A passagem
bíblica favorita de Ana Maria Janer era: “Vinde,
benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde
a criação do mundo!Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com
sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa;estava
nu e me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me”
(Mt 25, 31-46).
“Tu, Senhor, me darás a graça para ser uma
esposa fiel, que te ama muito e te serve na pessoa dos doentes, dos
deficientes”, dizia a Serva de Deus.
No dia 11 de janeiro de
1885, em Talarn, histórica vila situada junto à cidade de Tremp, Ana Maria
Janer Anglarill, pouco antes de entregar sua alma a Deus, expressou seu último
desejo: morrer sobre o solo nu como
penitente por amor a Cristo "que por mim expirou cravado na cruz",
disse a Beata. Terminava assim uma trajetória de provada santidade, de
correspondência fiel ao amor de Deus.
Ana Maria nasceu no dia 18
de dezembro de 1800 em Cervera (Lérida, Espanha). Entrou como Irmã de Caridade
no hospital de Cervera, onde se entregou ao cuidado dos doentes e à educação de
meninas, em momentos especialmente difíceis, marcados pelas chamadas guerras
civis que ensanguentaram a história da Espanha no século XIX.
Em 1833, quando eclodiu a
primeira guerra carlista e o hospital de Castelltort se tornou hospital
militar, “a situação em que se encontrou Madre Janer no campo de batalha não
foi fácil, e embora não tivesse os meios suficientes, soube organizar e
infundir serenidade naquelas pessoas, dar-lhes alívio, consolá-las”, conforme
depoimento de Irmã Cecília. Os feridos de guerra chamavam-na “a mãe” porque
“fazia de tudo para cuidar de seus ferimentos e os ajudava a morrer pacificados
com Deus e consigo mesmos”, disse aquela Irmã.
Mas, em 1836 a junta do
hospital expulsou as Irmãs. Naquele ano o governo liberal decretou a supressão
das ordens religiosas, o confisco dos bens eclesiásticos e a expulsão das
comunidades religiosas das obras sociais e educativas que até então
sustentavam. A História é rica em atropelos deste gênero.
Terminada a guerra, Ana
Maria conheceu o exílio na França até 1844. Em 1849, Ana Maria se ofereceu como
voluntária para trabalhar como Irmã na Casa de Misericórdia de Cervera. Durante
dez anos atendeu amorosamente os órfãos daquela casa, as crianças de famílias muito
pobres, os jovens sem capacitação e os anciãos. Em sua entrega tornava
realidade a presença constante da Igreja de Jesus Cristo na vida dos mais
pobres.
Ao longo da
sua vida, foi amadurecendo e crescendo nela esse amor com que ela mesma se
experimentou amada por Deus, um amor que nunca ficou nela, mas que foi dado e
compartilhado, cada vez com maior radicalidade.
Em 1858, o Bispo de Urgell,
Josep Caixal Estradé, chamou Ana Maria para encarregar-se da direção do
hospital de La Seu de Urgell. Ali, um ano depois, no dia 29 de junho de 1859,
fundou seu próprio Instituto, que em 1860 recebeu a aprovação diocesana; o novo
Instituto se dedicaria à assistência de pobres e doentes, e ao ensino da
infância e da juventude. Numa atividade incansável, Madre Janer fundou
colégios, hospitais e casas de caridade nas dioceses de Urgell, Solsona e
Barcelona.
O período revolucionário
compreendido entre 1868 e 1875 representou um duro golpe para as obras da Madre
Janer. Entre 1874 e 1880 ela enfrentou também outros tipos de lutas e provas em
que manifestou seu grande sentir com a Igreja, seu silêncio e obediência.
Em 1879, Mons. Casañas, novo
Bispo de Urgell, posteriormente nomeado Cardeal, reorganizou a vida do Instituto
e Madre Janer, aos oitenta anos, como merecido reconhecimento foi nomeada
primeira superiora geral. Passou seus últimos anos na casa de Talarn sendo
exemplo de luminosa caridade.
Madre Janer tinha um amor
especial pela cruz. Contemplar Cristo Crucificado se tornou para ela a base que
lhe permitia ser sinal e testemunha clara dAquele que nos amou primeiro,
dAquele que nos ama até dar a própria vida.
Atualmente o
Instituto das Irmãs da Sagrada Família de Urgell está presente na
Espanha, Andorra, Itália, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Colômbia,
México, Peru e Guiné Equatorial.
Madre Janer foi beatificada
no dia 8 de outubro de 2011, durante o pontificado de Bento XVI.
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