Os novos santos
apresentam-se hoje diante de nós como verdadeiros discípulos do
Senhor e testemunhas da sua Ressurreição.
Santa Genoveva Torres foi
instrumento da ternura de Deus para as pessoas solitárias e necessitadas de
amor, de conforto e de cuidados no seu corpo e no seu espírito. A nota
característica que estimulava a sua espiritualidade era a adoração reparadora
da Eucaristia, fundamento a partir do qual desenvolvia um apostolado cheio de
humildade e simplicidade, de abnegação e caridade.
Papa João Paulo II - Homilia de Canonização - 04 de maio de 2003
Genoveva era natural de
Almenara (Castellón), onde nasceu em 3 de Janeiro de 1870. Recebeu o Batismo no
dia seguinte. Órfã de pai quando tinha um ano de idade, aos oito perdia a sua
mãe. Estas experiências marcariam a sua vida, mas nem por isso deixava de
mostrar um caráter alegre, forjado desde muito cedo na virtude da fortaleza.
Teve de se ocupar dos cuidados da casa, onde vivia com seu irmão, o que a
ajudou a amadurecer a sua personalidade e responsabilidade de adulta prematura.
Não pôde frequentar muito
tempo a escola, mas não se descuidou da catequese. Em 1877 recebeu a
Confirmação, fez a sua primeira Comunhão sem o trajo habitual, mas não foi isso
que a impediu de receber Jesus na simplicidade do seu coração, que lhe valeu um
amor profundo à Eucaristia.
Leu livros de caráter
espiritual deixados em casa por sua mãe: num deles aprendeu que devia
fazer sempre a vontade de Deus, máxima que permaneceu com ela ao longo da sua
vida.
O trabalho, fome e poucos cuidados de saúde acarretaram-lhe um tumor numa perna que, por causa da gangrena, teve de ser amputada, quando ela tinha apenas treze anos. Foi operada em sua casa, com cuidados rudimentares, amputaram-lhe a perna pela coxa, o que lhe trouxe dificuldades para toda a vida. Todos esperavam a sua morte, mas refez-se na saúde e voltou ao trabalho doméstico, acompanhada pelas muletas, companheiras para o resto da vida.
Foi internada no Orfanato
"Casa de Misericórdia" de Valência, onde mostrou a sua devoção à
Eucaristia, Coração de Jesus, Virgem Maria e Santos Apóstolos. Ajudada pelo
Capelão, fez grandes progressos na sua vida espiritual, o que a levou a pedir a
entrada nas Carmelitas da Caridade, que orientavam a casa. Não foi admitida
pela sua deficiência; e começou a querer descobrir qual seria
a vontade de Deus a seu respeito.
Sentiu a dificuldade em que
estavam muitas mulheres: a solidão. Pensou fundar um Instituto religioso
que respondesse a essa necessidade. Começou com duas companheiras, recebendo em
casa diversas pessoas necessitadas. Viviam do seu trabalho de bordados e
costura. Novas casas foram precisas, porque a necessidade era maior do que
parecia. Ao mesmo tempo, promoveu vigílias de adoração eucarística noturna.
No entanto, a sua vida
parecia uma peregrinação no deserto, buscando sempre a vontade de Deus, que
aceitava com firmeza. E em 2 de Fevereiro de 1911, fundava a primeira Casa, que
seria o berço das Irmãs do Sagrado Coração de Jesus e dos Santos Anjos, com o
carisma e a missão de "aliviar a
solidão das pessoas que, por diversas circunstâncias, vivem sós e necessitadas
de carinho, de consolo, de amor e de cuidados no seu corpo e no seu
espírito".
Genoveva foi nomeada Diretora.
Não queria somente "Casas",
mas "Lares", para que as pessoas sentissem menos dificuldades e maior
afeto pessoal.
A sociedade foi ereta como
"Pia União" em 1912, com o primeiro regulamento em 1914. As Casas
multiplicaram-se em várias cidades da Espanha e, em 1925, a Pia União foi
reconhecida como Instituto religioso de direito diocesano; Madre Genoveva e
dezoito religiosas emitiram os votos perante o Bispo diocesano de Saragoça,
tendo Genoveva sido eleita Superiora-Geral. Pio XII aprovaria o Instituto como
religioso de direito pontifício em 1953.
Sofreram com a perseguição
religiosa da república e guerra civil, mas Madre Genoveva a todas incutia paz e
esperança. Protegeram muitas pessoas nas suas casas, entre religiosos e
seculares.
Quando em 1954 deixou o seu
cargo de Superiora, soube aceitar o seu ser de simples religiosa, sempre
obediente à nova Madre-Geral. Todas as
casas começavam pelo Sacrário, porque, dizia: "estando Jesus em
casa, nada temo". Em todas soube inculcar uma característica da
sua espiritualidade: a adoração-reparação da Eucaristia, que havia de se
desenvolver em três notas: espírito de humildade e simplicidade que busca
somente a Deus em todas as coisas, espírito de obediência com a entrega do
juízo próprio à vontade de Deus nas disposições dos superiores e espírito de
caridade, que gera nas Irmãs o ardor apostólico pela glória de Deus e a salvação
das almas.
Repetia sem cessar nos seus
escritos a palavra "amor": "Que
somente o amor me impulsione a trabalhar",... "Deus merece ser
servido com fidelidade e amor"; "o amor nunca diz: basta".
Faleceu em Saragoça em 5 de
Janeiro de 1956, aos oitenta e seis anos de idade. O povo depressa começou a
chamá-la o "Anjo da solidão".
Hoje, presentes na Espanha, na Itália, no México e Venezuela, as suas Irmãs
trabalham na catequese, casas de Exercícios espirituais, evangelização nas
paróquias e escolas.
João Paulo II beatificou-a
em Roma, no dia 29 de Janeiro de 1995 e foi canonizada pelo mesmo
Papa em 04 de maio de 2003.
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