha podido realizar uma tal conversão
nunca abandonou Paulo.
Quando já tinha
dado o melhor de si, consagrando-se incansavelmente à pregação do Evangelho,
escreveu com renovado fervor: "tenho
trabalhado mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus, que está
comigo" (1 Cor 15, 10). Incansável como se a obra da
missão dependesse totalmente dos seus esforços, São Paulo foi, contudo, sempre
animado pela profunda persuasão de que a sua força provinha da graça de Deus
que agia nele.
Papa
Bento XVI – 25 de janeiro de 2009
Oração:
Ó Deus, que instruístes o mundo inteiro pela pregação do apóstolo São Paulo, dai-nos, ao celebrar hoje sua conversão, caminhar para vós seguindo seus exemplos, e ser no mundo testemunhas do Evangelho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Por
amor de Cristo, Paulo tudo suportou
“O que é o homem, quão
grande é a dignidade da nossa natureza e de quanta virtude é capaz a criatura
humana, Paulo o demonstrou mais do que qualquer outro. Cada dia ele subia mais
alto e se tornava mais ardente, cada dia lutava com energia sempre nova contra
os perigos que o ameaçavam. É o que depreendemos de suas próprias palavras:
Esquecendo o que fica para trás, eu me
lanço para o que está na frente (cf. Fl 3,13). Percebendo a morte
iminente, convidava os outros a comungarem da sua alegria, dizendo: Alegrai-vos e congratulai-vos comigo (Fl
2,18). Diante dos perigos, injúrias e opróbrios, igualmente se alegra e
escreve aos coríntios: Eu me
comprazo nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições (2Cor
12,10); porque sendo estas, conforme declarava, as armas da justiça,
mostrava que delas lhe vinha um grande proveito.
Realmente, no meio das
insídias dos inimigos, conquistava contínuas vitórias triunfando de todos os
seus assaltos. E em toda parte,
flagelado, coberto de injúrias e maldições, como se desfilasse num cortejo
triunfal, erguendo numerosos troféus, gloriava-se e dava graças a Deus,
dizendo: Graças sejam dadas a Deus que nos fez sempre triunfar (2Cor
2,14).
Por isso, corria ao encontro
das humilhações e das ofensas que suportava por causa da pregação, com mais
entusiasmo do que nós quando nos apressamos para alcançar o prazer das
honrarias; aspirava mais pela morte do que nós pela vida; ansiava mais pela
pobreza do que nós pelas riquezas; e desejava muito mais o trabalho sem
descanso do que nós o descanso depois do trabalho. Uma só coisa o amedrontava e
fazia temer: ofender a Deus. E uma única
coisa desejava: agradar a Deus.
Só se alegrava no amor de
Cristo, que era para ele o maior de todos os bens; com isto julgava-se o mais
feliz dos homens; sem isto, de nada lhe valia ser amigo dos senhores e
poderosos. Com este amor preferia ser o último de todos, isto é, ser contado
entre os réprobos, do que encontrar-se no meio de homens famosos pela
consideração e pela honra, mas privados do amor de Cristo.
Para ele, o maior e único
tormento consistia em separar-se de semelhante amor; esta era a sua geena, o
seu único castigo, o infinito e intolerável suplício.
Em compensação, gozar do
amor de Cristo era para ele a vida, o mundo, o anjo, o presente, o futuro, o
reino, a promessa, enfim, todos os bens. Afora isto, nada tinha por triste ou
alegre. De tudo o que existe no mundo, nada lhe era agradável ou desagradável.
Não se importava com as
coisas que admiramos, como se costuma desprezar a erva apodrecida. Para ele,
tanto os tiranos como as multidões enfurecidas eram como mosquitos.
Considerava como brinquedo
de crianças os mil suplícios, os tormentos e a própria morte, desde que pudesse
sofrer alguma coisa por Cristo.”
São João Crisóstomo
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