terça-feira, 26 de agosto de 2014

Beatos Luiz Beltrami Quattrocchi e Maria Corsini Beltrami Quattrocchi

Na história da Igreja foi um acontecimento inédito. Um casal do século XX declarado beato, os filhos presentes na cerimônia de beatificação dos pais, dois deles sacerdotes concelebravam com João Paulo II, tudo isso na mesma Igreja onde cem anos atrás os pais deram-se um ao outro em matrimônio. Estamos falando de Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi, declarados beatos por João Paulo II no dia 21 de outubro de 2001.

A vida desse casal é um sinal vivo do que afirma o Concílio Vaticano II sobre a vocação de todos os fiéis leigos à santidade, especificando que os cônjuges devem procurar esse objetivo seguindo o seu próprio caminho. Para eles a fidelidade ao Evangelho e a heroicidade das virtudes foram relevadas a partir da sua existência como cônjuges e como pais.

Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi nasceram ambos na Itália, ele na Catânia, no dia 12 de janeiro de 1880, ela em Florença, no dia 24 de junho de 1884. Luigi era um brilhante advogado que culminou sua carreira sendo vice-advogado geral do Estado italiano; Maria Corsini, nascida numa família nobre de Florença era professora e escritora, apaixonada pela música. Trabalhou como enfermeira voluntária da Cruz Vermelha durante a guerra da Etiópia e a Segunda Guerra Mundial. Catequista, era também comprometida com várias associações de caridade, como a Ação Católica Feminina.
Os dois se conheceram em Roma e se casaram na Basílica de Santa Maria Maior no dia 25 de novembro de 1905. Receberam com docilidade a graça matrimonial que os levou a santificar-se apoiando-se um ao outro e acolhendo com alegria os frutos do seu amor: quatro filhos, a quem deram afeto, educação e, de forma especial, um testemunho de fidelidade e generosa caridade.
Não eram raras as vezes em que seus filhos os viram acolhendo em casa refugiados da guerra e organizando grupos de “scouts” com jovens dos bairros pobres de Roma durante o pós-guerra.

Dos quatro filhos que tiveram, três seguiram a vida religiosa, Stephania, sua primeira filha, tornou-se monja beneditina e recebeu o nome de Maria Cecília, ambos os filhos sentiram-se chamados ao sacerdócio, Filippo, hoje padre Tarcísio, é padre diocesano de Roma, e Cesare tornou-se monge trapista.
Quando Maria estava grávida de sua última filha viveu um tempo de grande prova. Tendo sido acometida por um problema grave de saúde e por uma gravidez complicadíssima, foi aconselhada pelos médicos a abortar para que ao menos sua vida fosse poupada. A possibilidade de sobrevivência com esse diagnóstico era de 5%, no entanto Maria e Luigi preferiram arriscar e colocaram toda a sua confiança no Senhor. Enrichetta nasceu com saúde e teve uma vida longa, estando inclusive presente na cerimônia de beatificação dos pais.

Em novembro de 1951, aos 71 anos, Luigi faleceu vítima de uma parada cardíaca. Quatorze anos mais tarde, aos 81 anos, Maria faleceu nos braços de Enrichetta, em sua casa nas montanhas. Em 1993, sua filha mais velha, irmã Maria Cecília, se uniu aos pais.

Ao lermos a homilia de João Paulo II no dia da beatificação compreendemos que o segredo da santidade na vida matrimonial consiste em viver a vida ordinária de forma extraordinária. Luigi e Maria, entre as alegrias e preocupações de uma família normal, que os casais conhecem tão bem, souberam realizar uma existência rica de espiritualidade. Viviam a Eucaristia de forma cotidiana, também a devoção à Virgem Maria quando a família, que era consagrada ao Sagrado Coração de Jesus, unida, rezava todas as noites o rosário. Nunca faltavam os momentos de lazer e esporte, gostavam de passar as férias nas montanhas e no mar. Sua casa era sempre aberta aos amigos numerosos e àqueles que batiam em sua porta em busca de alimento.

Maria dizia sobre os filhos: “Educamo-os na fé, para que conhecessem e amassem a Deus”.
Os mesmos recordam que a vida familiar era marcada pelo sentido do sobrenatural. “Um aspecto que caracteriza nossa vida em família – recorda o filho mais velho – era o clima de normalidade que nossos pais haviam suscitado na busca diária pelos valores transcendentes”. “Nunca havia imaginado que os meus pais seriam proclamados santos pela Igreja, mas posso afirmar com sinceridade que sempre percebi a extraordinária espiritualidade deles. Em casa sempre se respirou um clima sobrenatural, sereno, alegre, não careta.”

São João Paulo II e os filhos do casal na cerimônia de beatificação
João Paulo II diz ainda que “Luigi e Maria viveram, à luz do Evangelho e com grande intensidade humana, o amor conjugal e o serviço à vida. Assumiram com responsabilidade total a tarefa de colaborar com Deus na procriação, dedicando-se generosamente aos filhos a fim de os educar, guiar e orientar na descoberta dos seus desígnios de amor. Deste terreno espiritual tão fértil surgiram vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada, que demonstram como o matrimônio e a virgindade, a partir do comum enraizamento no amor esponsal do Senhor, estão intimamente relacionados e se iluminam reciprocamente. Foram cristãos convictos, coerentes e fiéis ao seu próprio batismo; foram pessoas cheias de esperança, que souberam dar o justo significado às realidades terrenas, tendo os olhos e o coração postos sempre na eternidade. Fizeram da sua família uma autêntica igreja doméstica, aberta à vida, à oração, ao testemunho do Evangelho, ao apostolado social, à solidariedade com os pobres, à amizade”.


O testemunho de vida de Luigi e Maria nos confirma que o caminho de santidade percorrido como casal é possível e belo, é caminho de felicidade, mesmo em meio às dores e provações do dia-a-dia.


Um comentário:

  1. "Viver a vida ordinária de forma extraordinária!"

    Sensacional!

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