quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

04 de janeiro - Santa Elizabeth Ann Seton

Do seio da aristocracia anglicana norte-americana, a Providência chama uma mulher para mudar os rumos da educação nos Estados Unidos. Ela funda uma congregação sobre a rocha inabalável da Eucaristia, à sombra da qual florescem os carismas e se solidificam as obras de Deus. Elizabeth Ann Seton foi colhida numa situação muito particular. De religião anglicana, casada com um rico comerciante e tendo cinco filhos, nada parecia indicar os caminhos para os quais a Providência ia chamá-la. Mas de sua correspondência à graça dependeriam milhares de almas e, em certo sentido, um país inteiro. E ela disse: "sim!"

Elizabeth Ann Bayley nasceu em 28 de agosto de 1774. O seu pai, Richard Bayley, era um cirurgião anglicano de grande reputação educado na Inglaterra; foi o primeiro professor de anatomia do Columbia College. A mãe de Elizabeth, Catarina Charlton, era filha de um ministro episcopaliano da Igreja de Santo André, em Staten Island. Tiveram três filhos: Maria Madalena, Elizabeth Ana e Catarina Josefina, segundo a ordem de nascimento.

Quando Elizabeth tinha dois anos de idade a declaração da independência dos EUA foi assinada e durante sua infância a Revolução Americana estourou. A guerra não lhe tinha custado grande perda financeira e nos dias de juventude, Elizabeth vivia num grande conforto.
Os sofrimentos de Elizabeth começaram quando ela perdeu a sua mãe, quando ela não tinha ainda três anos de idade. Com as filhas para cuidar e fazendo o papel de pai e de mãe por um ano, Dr. Bayley casou-se com Carlota Amélia Barclay. Do novo matrimônio nasceram mais sete filhos. A pequena enteada era desprezada pela madrasta, o que lhe fazia sentir sobremaneira a falta da mãe. Também o pai, absorvido por serviços e pesquisas médicas, não conseguia retribuir os carinhosos sentimentos de sua afetuosa filha.
Por tais circunstâncias, Elizabeth, aos oito anos de idade, foi enviada à fazenda de um tio paterno, para aí viver em companhia de seus primos. Esse período passado no ambiente tranquilo do campo determinou a formação de seu caráter contemplativo e decidido.

Aos dezesseis anos, Elizabeth voltou para Nova York. Bela, vivaz, fluente em francês, uma excelente música e uma talentosa dama, Elizabeth tornou-se uma presença popular em festas e bailes. 
Elizabeth era muito religiosa e usava um pequeno crucifixo em seu pescoço e se deliciava com a leitura das Escrituras, especialmente os Salmos, o que ela fez até a sua morte. 
Quando Elizabeth tinha dezenove anos casou-se com William Magee Seton, um rico comerciante nova-iorquino. Em seguida, habitaram na elegante Wall Street. Sua cunhada, Rebeca Seton, era ‘a amiga de sua alma’, e como elas gostavam de fazer obras de caridade, ficaram conhecidas como “as irmãs protestantes de caridade”.
Problemas de negócios culminaram com a morte de seu sogro em 1798. Deste momento em diante Elizabeth e seu esposo tornam-se o sustentáculo da órfã família Seton.

Em 1803, William Seton foi acometido de uma tuberculose e o casal tentou fazer um tratamento com uma viagem à Itália. Por causa desta viagem, ele vendeu todos os pertences de luxo de sua casa. Somente sua filha primogênita, Ana Maria, os acompanhou nesta viagem à Livorno, onde os irmãos Filicci, amigos de negócios de William, residiam. As outras crianças do casal, William, Ricardo, Rebeca e Catarina, foram deixados aos cuidados de Rebeca Seton.
O esforço de Elizabeth para obter a saúde de seu amado esposo foi descrito em seu diário de viagem. Entretanto, uma quarentena, seguida pela deterioração completa da saúde de William Seton, levou-o à morte em 27 de dezembro de 1803, na cidade de Pisa, aos 37 anos de idade.

Aceitando um convite da família Filicci, decidiu passar um tempo na Itália. No convívio com esta família, e visitando as igrejas italianas, Elizabeth começou a ver a beleza da Fé Católica. Após a doença de sua filha e dela própria, Elizabeth embarcou para casa acompanhada do Sr. Antonio Filicci, aportando em Nova York no dia 3 de junho de 1804. A ‘amiga de sua alma’, Rebeca Seton, faleceu no mês de julho, logo após a sua chegada.

Um tempo de grande perplexidade espiritual começou para Elizabeth. O Sr. Filicci lhe apresentava os esplendores da verdadeira religião. Logo ele conseguiu um encontro entre Elizabeth e o Bispo católico de Nova York. O Sr. Filicci escreve também para o Bispo Carroll. Elizabeth por seu lado rezava para conseguir alguma luz.

Numa quarta-feira, 14 de março de 1805, ela foi recebida na Igreja Católica pelo Padre Matthew O’Brien, na Igreja de São Pedro, em Nova York. No dia 25 de março seguinte, ela recebeu a sua Primeira Comunhão com extraordinário fervor. Tinha agora um grande interesse por este Sacramento, que em seus tempos de anglicana lhe faltava.

Ela bem compreendia a tempestade que sua conversão levantaria entre seus parentes e amigos protestantes, no momento em que ela mais precisava de seu socorro e apoio. Ela perdera o pouco da fortuna de seu esposo, e muitos de seus numerosos parentes poderiam ter proporcionado um sustento para seus filhos, se não tivesse surgido a barreira da sua conversão. Mesmo assim ela ficou firme em sua fé.

Em janeiro de 1806, Cecília Seton, a mais jovem cunhada de Elizabeth, ficou gravemente enferma e pediu para ver a ‘condenada convertida’. Então Elizabeth foi vê-la e tornou-se uma visita constante. Cecília Seton revelou desejar tornar-se católica. Quando a decisão de Cecília foi conhecida, Elizabeth foi ameaçada de expulsão do Estado de Nova York. Após sua recuperação, Cecília fugiu para junto de Elizabeth, a fim de ser recebida na religião católica.

Seus dois filhos foram enviados pelos Filicci ao Georgetown College. Elizabeth esperava encontrar algum refúgio em algum convento no Canadá, onde ela poderia lecionar para sustentar suas três filhas. O Bispo Carroll não aprova e ela tem que abandonar esse plano. O Padre Dubourg, do Seminário de Santa Maria, de Baltimore, Maryland, encontrou-a em Nova York e sugeriu abrir uma escola para moças naquela cidade.

Depois de grande demora e privações, ela e suas filhas chegam à Baltimore na Festa de Corpus Christi de 1808. Seus filhos foram trazidos para Baltimore para estudar no St. Mary’s College; ela abre uma escola próxima à capela do Seminário de Santa Maria.

Numa Quarta-feira de Cinzas, quando entrava na modesta igreja católica de São Pedro, de Baltimore, exclamou: “Ó meu Deus, deixa-me descansar aqui!” Ela podia então assistir às Missas e comungar diariamente.
A sua vida de ascese, vivida desde sua estadia na Itália, era pelo menos praticável agora: era praticamente a de uma religiosa e sua veste fora inspirada nas roupas utilizadas por certas freiras italianas.

Cecília Conway, da Filadélfia, que tinha programado ir à Europa para satisfazer sua vocação religiosa, se junta a ela. Mais tarde outras postulantes chegariam. Entrementes, a pequena escola tem todos os alunos que pode acomodar.
O Sr. Cooper, um convertido e seminarista do Estado da Virgínia, ofereceu US$ 10.000 para Elizabeth fundar uma instituição para ensinar crianças pobres.
Como uma primeira medida para a formação da futura comunidade religiosa, Elizabeth fez voto de pobreza, de castidade e de obediência privadamente, com o Arcebispo Carroll.

Uma fazenda foi comprada em Emmitsburg, a duas milhas de distância do Sr. Mary’s College. Enquanto isto, Cecília Seton e sua irmã Harriet juntam-se a Elizabeth, em Baltimore. Em junho de 1808 a comunidade religiosa se transferiu para Emmitsburg para dar início a uma nova instituição.

O grande fervor e a mortificação de Madre Seton, imitado por suas irmãs, fez com que os inúmeros sofrimentos da nova comunidade se tornassem luminosos.
Em dezembro de 1809, Harriet Seton, que fora recebida na Igreja, falece em Emmitsburg; e Cecília Seton morre no ano seguinte, no mês de abril.
Em 1810 a comunidade solicita ao Bispo Flaget que obtenha a Regra das Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo. Três destas irmãs francesas foram indicadas para ensinar a jovem comunidade a trilhar nas vias e no espírito de São Vicente de Paulo, mas Napoleão proibiu-as de deixar a França.

Com algumas modificações a Regra foi aprovada pelo Arcebispo Carroll em janeiro de 1812 e finalmente adotada. Contra sua vontade e tendo que cuidar de seus filhos, Elizabeth foi eleita superiora.
Muitas se juntaram à comunidade. A filha de Madre Seton, Ana Maria, morre durante o noviciado, mas foi-lhe permitido fazer os votos em seu leito de morte.

Madre Seton e dezoito irmãs fazem os votos em 19 de julho de 1813. O fervor da comunidade ganhou a admiração de todos. A escola para jovens prosperou e dava sustento para as irmãs se dedicarem aos pobres.  Em 1814 foram convidadas para cuidar de um asilo-orfanato na Filadélfia; em 1817 foram enviadas para Nova York.

Na noite de sua morte, Elizabeth, ela mesma, começou as orações para a sua morte e uma das irmãs, sabendo que ela amava a língua francesa, rezou o Glória e o Magnificat em francês com ela. Elizabeth entregou sua alma a Deus aos 46 anos de idade, nas primeiras horas do dia 4 de janeiro de 1821. Suas últimas palavras foram “sejam filhas da Igreja” último conselho dado às suas seguidoras.

Em 1880 o Cardeal Gibbons deu início ao processo de sua canonização. Elizabeth Ana Seton foi beatificada em 1963 e elevada aos altares na Basílica de São Pedro em 14 de setembro de 1975.


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