quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

São Charles de Foucauld



"Logo que descobri que existe Deus entendi que não podia mais fazer outra coisa a não ser viver por ele: minha vocação religiosa começa no exato momento em que despertou a minha fé". Desde aquele momento, Charles se esvazia de tudo o que não é o Evangelho, "porque há uma grande diferença entre Deus e aquilo que não é Ele".


Charles de Foucauld, ou ainda Irmão Carlos de Jesus como popularmente é conhecido, é o nome de um ex-militar convertido que nos deixou uma verdadeira espiritualidade do escondimento, do deserto, do serviço aos mais humildes e de uma intimidade profunda com Deus a partir do Evangelho de Jesus e de Sua presença eucarística. 

A imagem dominante no mundo de Charles de Foucault foi a de Jesus carpinteiro de Nazaré. Charles de Foucault preferiu ver Jesus Salvador do mundo como obscuro carpinteiro de remota aldeia da desprezada Nazaré, encontramos essa imagem em todas as dimensões de sua busca espiritual. 

Nasceu visconde em 15 de setembro de 1858, em Estrasburgo, França. Aos nove anos ficou órfão e fora criado por seu avô, o coronel de engenharia, Charles de Morlet. Seguiu carreira militar. Em 1878 o encontramos na mais aristocrata das instituições francesas, a Escola de Cavalaria de Saumur. Em 1880, como tenente do regimento de Hussardos, vai para a Argélia, colônia norte-africana francesa. Durante esta primeira juventude de jovem aristocrata, o futuro santo, teve uma vida dissoluta de amantes, luxos e prazeres, onde começou a dilapidar sua fortuna.

O contato com o deserto do norte de África, porém, lhe deu novas perspectivas de vida. Após ajudar a sufocar algumas revoltas, em lugar de voltar para França, preferiu ficar no deserto da Argélia e do Marrocos, onde escreveu dois livros de valor científico e estratégico-militar: “Reconhecimento do Marrocos” e “Itinerários do Marrocos”. Para isto fez longas incursões a cavalo percorrendo milhares de quilômetros pelos desertos que o colocaram em contacto com a hospitalidade tradicional dos muçulmanos e aquele Saara que o fascinou por sua imensidão, solidão e silêncio, e onde os muçulmanos rezam três vezes por dia ao Deus misericordioso e clemente.

Neste momento em que descobre o Deus sempre presente na fé dos muçulmanos, ele se pergunta por sua própria fé e começa a procurar a luz de Deus num cristianismo decadente. Até o momento em que, já em Paris, encontra o Pe. Huvelin, vigário da Igreja de Santo Agostinho.
Numa conversa com ele lhe comunica: “Padre, não tenho fé. Peço-lhe que me instrua”.
O padre o cortou e disse apenas: “Ajoelhe-se e se confesse! Então, crerá!” Contrariado, Charles respondeu: “Mas, eu não vim aqui para isso...” “Confesse-se!” ordenou o velho e cego padre...
A partir deste momento a conversão como mudança de vida, aconteceu e aquele jovem aristocrata, mulherengo, dado aos luxos e aos prazeres, se abandona nas mãos de Deus.

Entrou num mosteiro trapista na França mas, pouco depois, foi enviado para a Terra Santa, onde ele pretende imitar a vida oculta de Jesus em Nazaré. Após uma passagem, como jardineiro de um mosteiro de clarissas, volta para a Europa, para concluir seus estudos e se ordenar sacerdote. Em 1901 o encontramos, na fronteira da Argélia com o Marrocos no meio dos muçulmanos, no oásis de Benni-Abbss. Ele não quer fazer proselitismo cristão, apenas ser uma testemunha vital de Jesus Cristo. Em 1904 vai viver no meio dos muçulmanos mais pobres, os tuaregs nômades.

Em 1916, apesar da estima e do reconhecimento da população tuareg e muçulmana, o Pe. Charles de Foucauld se encontra no fogo cruzado da primeira guerra mundial entre franceses e alemães. Tinha a intenção de criar uma nova ordem religiosa, o que sucedeu apenas depois da sua morte: os Irmãozinhos de Jesus. Foi assassinado por assaltantes de passagem em 1 de Dezembro de 1916.


Foi beatificado pelo Papa Bento XVI em 13 de novembro de 2005.

Foi chamado o "irmão universal" porque abrangeu o mundo todo e todos os povos, a partir da intensidade da presença entre os tuaregs. A universalidade tem, portanto, duas vertentes: uma é representada pela potencialidade e a intensidade da presença e a outra pela extensão e abertura até os confins da terra.

A presença e o aniquilamento não são dimensões que alimentam a tristeza da vida cristã, mas representam o caminho mais simples do seguimento de Jesus que se fez pobre e para todos ofereceu sua vida. O esvaziamento é o processo de diminuição para que, como João Batista, o missionário deixa que Deus possa intervir e agir na história dos povos e das pessoas.

Na vida de Charles de Foucauld, o protagonista que deve sempre mais aparecer e agir, através do discípulo, é o próprio Deus. Charles emprestou sua própria vida a Deus, uma vida não retida, mas doada. Quem guarda a própria vida para si, este a perde, mas quem a entrega, este a ganha.

A decisão que levou Charles de Foucauld a viver junto com os tuaregs, os pobres do deserto, é a condição de um caminho místico. O amor radical nasce dessa entrega.

Neste caminho está o processo de evangelização: antes de evangelizar, é necessário amar. Antes de proclamar as palavras e anunciar a mensagem, ocorre vivê-la, sem arrogância e orgulho, na própria vida.

Assim os tuaregs começaram a chamá-lo de "marabuto branco", isto é, o homem da oração e o homem de Deus. A missão de Charles de Foucauld foi o inverso do proselitismo. Enquanto este quer conquistar o outro para fazê-lo entrar no mundo do conquistador, Charles, através de sua vida, revela Deus presente e completamente comprometido com os pobres.

No Consistório Público Ordinário de 3 de maio de 2021, o Santo Padre Francisco decretou a sua canonização, sem marcar a data devido à pandemia.




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