Do seio da aristocracia anglicana
norte-americana, a Providência chama uma mulher para mudar os rumos da educação
nos Estados Unidos. Ela funda uma congregação sobre a rocha inabalável da
Eucaristia, à sombra da qual florescem os carismas e se solidificam as obras de
Deus. Elizabeth
Ann Seton foi colhida numa situação muito particular. De religião anglicana,
casada com um rico comerciante e tendo cinco filhos, nada parecia indicar os
caminhos para os quais a Providência ia chamá-la. Mas de sua correspondência à
graça dependeriam milhares de almas e, em certo sentido, um país inteiro. E ela
disse: "sim!"
Elizabeth Ann Bayley nasceu em 28 de agosto
de 1774. O seu pai, Richard Bayley, era um cirurgião anglicano de grande
reputação educado na Inglaterra; foi o primeiro professor de anatomia do
Columbia College. A mãe de Elizabeth, Catarina Charlton, era filha de um
ministro episcopaliano da Igreja de Santo André, em Staten Island. Tiveram três
filhos: Maria Madalena, Elizabeth Ana e Catarina Josefina, segundo a ordem de
nascimento.
Quando Elizabeth tinha dois anos de idade a
declaração da independência dos EUA foi assinada e durante sua infância a Revolução
Americana estourou. A guerra não lhe tinha custado grande perda financeira e
nos dias de juventude, Elizabeth vivia num grande conforto.
Os sofrimentos de Elizabeth começaram quando
ela perdeu a sua mãe, quando ela não tinha ainda três anos de idade. Com as
filhas para cuidar e fazendo o papel de pai e de mãe por um ano, Dr. Bayley
casou-se com Carlota Amélia Barclay. Do novo
matrimônio nasceram mais sete filhos. A pequena enteada era desprezada pela
madrasta, o que lhe fazia sentir sobremaneira a falta da mãe. Também o pai,
absorvido por serviços e pesquisas médicas, não conseguia retribuir os
carinhosos sentimentos de sua afetuosa filha.
Por tais circunstâncias, Elizabeth, aos oito
anos de idade, foi enviada à fazenda de um tio paterno, para aí viver em
companhia de seus primos. Esse período passado no ambiente tranquilo do campo
determinou a formação de seu caráter contemplativo e decidido.
Aos
dezesseis anos, Elizabeth voltou para Nova York. Bela, vivaz, fluente em
francês, uma excelente música e uma talentosa dama, Elizabeth tornou-se uma
presença popular em festas e bailes.
Elizabeth era muito religiosa e usava um
pequeno crucifixo em seu pescoço e se deliciava com a leitura das Escrituras,
especialmente os Salmos, o que ela fez até a sua morte.
Quando Elizabeth tinha dezenove anos casou-se
com William Magee Seton, um rico comerciante nova-iorquino. Em seguida,
habitaram na elegante Wall Street. Sua cunhada, Rebeca Seton, era ‘a amiga de
sua alma’, e como elas gostavam de fazer obras de caridade, ficaram conhecidas
como “as irmãs protestantes de caridade”.
Problemas de negócios culminaram com a morte
de seu sogro em 1798. Deste momento em diante Elizabeth e seu esposo tornam-se
o sustentáculo da órfã família Seton.
Em 1803, William Seton foi acometido de uma
tuberculose e o casal tentou fazer um tratamento com uma viagem à Itália. Por
causa desta viagem, ele vendeu todos os pertences de luxo de sua casa. Somente
sua filha primogênita, Ana Maria, os acompanhou nesta viagem à Livorno, onde os
irmãos Filicci, amigos de negócios de William, residiam. As outras crianças do
casal, William, Ricardo, Rebeca e Catarina, foram deixados aos cuidados de
Rebeca Seton.
O esforço de Elizabeth para obter a saúde de
seu amado esposo foi descrito em seu diário de viagem. Entretanto, uma
quarentena, seguida pela deterioração completa da saúde de William Seton,
levou-o à morte em 27 de dezembro de 1803, na cidade de Pisa, aos 37 anos de
idade.
Aceitando um convite da família Filicci,
decidiu passar um tempo na Itália. No convívio com esta família, e visitando as
igrejas italianas, Elizabeth começou a ver a beleza da Fé Católica. Após a
doença de sua filha e dela própria, Elizabeth embarcou para casa acompanhada do
Sr. Antonio Filicci, aportando em Nova York no dia 3 de junho de 1804. A ‘amiga
de sua alma’, Rebeca Seton, faleceu no mês de julho, logo após a sua chegada.
Um tempo de grande perplexidade espiritual
começou para Elizabeth. O Sr. Filicci lhe apresentava os esplendores da
verdadeira religião. Logo ele conseguiu um encontro entre Elizabeth e o Bispo
católico de Nova York. O Sr. Filicci escreve também para o Bispo Carroll.
Elizabeth por seu lado rezava para conseguir alguma luz.
Numa
quarta-feira, 14 de março de 1805, ela foi recebida na Igreja Católica pelo
Padre Matthew O’Brien, na Igreja de São Pedro, em Nova York. No dia 25 de março
seguinte, ela recebeu a sua Primeira Comunhão com extraordinário fervor. Tinha
agora um grande interesse por este Sacramento, que em seus tempos de anglicana
lhe faltava.
Ela bem compreendia a tempestade que sua conversão
levantaria entre seus parentes e amigos protestantes, no momento em que ela
mais precisava de seu socorro e apoio. Ela perdera o pouco da fortuna de seu
esposo, e muitos de seus numerosos parentes poderiam ter proporcionado um
sustento para seus filhos, se não tivesse surgido a barreira da sua conversão.
Mesmo assim ela ficou firme em sua fé.
Em janeiro de 1806, Cecília Seton, a mais
jovem cunhada de Elizabeth, ficou gravemente enferma e pediu para ver a
‘condenada convertida’. Então Elizabeth foi vê-la e tornou-se uma visita
constante. Cecília Seton revelou desejar tornar-se católica. Quando a decisão
de Cecília foi conhecida, Elizabeth foi ameaçada de expulsão do Estado de Nova
York. Após sua recuperação, Cecília fugiu para junto de Elizabeth, a fim de ser
recebida na religião católica.
Seus dois filhos foram enviados pelos Filicci
ao Georgetown College. Elizabeth esperava encontrar algum refúgio em algum
convento no Canadá, onde ela poderia lecionar para sustentar suas três filhas.
O Bispo Carroll não aprova e ela tem que abandonar esse plano. O Padre Dubourg,
do Seminário de Santa Maria, de Baltimore, Maryland, encontrou-a em Nova York e
sugeriu abrir uma escola para moças naquela cidade.
Depois de grande demora e privações, ela e
suas filhas chegam à Baltimore na Festa de Corpus Christi de 1808. Seus filhos
foram trazidos para Baltimore para estudar no St. Mary’s College; ela abre uma
escola próxima à capela do Seminário de Santa Maria.
Numa
Quarta-feira de Cinzas, quando entrava na modesta igreja católica de São Pedro,
de Baltimore, exclamou: “Ó meu Deus, deixa-me descansar aqui!” Ela podia então
assistir às Missas e comungar diariamente.
A sua vida de ascese, vivida desde sua
estadia na Itália, era pelo menos praticável agora: era praticamente a de uma
religiosa e sua veste fora inspirada nas roupas utilizadas por certas freiras
italianas.
Cecília Conway, da Filadélfia, que tinha
programado ir à Europa para satisfazer sua vocação religiosa, se junta a ela.
Mais tarde outras postulantes chegariam. Entrementes, a pequena escola tem
todos os alunos que pode acomodar.
O Sr. Cooper, um convertido e seminarista do
Estado da Virgínia, ofereceu US$ 10.000 para Elizabeth fundar uma instituição
para ensinar crianças pobres.
Como uma primeira medida para a formação da
futura comunidade religiosa, Elizabeth fez voto de pobreza, de castidade e de
obediência privadamente, com o Arcebispo Carroll.
Uma fazenda foi comprada em Emmitsburg, a
duas milhas de distância do Sr. Mary’s College. Enquanto isto, Cecília Seton e
sua irmã Harriet juntam-se a Elizabeth, em Baltimore. Em junho de 1808 a
comunidade religiosa se transferiu para Emmitsburg para dar início a uma nova
instituição.
O grande fervor e a mortificação de Madre
Seton, imitado por suas irmãs, fez com que os inúmeros sofrimentos da nova
comunidade se tornassem luminosos.
Em dezembro de 1809, Harriet Seton, que fora
recebida na Igreja, falece em Emmitsburg; e Cecília Seton morre no ano
seguinte, no mês de abril.
Em 1810 a comunidade solicita ao Bispo Flaget
que obtenha a Regra das Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo. Três destas
irmãs francesas foram indicadas para ensinar a jovem comunidade a trilhar nas
vias e no espírito de São Vicente de Paulo, mas Napoleão proibiu-as de deixar a
França.
Com algumas modificações a Regra foi aprovada
pelo Arcebispo Carroll em janeiro de 1812 e finalmente adotada. Contra sua
vontade e tendo que cuidar de seus filhos, Elizabeth foi eleita superiora.
Muitas se juntaram à comunidade. A filha de
Madre Seton, Ana Maria, morre durante o noviciado, mas foi-lhe permitido fazer
os votos em seu leito de morte.
Madre Seton e dezoito irmãs fazem os votos em
19 de julho de 1813. O fervor da comunidade ganhou a admiração de todos. A
escola para jovens prosperou e dava sustento para as irmãs se dedicarem aos
pobres. Em 1814 foram convidadas para cuidar de um asilo-orfanato na
Filadélfia; em 1817 foram enviadas para Nova York.
Na noite de sua morte, Elizabeth, ela mesma,
começou as orações para a sua morte e uma das irmãs, sabendo que ela amava a
língua francesa, rezou o Glória e o Magnificat em francês com ela. Elizabeth
entregou sua alma a Deus aos 46 anos de idade, nas primeiras horas do dia 4 de
janeiro de 1821. Suas últimas palavras foram “sejam filhas da Igreja” último conselho dado às suas seguidoras.
Em 1880 o Cardeal Gibbons deu início ao
processo de sua canonização. Elizabeth Ana Seton foi beatificada em 1963 e
elevada aos altares na Basílica de São Pedro em 14 de setembro de 1975.
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