segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

02 de janeiro - Beata Maria Ana Sureau-Blondin

Fundadora das Irmãs de Santa Ana, Maria Ana Blondin é o modelo de uma existência consagrada ao amor e imbuída do mistério pascal. Esta jovem camponesa do Canadá proporá ao seu Bispo a fundação de uma congregação religiosa para a educação das crianças pobres dos campos, com vista a pôr fim ao analfabetismo. Num grande espírito de abandono à Providência, de quem amará "o cuidado totalmente maternal", ela aceitará com humildade as decisões da Igreja e, até à sua morte, levará a cabo trabalhos modestos para o bem das suas coirmãs. 
As provações jamais alterarão o seu grande amor a Cristo e à Igreja, nem o seu cuidado pela formação de verdadeiras educadoras da juventude. Forjada por uma vida de humildade e de escondimento, Maria Ana Blondin encontrava a força interior na contemplação da Cruz, mostrando-nos que a vida de intimidade com Cristo é o modo mais seguro de dar misteriosamente frutos e de cumprir a missão desejada por Deus. 
Possa o seu exemplo despertar nas religiosas do seu Instituto e em numerosos jovens o gosto de servir a Deus e aos homens, em particular à juventude, a quem é importante oferecer os instrumentos de um autêntico desenvolvimento espiritual, moral e intelectual!
Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 29 de abril de 2001

Esta beata do Canadá nasceu em Terrebonne, na província de Quebec, em 18 de abril de 1809; seu pai era João Batista Sureau-Blondin, agricultor e a sua mãe, Maria Rosa Limoges, dona-de-casa. Terceira de 12 filhos desta família muito católica, foi batizada com o nome de Maria Ester Sureau-Blondin. Herdou da sua mãe uma piedade centrada na Providência e na Eucaristia, e do seu pai uma fé sólida e uma grande paciência no sofrimento. Ela e a sua família foram vítimas do analfabetismo imperante nos ambientes francófonos do Canadá do século XIX. 

Maria Ester passou a infância e a adolescência em casa, recebendo educação e formação de seus pais devido à falta de escolas católicas de língua francesa em um Estado que há 50 anos passara para o domínio britânico e protestante.

Aos 20 anos, em 1829, começou a prestar serviços às Irmãs da Congregação de Notre- Dame, que haviam se estabelecido recentemente em Terrebonne, recebendo como salário o aprender a ler e a escrever. Em 1832, foi admitida no noviciado da Congregação, mas não pronunciou os votos, porque foi rejeitada pela saúde precária.

Ela passou um período de tratamento e descanso em casa e depois se tornou colaboradora da professora da escola primária católica na vila de Vaudreuil, tornando-se diretora da mesma escola em 1838.

Comovida com a ignorância das crianças rurais e incentivada pelo vigário Paul-Loup Archambault, decidiu, lançar as bases para uma nova comunidade inteiramente dedicada à educação.  O projeto era inovador para a sua época, parecendo até mesmo "temerário e subversivo" em relação à ordem estabelecida. Contudo, dado que o Estado favorecia este tipo de escolas, o Bispo deu a sua autorização. Em setembro de 1850, com quatro companheiras, ela pronunciou os seus votos adotando o nome de Irmã Maria Ana, dando início à Congregação das Irmãs de Santa Ana.

No início a jovem instituição passou por muitas dificuldades devido a grande pobreza. Mas o recrutamento para esta nova comunidade foi tão bem sucedido, que em 1853 tiveram que transferir o jovem Instituto, contando então com 34 membros, de Vaudreuil para Saint-Jacques de l'Achigan (Saint-Jacques). Em 1864, a Casa Mãe foi finalmente fixada em Lachine.
O que caracteriza a carreira de Madre Maria Ana é que dos 40 anos de vida religiosa ela somente governou a sua comunidade por quatro anos.

Uma espécie de drama moral começou para ela em sua chegada a Saint-Jacques, com a nomeação do Abade Luís Adolfo Maréchal como capelão do Instituto. Segundo ele, as Irmãs de Santa Ana, Congregação que tinha apenas cinco anos, tinha o duro desafio de substituir professoras respeitáveis, as religiosas da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus.

A equipe de Madre Maria Ana foi agitada por um homem naturalmente dominador que excedeu seus poderes, segundo a superiora, interferindo nas regras da comunidade. O entendimento entre a fundadora das Irmãs de Santa Ana e o capelão tendo se tornado impossível, foi preciso sacrificar um ou outro para evitar profundas divisões no seio da comunidade.

Em agosto de 1854, Mons. Bourget decidiu destituir Madre Maria Ana e nomear um novo conselho. Nomeada superiora do Convento de Sainte-Geneviève (Pierrefonds) que ela fundara em 1851, para lá ela se encaminhou no início de novembro.
Apesar da distância, muitas religiosas formadas pela Irmã Maria Ana permaneceram em contato com ela, o que não foi tolerado pelo capelão, que obteve a permissão do bispo para tirar-lhe também aquele cargo.

A partir de então Madre Maria Ana ficaria longe do governo da comunidade. Em 1864, ela acompanhou as Irmãs que se instalaram na nova Casa Mãe de Lachine, mas seus cargos de conselheira local, de assistente local e conselheira geral são apenas títulos: de fato, a fundadora das Irmãs de Santa Ana vai limitar-se às tarefas mais humildes. Para ela, fundadora e ótima professora, foram confiadas tarefas como: portaria, responsável pela lavanderia das Irmãs, sacristã, ofícios que ela exerceu ao longo de 36 anos em casas fundadas em várias cidades.
Certa vez, uma noviça admirou-se ao ver a fundadora desempenhar tarefas tão humildes e perguntou qual era a razão disso:  "Quanto mais se aprofundar a raiz da árvore, tanto mais possibilidades ela tem de crescer e dar fruto". Despojada da sua correspondência pessoal com o seu bispo, cedeu a tudo sem resistência, confiando sempre em Deus:  "Na sua Sabedoria, Ele saberá discernir o verdadeiro do falso, recompensando cada um segundo as suas obras". Além disso, soube dar aos acontecimentos da sua vida um grandioso sentido evangélico, buscando em tudo unicamente a glória de Deus.

As autoridades que lhe sucederam proibiram que ela fosse chamada madre, e ela aceitou o abandono pela vida da sua Congregação, sem se apegar ao seu título de fundadora, mas não abdicou da sua vocação de "mãe espiritual". Viveu a perseguição, perdoando a todos, pois estava convencida de que "há mais felicidade no perdão do que na vingança". Este perdão evangélico era para ela a garantia da "paz na alma", o "bem mais precioso", do qual deu o último testemunho no seu leito de morte, perdoando ao Pe. Maréchal.

Outros se encarregariam de exaltar uma fundadora desconhecida. Mas a "recuperação" seria lenta. Falecendo octogenária, em 2 de janeiro de 1890, Madre Maria Ana foi até o fim uma testemunha discreta e calma do desenvolvimento do seu trabalho.

O último período de sua vida é o testemunho de uma fé viva e de uma grande força de vontade no meio das incompreensões, exemplo de submissão amorosa à vontade de Deus, de respeito à autoridade, caridade e serviço a todos, humildade e abnegação.

Ela aceitou sua demissão oferecendo sua vida para o bem da Congregação, o que evidentemente foi aceito por Deus: em 1884, a Congregação recebeu a aprovação de Roma, e em 1890 havia 428 religiosas envolvidas no ensino e ocupadas no cuidado dos doentes em 42 casas de Quebec, Colômbia Canadense, Estados Unidos e Alasca.

No outono de 1889, Madre Maria Ana ficou doente com uma bronquite grave; na noite de Natal ela quis assistir à Missa na capela da Casa Mãe, o que lhe custou um agravamento da doença, que a levou à morte em 2 de janeiro de 1890, em Lachine.
Em 7 de janeiro de 1977 foi introduzida na causa de sua beatificação; em 14 de março de 1991 recebeu o título de Venerável; em 29 de abril de 2001 foi beatificada pelo Papa João Paulo II na Praça de S. Pedro, em Roma.


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