segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Nossa Senhora de Guadalupe

Porventura não sou a tua mãe? Porventura não estou Eu aqui?


Maria, a mulher do sim, também quis visitar os habitantes desta terra da América na pessoa do índio São Juan Diego. Assim como se moveu pelas estradas da Judeia e da Galileia, da mesma forma alcançou Tepeyac, com as suas roupas, usando a sua língua, para servir esta grande nação mexicana. Assim como acompanhou a gravidez de Isabel, acompanhou e acompanha a gestação desta abençoada terra mexicana. Assim como Se apresentou ao humilde Juanito, de igual modo continua a fazer-se presente junto de todos nós, especialmente daqueles que sentem, como ele, que «não valem nada». Aquela escolha particular, digamos preferencial, de Juanito não foi contra ninguém, mas a favor de todos. Juan, o índio humilde que a si mesmo se designava como «mecapal, cacaxtle, cauda, asa, necessitado ele próprio de ser conduzido», tornou-se «o mensageiro, muito digno de confiança».

Naquela madrugada de Dezembro de 1531, tinha lugar o primeiro milagre que se tornará depois a memória viva de tudo o que guarda o Santuário de Guadalupe. Naquele amanhecer, naquele encontro, Deus despertou a esperança de seu filho Juan, a esperança do seu povo. Naquele amanhecer, Deus despertou e desperta a esperança dos mais humildes, dos atribulados, dos deslocados e marginalizados, de quantos sentem que não têm um lugar digno nestas terras. Naquele amanhecer, Deus aproximou-Se e aproxima-Se do coração atribulado, mas resistente de tantas mães, pais, avós que viram os seus filhos partir, viram-nos perdidos ou mesmo arrebatados pela criminalidade.

Naquele amanhecer, Juanito experimenta na sua vida o que é a esperança, o que é a misericórdia de Deus. É escolhido para vigiar, cuidar, proteger e incentivar a construção deste Santuário. Mais do que uma vez, disse à Virgem que ele não era a pessoa certa; antes, se Ela queria levar por diante aquela obra, deveria escolher outros, porque ele não tinha instrução, não era formado, nem pertencia ao grupo daqueles que poderiam realizá-la. Maria, decididamente – com a decisão que nasce do coração misericordioso do Pai –, não aceita: ele seria o seu mensageiro.
Deste modo consegue manifestar algo difícil de expressar, uma verdadeira e própria imagem transparente de amor e de justiça: na construção do outro santuário – o santuário da vida, o das nossas comunidades, sociedades e culturas –, ninguém pode ser deixado de fora. Todos somos necessários, sobretudo aqueles que normalmente não contam porque não estão à «altura das circunstâncias» ou não «contribuem com o capital necessário» para a sua construção. O santuário de Deus é a vida dos seus filhos, de todos e em todas as condições, especialmente dos jovens sem futuro, expostos a uma infinidade de situações dolorosas e arriscadas, e dos idosos sem reconhecimento, esquecidos em tantos cantos. O santuário de Deus são as nossas famílias que precisam do mínimo necessário para se poderem formar e sustentar. O santuário de Deus é o rosto de tantos que encontramos no nosso caminho...

Ao visitar o Santuário de Guadalupe, pode-nos acontecer o mesmo que sucedeu a Juan Diego: olhar a Mãe a partir das nossas dores, medos, desesperos, tristezas, e dizer-Lhe: «Que posso dar eu, se não sou uma pessoa instruída?». Fixamos a Mãe, com olhos que dizem: «Há tantas situações que nos tiram a força, que nos fazem sentir que não há espaço para a esperança, para a mudança, para a transformação».
Por isso, pode fazer-nos bem um pouco de silêncio e olhá-La; olhá-La intensamente e com calma, dizendo-Lhe como aquele outro filho que A amava muito:

«Olhar-Te simplesmente - Mãe -,
deixando aberto só o olhar;
Olhar-Te de cima a baixo, sem Te dizer nada,
e dizer-Te tudo, mudo e reverente.
Não turbar o vento da tua fronte;
só abrigar a minha solidão violada
nos teus olhos de Mãe enamorada
e no teu ninho de terra transparente.
As horas precipitam; fustigados
mordem os homens insensatos a imundície
da vida e da morte, com os seus rumores.
Olhar-Te, Mãe; contemplar-Te apenas,
o coração silencioso na tua ternura,
no teu casto silêncio de açucenas» 
(Hino litúrgico).

E, enquanto ficamos a contemplá-La, ouvir que nos repete mais uma vez: «Que tens, meu filho, o menor de todos? O que é que entristece o teu coração? Porventura não estou aqui Eu, Eu que tenho a honra de ser tua mãe?»

Ela diz-nos que tem a «honra» de ser nossa mãe. Isto dá-nos a certeza de que as lágrimas daqueles que sofrem, não são estéreis. São uma oração silenciosa que sobe até ao céu e que, em Maria, encontra sempre lugar sob o seu manto. N’Ela e com Ela, Deus faz-Se irmão e companheiro de estrada, carrega conosco as cruzes para não deixar as nossas dores esmagar-nos.

Porventura não sou tua mãe? Não estou Eu aqui? Não te deixes vencer pelas tuas dores, pelas tuas tristezas: diz-nos Ela. Hoje, volta a enviar-nos; hoje repete para nós:
Sê o meu mensageiro, sê o meu enviado para construir muitos santuários novos, acompanhar tantas vidas, consolar tantas lágrimas. Basta que caminhes pelas estradas do teu bairro, da tua comunidade, da tua paróquia como meu mensageiro; levanta santuários compartilhando a alegria de saber que não estamos sozinhos, que Ela está conosco. Sê o meu mensageiro – diz-nos – dando de comer aos famintos, de beber aos sedentos; oferece um lugar aos necessitados, veste os nus e visita os doentes. Socorre os prisioneiros, perdoa a quem te fez mal, consola quem está triste, tem paciência com os outros e sobretudo implora e invoca o nosso Deus.

Porventura não sou a tua mãe? Porventura não estou Eu aqui? – diz-nos novamente Maria. Vai construir o meu santuário, ajuda-Me a erguer a vida dos meus filhos, teus irmãos.

Papa Francisco - México, Basílica de Guadalupe, 13 de Fevereiro de 2016


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