Nossos Beatos
Mártires André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro, Mateus Moreira e 27 leigos
foram assassinado, em 1645, em defesa da fé católica, em Cunhaú e Uruaçu (RN).
Em 1645, os
soldados holandeses, de religião Calvinista, ocuparam o nordeste brasileiro,
levando consigo um pastor protestante para convencer os residentes a
renunciarem à sua fé católica.
Ao chegarem a
Cunhaú (RN), onde residiam vários colonos, que trabalhavam nos canaviais,
soldados e índios tapuias invadiram a Capela do Engenho de Cunhaú, durante a
Missa dominical, celebrada pelo Padre André de Soveral, e os assassinaram em 16
de julho.
Aterrorizados com o
episódio de Cunhaú, muitos moradores de Natal pediram asilo no Forte dos Reis
Magos; outros se refugiaram em lugares improvisados. Mas, no dia 3 de outubro,
foram levados para as margens do Rio Uruaçu, onde foram massacrados por cerca
de 80 índios e soldados holandeses armados.
Segundo cronistas
da época, o leigo Mateus Moreira teve o coração arrancado pelas costas.
Agonizante, Mateus repetia a frase “louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
Homilia do Papa
Francisco na Canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu – 155 de outubro de
2017:
Se se perde o amor
de vista, a vida cristã torna-se estéril, torna-se um corpo sem alma, uma moral
impossível, um conjunto de princípios e leis a serem respeitadas sem um porquê.
O Reino de Deus é
comparável a uma Festa de Núpcias. Nós, somos os amados, os convidados para
estas núpcias, mas o convite pode ser recusado. Neste sentido, somos chamados a
renovar a cada dia a opção de Deus, vivendo segundo o amor verdadeiro,
superando a resignação e os caprichos de nosso eu.
O protagonista da
festa de núpcias é o filho do rei, o noivo, no qual facilmente se vislumbra
Jesus. Mas na parábola, não se fala da noiva, mas de muitos convidados,
desejados e esperados: são aqueles que trazem as vestes nupciais:
Tais convidados
somos nós, todos nós, porque o Senhor deseja celebrar as bodas com cada um de
nós. As núpcias inauguram uma comunhão total de vida: é o que Deus deseja ter
com cada um de nós. Por isso o nosso relacionamento com Ele não se pode limitar
ao dos devotados súditos com o rei, ao dos servos fiéis com o patrão ou ao dos
alunos diligentes com o mestre, mas é, antes de tudo, o relacionamento da noiva
amada com o noivo.
O Senhor não se
contenta com o nosso bom cumprimento dos deveres e a observância de suas leis,
mas quer uma verdadeira comunhão de vida conosco, uma relação feita de diálogo,
confiança e amor:
Esta é a vida
cristã, uma história de amor com Deus, na qual quem toma gratuitamente a
iniciativa é o Senhor e nenhum de nós pode gloriar-se de ter a exclusividade do
convite: ninguém é privilegiado relativamente aos outros, mas cada um é
privilegiado diante de Deus. Deste amor gratuito, terno e privilegiado, nasce e
renasce incessantemente a vida cristã.
Em nosso dia-a-dia
nos recordamos de dizer ao menos uma vez: Senhor, vos amo. Vós sois a minha
vida?
Com efeito, se se
perde de vista o amor, a vida cristã torna-se estéril, torna-se um corpo sem
alma, uma moral impossível, um conjunto de princípios e leis a respeitar sem um
porquê. Ao contrário, o Deus da vida espera uma resposta de vida, o Senhor do
amor espera uma resposta de amor”.
O perigo de uma
vida cristã rotineira, onde nos contentamos com a «normalidade», sem zelo nem
entusiasmo e com a memória curta.
Neste sentido,
somos chamados a reavivar a memória do primeiro amor: somos os amados, os
convidados para as núpcias, e a nossa vida é um dom, sendo-nos dada em cada dia
a magnífica oportunidade de responder ao convite.
Mas este convite
pode ser recusado. O Evangelho relata que muitos convidados disseram não, pois estavam
presos aos próprios interesses, ao seu campo, ao seu negócio.
A palavra “seu” é a
chave para entender o motivo da recusa. Nos afastamos do amor, não por malvadez,
mas porque se prefere as seguranças, a autoafirmação, as comodidades:
Então reclinamo-nos
nas poltronas dos lucros, dos prazeres, de qualquer passatempo que nos faça
estar um pouco alegres. Mas deste modo envelhece-se depressa e mal, porque se
envelhece dentro: quando o coração não se dilata, fecha-se. E quando tudo fica
dependente do próprio eu – daquilo com que concordo, daquilo que me serve,
daquilo que pretendo –, tornamo-nos rígidos e maus, reagimos maltratando por nada,
como os convidados do Evangelho que chegam ao ponto de insultar e até matar
aqueles que levaram o convite, apenas porque os incomodavam.
Deus é o oposto do
egoísmo, da auto referencialidade, pois diante de nossas contínuas recusas e
fechamentos, não adia a festa. Não se resigna, mas continua a convidar:
Vendo os «nãos»,
não fecha a porta, mas inclui ainda mais. Às injustiças sofridas, Deus responde
com um amor maior. Nós muitas vezes, quando somos feridos por injustiças e
recusas, incubamos ressentimento e rancor. Ao contrário Deus, ao mesmo tempo
que sofre com os nossos «nãos», continua a relançar, prossegue na preparação do
bem mesmo para quem faz o mal. Porque assim faz o amor; porque só assim se
vence o mal.
Hoje – portanto – este
Deus que não perde jamais a esperança, nos compromete a fazer como ele, a viver
segundo o amor verdadeiro, a superar a resignação e os caprichos de nosso “eu”
suscetível e preguiçoso.
Um último aspecto
do Evangelho do dia: as vestes dos convidados, que são indispensáveis. Ou seja,
não basta responder ao convite dizendo sim e basta, mas é preciso vestir o
hábito do amor vivido cada dia, porque não se pode dizer Senhor, Senhor, sem
viver e praticar a vontade de Deus. Precisamos nos revestir a cada dia do seu
amor, de renovar a cada dia a opção de Deus:
Os Santos
canonizados hoje, sobretudo os numerosos Mártires, indicam-nos esta estrada.
Eles não disseram «sim» ao amor com palavras e por um certo tempo, mas com a
vida e até ao fim. O seu hábito diário foi o amor de Jesus, aquele amor louco
que nos amou até ao fim, que deixou o seu perdão e as suas vestes a quem O
crucificava. Também nós recebemos no Batismo a veste branca, o vestido nupcial
para Deus.
Que peçamos a Ele,
pela intercessão destes nossos irmãos e irmãs santos, a graça de optar por
trazer cada dia esta veste e de a manter branca, o que é possível, antes de
mais nada, indo sem medo receber o perdão do Senhor, o passo decisivo para
entrar na sala das núpcias e celebrar a festa do amor com Ele.
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