Fundadora
das Irmãs de Santa Ana, Maria Ana Blondin é o modelo de uma
existência consagrada ao amor e imbuída do mistério pascal. Esta jovem
camponesa do Canadá proporá ao seu Bispo a fundação de uma congregação
religiosa para a educação das crianças pobres dos campos, com vista a pôr fim
ao analfabetismo. Num grande espírito de abandono à Providência, de quem amará
"o cuidado totalmente maternal", ela aceitará com humildade as
decisões da Igreja e, até à sua morte, levará a cabo trabalhos modestos para o
bem das suas coirmãs.
As provações jamais alterarão o seu grande amor a Cristo
e à Igreja, nem o seu cuidado pela formação de verdadeiras educadoras da
juventude. Forjada por uma vida de humildade e de escondimento, Maria Ana
Blondin encontrava a força interior na contemplação da Cruz, mostrando-nos que
a vida de intimidade com Cristo é o modo mais seguro de dar misteriosamente
frutos e de cumprir a missão desejada por Deus.
Possa o seu exemplo despertar
nas religiosas do seu Instituto e em numerosos jovens o gosto de servir a Deus
e aos homens, em particular à juventude, a quem é importante oferecer os
instrumentos de um autêntico desenvolvimento espiritual, moral e intelectual!
Papa
João Paulo II – Homilia de Beatificação – 29 de abril de 2001
Esta beata do Canadá nasceu
em Terrebonne, na província de Quebec, em 18 de abril de 1809; seu pai era João Batista Sureau-Blondin, agricultor
e a sua mãe, Maria Rosa
Limoges, dona-de-casa. Terceira de 12
filhos desta família
muito católica, foi batizada com o nome de Maria Ester Sureau-Blondin. Herdou da sua mãe uma piedade centrada na Providência e na Eucaristia,
e do seu pai uma fé sólida e uma grande paciência no sofrimento. Ela e a sua
família foram vítimas do analfabetismo imperante nos ambientes francófonos do
Canadá do século XIX.
Maria Ester passou a
infância e a adolescência em casa, recebendo educação e formação de seus pais
devido à falta de escolas católicas de língua francesa em um Estado que há 50
anos passara para o domínio britânico e protestante.
Aos 20 anos, em 1829,
começou a prestar serviços às Irmãs da Congregação de Notre- Dame, que haviam
se estabelecido recentemente em Terrebonne, recebendo como salário o aprender a
ler e a escrever. Em 1832, foi admitida no noviciado da Congregação, mas não
pronunciou os votos, porque foi rejeitada pela saúde precária.
Ela passou um período de
tratamento e descanso em casa e depois se tornou colaboradora da professora da
escola primária católica na vila de Vaudreuil, tornando-se diretora da mesma
escola em 1838.
Comovida com a
ignorância das crianças rurais e incentivada pelo vigário Paul-Loup
Archambault, decidiu, lançar as bases para
uma nova comunidade inteiramente dedicada à educação. O projeto era inovador para a sua época,
parecendo até mesmo "temerário e subversivo" em relação à ordem
estabelecida. Contudo, dado que o Estado favorecia este tipo de escolas, o
Bispo deu a sua autorização. Em setembro de 1850, com quatro companheiras, ela pronunciou os seus
votos adotando o nome de Irmã Maria Ana, dando
início à Congregação das Irmãs de Santa Ana.
No início a jovem
instituição passou por muitas dificuldades devido a grande pobreza. Mas o
recrutamento para esta nova comunidade foi tão bem sucedido, que em 1853
tiveram que transferir o jovem Instituto, contando então com 34 membros, de
Vaudreuil para Saint-Jacques de l'Achigan (Saint-Jacques). Em 1864, a Casa Mãe
foi finalmente fixada em Lachine.
O
que caracteriza a carreira de Madre Maria Ana é que dos 40 anos de vida
religiosa ela somente governou a sua comunidade por quatro anos.
Uma espécie de drama
moral começou para ela em sua chegada a Saint-Jacques, com a nomeação do Abade
Luís Adolfo Maréchal como capelão do Instituto. Segundo ele, as Irmãs de Santa
Ana, Congregação que tinha apenas cinco anos, tinha o duro desafio de
substituir professoras respeitáveis, as religiosas da Sociedade do Sagrado
Coração de Jesus.
A equipe de Madre
Maria Ana foi agitada por um homem naturalmente dominador que excedeu seus
poderes, segundo a superiora, interferindo nas regras da comunidade. O
entendimento entre a fundadora das Irmãs de Santa Ana e o capelão tendo se
tornado impossível, foi preciso sacrificar um ou outro para evitar profundas
divisões no seio da comunidade.
Em agosto de 1854, Mons.
Bourget decidiu destituir Madre Maria Ana e nomear um novo conselho. Nomeada
superiora do Convento de Sainte-Geneviève (Pierrefonds) que ela fundara em
1851, para lá ela se encaminhou no início de novembro.
Apesar da distância, muitas
religiosas formadas pela Irmã Maria Ana permaneceram em contato com ela, o que
não foi tolerado pelo capelão, que obteve a permissão do bispo para tirar-lhe
também aquele cargo.
A
partir de então Madre Maria Ana ficaria longe do governo da comunidade. Em
1864, ela acompanhou as Irmãs que se instalaram na nova Casa Mãe de Lachine,
mas seus cargos de conselheira local, de assistente local e conselheira geral
são apenas títulos: de fato, a fundadora das Irmãs de Santa Ana vai limitar-se
às tarefas mais humildes. Para ela, fundadora e ótima professora, foram
confiadas tarefas como: portaria, responsável pela lavanderia das Irmãs,
sacristã, ofícios que ela exerceu ao longo de 36 anos em casas fundadas em
várias cidades.
Certa vez, uma noviça admirou-se ao ver a fundadora
desempenhar tarefas tão humildes e perguntou qual era a razão disso: "Quanto mais se aprofundar a raiz da
árvore, tanto mais possibilidades ela tem de crescer e dar fruto".
Despojada da sua correspondência pessoal com o seu bispo, cedeu a tudo sem
resistência, confiando sempre em Deus: "Na sua Sabedoria, Ele saberá discernir o verdadeiro do falso,
recompensando cada um segundo as suas obras". Além disso, soube dar
aos acontecimentos da sua vida um grandioso sentido evangélico, buscando em
tudo unicamente a glória de Deus.
As
autoridades que lhe sucederam proibiram que ela fosse chamada madre, e ela
aceitou o abandono pela vida da sua Congregação, sem se apegar ao seu título de
fundadora, mas não abdicou da sua vocação de "mãe espiritual". Viveu
a perseguição, perdoando a todos, pois estava convencida de que "há mais
felicidade no perdão do que na vingança". Este perdão evangélico era para
ela a garantia da "paz na alma", o "bem mais precioso", do
qual deu o último testemunho no seu leito de morte, perdoando ao Pe. Maréchal.
Outros se encarregariam de
exaltar uma fundadora desconhecida. Mas a "recuperação" seria lenta.
Falecendo octogenária, em 2 de janeiro de 1890, Madre Maria Ana foi até o fim
uma testemunha discreta e calma do desenvolvimento do seu trabalho.
O último período de sua vida
é o testemunho de uma fé viva e de uma grande força de vontade no meio das
incompreensões, exemplo de submissão amorosa à vontade de Deus, de respeito à
autoridade, caridade e serviço a todos, humildade e abnegação.
Ela aceitou sua
demissão oferecendo sua vida para o bem da Congregação, o que evidentemente foi
aceito por Deus: em 1884, a Congregação recebeu a aprovação de Roma, e em 1890
havia 428 religiosas envolvidas no ensino e ocupadas no cuidado dos doentes em
42 casas de Quebec, Colômbia Canadense, Estados Unidos e Alasca.
No outono de 1889, Madre
Maria Ana ficou doente com uma bronquite grave; na noite de Natal ela quis
assistir à Missa na capela da Casa Mãe, o que lhe custou um agravamento da
doença, que a levou à morte em 2 de janeiro de 1890, em Lachine.
Em 7 de janeiro de 1977 foi
introduzida na causa de sua beatificação; em 14 de março de 1991 recebeu o
título de Venerável; em 29 de abril de 2001 foi beatificada pelo Papa João
Paulo II na Praça de S. Pedro, em Roma.
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