Os testemunhos que
chegaram até nós falam de pessoas honestas e exemplares, cujo martírio selou
uma vida repleta de trabalho, oração e compromisso religioso nas suas famílias,
paróquias e congregações religiosas. Muitos deles gozavam já em vida de fama de
santidade entre os seus coetâneos. Pode dizer-se que os seus comportamentos
exemplares foram como que uma preparação para essa confissão suprema da fé que
é o martírio.
Como não nos comovermos profundamente ao escutar os relatos do seu
martírio? Maria Teresa Ferragud foi presa com oitenta e três anos de idade,
juntamente com as suas quatro filhas religiosas contemplativas. A 25 de Outubro
de 1936, festa de Cristo Rei, pediu para acompanhar as suas filhas ao martírio
e para ser executada em última lugar para assim poder encorajá-las a morrer
pela fé. A sua morte impressionou de tal forma os seus verdugos que exclamaram:
"Esta
é uma verdadeira santa".
Papa
João Paulo II – Homilia de Beatificação – 11 de março de 2001
Surpresos ao ouvir falar
da coragem heroica da mãe, que no Livro de Macabeus, foi um apoio no doloroso martírio
dos seus sete filhos, finalmente coroando-o pelo derramamento de seu próprio
sangue, falemos hoje de outra mãe que o Papa João Paulo II, por ocasião do 6º
Encontro Mundial das Famílias na Cidade do México, apresentou como um modelo,
talvez doloroso, de uma família que viveu o seu testemunho cristão.
Maria Teresa Ferragud Roig
nasceu em Algemesi (província de Valência) em 14 de janeiro de 1853 e se formou
nas fileiras da Ação Católica, primeiro como Aspirante, em seguida, entre as
"senhoras católicas". De uma espiritualidade sólida, alimentada pela
Missa e Comunhão diária, ancorada na adoração eucarística e iluminada pela
devoção mariana. Sua fé prosperava em obras, era pródiga na caridade para com
os necessitados no âmbito da Conferência de São Vicente, da qual também foi
presidente alguns anos.
Quando se decidiu casar,
quis um marido que pensasse como ela, especialmente em matéria de fé e
caridade. Ela o encontrou em Vicente Silvério Masiá, com quem se casou aos 19
anos. As testemunhas dizem que homem mais devoto e caridoso teria sido difícil
encontrar, e se hoje nós não o veneramos entre os bem-aventurados da Igreja é
só porque o fim dele foi do homem comum, que morreu em sua própria cama e não
martirizado, mas que vamos encontrar um dia entre os santos anônimos que
habitam o Céu.
Maria Teresa deu à luz
nove filhos, educados no seu estilo e de acordo com o seu exemplo. Não é de
admirar que tenham florescido em sua família não uma, mas seis vocações
religiosas: dois Capuchinhos (um dos quais morreu em 1927, e o outro foi
missionário na América) e quatro irmãs de vida contemplativa.
Interessa-nos estas últimas, três das quais ingressaram no mosteiro capuchinho de Agullent: Irmã Maria de Jesus (Vicência) nascida em 1882, Irmã Maria Verônica (Joaquina) nascida em 1884, Irmã Maria Felicidade (Francisca) de 1890, e Irmã Josefa da Purificação (Raimunda) de 1887, agostiniana descalça.
Em 1936, no momento
crucial da guerra civil espanhola, encontravam-se todas na casa da família,
porque seus conventos tiveram que fechar suas portas. À mãe, que já chegara aos
83 anos, não parecia real tê-las por perto, mesmo que suas "meninas"
permanecessem enclausuradas em casa, dedicadas à oração, ao silêncio e à
meditação.
Na tarde de 19 de outubro,
as quatro irmãs foram presas pela milícia e a mãe não quis se separar delas,
ela que possivelmente poderia se salvar devido a idade.
Permaneceram seis dias na
cadeia aguardando a sentença de morte, que chegou no dia 25 de outubro, na
época era Festa de Cristo Rei, quando elas foram retiradas da prisão e levadas
para o local da execução.
Como último desejo, Maria Teresa pediu para ser executada por último: ela queria cumprir o seu dever de mãe até o fim, animando as filhas, para ter certeza de sua fidelidade até a morte. "Coragem, filhas! É um piscar de olhos e a eternidade vai durar para sempre", ouvem-na gritar, enquanto as incita: "O vosso Esposo vos espera". Ela as vê cair uma a uma, com o nome de Cristo Rei nos lábios e o perdão no coração. Portanto, estava serena quando chegou a sua vez.
Para seus assassinos que
gritam: "Velha, você não tem medo de morrer?" pode responder
tranquilamente: "Até agora tenho seguido a Cristo e vou
fazê-lo até o fim. Para onde foram as minhas filhas eu também vou",
forçando-os a admitir, após a sua execução: "Esta mulher era realmente
uma santa".
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