Santo Agostinho, relata em seu livro Confissões que quando ele entrou para uma seita, negando a fé cristã, sua mãe negou-se a recebe-lo em sua casa, só voltando a recebê-lo após um sonho no qual sentiu a presença de Deus a conduzi-la para a reconciliação:
“Mas
estendeste tua mão do alto, e arrancaste minha alma deste abismo de trevas,
enquanto minha mãe, tua fiel serva, chorava-me diante de ti muito mais do que
as outras mães costumam chorar sobre o cadáver dos filhos, pois via a morte de
minha alma com a fé e o espírito que havia recebido de ti. E tu a escutaste,
Senhor, tu a ouviste e não desprezaste suas lágrimas que, brotando copiosas,
regavam o solo debaixo de seus olhos por onde fazia sua oração; sim, tu a
escutaste, Senhor. Com efeito, donde podia vir aquele sonho, com que a
consolaste, ao ponto de me admitir em sua companhia e mesa, fato que havia me
negado porque aborrecia e detestava as blasfêmias do meu erro?
Nesse
sonho viu-se de pé sobre uma régua de madeira; e um jovem resplandecente,
alegre e risonho que vinha ao seu encontro, triste e amarga. Este lhe perguntou
a causa de sua tristeza e lágrimas diárias, não por curiosidade, como sói
acontecer, mas para instruí-la; e respondendo-lhe ela que chorava a minha
perdição, mandou-lhe, para sua tranqüilidade, que prestasse atenção e visse por
onde ela estava também estaria eu. Apenas olhou, viu-me junto de si,
de pé sobre a mesma régua. De onde veio este sonho, senão dos ouvidos que
tinhas atentos a seu coração, ó Deus bom e onipotente, que cuidas de cada um de
nós como se não tivesses outro para cuidar, zelando de todos como de cada um!
E
como explicar o que se segue? Contou-me minha mãe esta visão, e querendo-a eu
persuadir de que significava o contrário, e que não devia desesperar de ser
algum dia o que eu era, isto é, maniqueísta, ela, sem nenhuma hesitação, me
respondeu: “Não; não me foi dito: onde ele está ali estarás tu, mas onde tu
estás ali estará ele também”. Livro III, 19-20
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