Durante esta missa recordamos
uma pessoa muito especial, uma daquelas pessoas felizes que guardavam as vias
da Sabedoria Eterna e, portanto, encontraram a vida e a graça obtida a partir do Senhor.
Quarenta e cinco
anos atrás, aqui, em Bialystok, morreu a serva de Deus Boleslava Lament,
fundadora das Irmãs Missionárias da Sagrada Família; e que hoje será beatificada.
Deus chamou esta filha da cidade de Lowicz para fundar instituições de caridade
educacionais e outros centros de assistência espiritual na distante Petersburg,
Mohylew, Zytomierz, e depois da Primeira Guerra Mundial, especialmente na terra
de Pinsk, Bialystok e Vilnius.
Mandava à frente a
sua obra mesmo com a constante oposição, duas vezes viveu a perda total do patrimônio
da congregação, muitas vezes ela e suas irmãs para trabalhavam morrendo de fome
e sem casa. Nesses momentos ela usou para confortar-se o lema familiar de
espiritualidade inaciana: "Tudo
para a maior glória de Deus"
Os últimos anos de
sua vida passou paralisada, sofrendo com muita paciência e imersa na oração.
Durante toda a sua vida foi distinguida por uma particular sensibilidade para a
miséria humana, ela se preocupou especialmente com o destino das minorias
sociais, das pessoas empurradas para a marginalidade ou mesmo no mundo do
crime.
Com profundo
sentido de responsabilidade para toda a Igreja, Boleslava viveu a dolorosa
ruptura da unidade da Igreja. Ela mesma experimentou várias divisões, e até
mesmo os ódios nacionais e confessionais tornadas ainda mais profundas pelas divisões
políticas. Por isso, o principal objetivo de sua vida, e da Congregação que
fundou, era a unidade da Igreja, aquela unidade pela qual Cristo orou na Última
Ceia na Quinta-feira Santa: "Pai
Santo, guarda em teu nome os que você me deu para que eles sejam um, como nós
somos um" (Jo 17, 11).
Madre Lament serviu
à causa da unidade, especialmente onde a divisão se distinguia por uma
particular intensidade. Nada poupou, a fim de fortalecer a fé e acender o amor por
Deus, a fim de contribuir para a aproximação mútua entre católicos e ortodoxos,
"porque todo mundo - como disse – nos
queremos bem e formamos um." Trabalhava nela uma graça especial da
Divina Providência em favor da unidade da Igreja, especialmente nos territórios
orientais. Muito antes do Concílio Vaticano II se tornou a inspiração para o
ecumenismo na vida cotidiana através do amor.
Papa
João Paulo II – Homilia de beatificação – 05 de junho de 1991
Primeira dos oito
filhos do casal Martino Lament e Lúcia Cyganowska, Boleslava Lament, nasceu em
3 de julho de 1862 em Lowicz, Polônia.
Durante sua
infância viu com dor a morte de suas irmãzinhas Helena e Leocádia, e do pequeno
Martino; era um tempo em que a mortalidade infantil dizimava as crianças,
fazendo com que as famílias numerosas perdessem muitos de seus membros. A
pequena Boleslava foi marcada irremediavelmente por estas dolorosas
experiências.
Depois dos cursos
elementar e colegial, Boleslava foi para Varsóvia onde conseguiu o diploma de
modista em uma escola de artes e profissões; de volta a Lowicz abriu, junto a
sua irmã Estanislava, uma casa de modas, enquanto vivia uma intensa vida
espiritual em seu interior.
Em 1884, aos 22
anos, decidiu entrar na Congregação da Família de Maria, que estava se
organizando em Varsóvia na clandestinidade por causa das perseguições
czaristas.
Como religiosa,
distinguiu-se pelo dom da oração, do recolhimento, da seriedade e da fidelidade
no cumprimento de seus deveres. Depois do noviciado e da profissão dos votos
simples, trabalhou como mestra de costura e educadora em muitas Casas da
Congregação, abertas no território do império russo.
Mas depois de nove
anos, antes de pronunciar os votos solenes, teve uma profunda crise que a fez
sentir-se insegura de sua vocação naquela congregação, por isto a deixou e
voltou para sua casa em Lowicz, com a intenção de entrar em um convento de
clausura.
Aconselhada por seu
confessor, optou pelas obras de assistência aos sem-teto, atividade que também
continuou em Varsóvia, quando a família mudou-se para lá. Para ajudar nos
gastos familiares, abriu uma casa de modas com sua irmã Maria.
Logo lhe confiaram
a direção de uma hospedagem para os sem-teto, onde também se preocupou em por
em ordem a vida ética e religiosa de seus socorridos. Ela os preparava para
receber os Sacramentos, visitava os doentes em suas pobres casas ou nos
refúgios, cuidava das crianças.
Em 1894, uma
epidemia de cólera atingiu seu pai, colocando sobre seus ombros outras
responsabilidades familiares; levou consigo sua mãe e seu irmão Estevão, que
era aluno do colégio em Varsóvia e que desejava ser sacerdote.
Ingressou na Ordem
Terceira Franciscana onde conheceu o Beato Honorato Kozminski (1829-1916),
frade capuchinho, fundador de diversas congregações religiosas que trabalhavam
na clandestinidade por causa dos acontecimentos políticos que afetavam a
Polônia naqueles tempos.
Em 1900, uma vez
mais a morte golpeou sua família: aos pés do caixão de seu irmão Estevão,
Boleslava Lament prometeu voltar à vida de religiosa. Dois anos depois o Pe.
Honorato apresentou-a a uma senhora chegada da Bielorrússia, que buscava
religiosas para dirigir a Ordem Terceira e um centro educativo em Mogilev,
cidade junto ao Rio Dnieper.
Boleslava
consciente de todas as dificuldades que enfrentaria, aceitou a tarefa e em 1903
partiu para Mogilev, uma cidade de cerca de 40.000 habitantes. No início morou
com Leocádia Gorczynska, que dirigia uma oficina de costura, para ensinar ali
essa profissão às meninas das famílias pobres; depois Boleslava alugou uma casa
de madeira para convertê-la em sua casa de modas.
Admirada com a
laboriosidade de Boleslava, Leocádia Gorczynska decidiu ir viver com ela; em
seguida juntou-se a elas Lúcia Czechowska. Neste ponto Boleslava começou a
pensar em fundar uma Congregação, rigorosamente religiosa, entregue ao
apostolado entre os ortodoxos.
Com a ajuda do
Padre Félix Wiecinski, que contribuiu diretamente com a fundação, em outubro de
1905 as três mulheres começaram a nova congregação, chamada inicialmente
Sociedade da Sagrada Família, mas que em seguida mudou o nome para Congregação
das Irmãs Missionárias da Sagrada Família. Boleslava foi sua primeira superiora.
No outono de 1907,
Boleslava mudou-se para Petersburgo com as seis monjas que então formavam a
comunidade, onde desenvolveu um ampla atividade educativa, dedicada sobretudo
aos jovens, e em 1913 estendeu sua atividade à Finlândia, abrindo um colégio
para meninas em Wyborg.
Em Petersburgo
empreendeu uma intensa atividade catequética, educativa e assistencial nos
bairros mais pobres, se esforçou para criar bom relacionamento entre as alunas
e as famílias de diferentes nacionalidades e religiões.
Como consequência
das dificuldades geradas pela 1ª. Guerra Mundial e o Movimento Bolchevique que
tomou o poder na Rússia em outubro de 1917, Boleslava foi obrigada a deixar a
Rússia em 1921 e voltar para a Polônia. Tudo isto produziu enormes perdas
materiais, também na Polônia; a Congregação vivia pobremente, mas Madre
Boleslava Lament, com sua grande fé, se encomendou totalmente à vontade de Deus
e paulatinamente aquilo foi sendo superado.
Durante alguns
meses Madre Boleslava dirigiu o trabalho das monjas em Wolynia, em 1922 fundou
uma nova Casa na Pomerânia, na Polônia oriental, onde a população era pobre e a
maior parte de religião ortodoxa.
A partir de 1924,
começou a abrir outras Casas na arquidiocese de Vilna e na diocese de Pinsk; em
1935 já existiam 33 Casas espalhadas por toda Polônia e uma em Roma.
Em 1925, Madre
Boleslava foi a Roma para conseguir a aprovação pontifícia de sua Congregação,
mas não a conseguiu por falta de clareza sobre as tarefas das monjas, divididas
em dois ramos: apostolado e ensino e direção doméstica das Casas.
Em 1935, Madre
Boleslava Maria Lament decidiu renunciar ao cargo de Superiora Geral por graves
motivos de saúde, e num acordo com a nova Superiora se retirou em Bialystok,
onde, embora idosa e gravemente doente, se dedicou a abrir escolas, um hospital
para mulheres sozinhas e um refeitório para os desempregados.
A II Guerra
Mundial gerou novas dificuldades para a idosa Madre Boleslava, incluindo a
ameaça nazista; foi obrigada a mudar a forma de atuar, adaptando-se às
necessidades da época. Em 1941 foi atacada pela paralisia e se dedicou a uma
vida mais ascética, transmitindo preciosos conselhos às suas irmãs de hábito.
Morreu santamente
em Bialystok em 29 de janeiro de 1946, aos 84 anos; foi levada para o convento
de Ratow e enterrada na cripta da Igreja de Santo Antônio.
A Congregação das
Irmãs Missionárias da Sagrada Família está difundida na Polônia, Rússia,
Zâmbia, Líbia, EUA e Itália.
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