Guilherme era acima de tudo um peregrino incansável, sempre
na estrada, num momento em que nada era mais natural do que fazer viagens longas
e cansativas de devoção ou penitência. A marcha de Guilherme começou muito
cedo, com a idade de quatorze anos, vestido apenas com um manto humilde e pés
descalços, em sua viagem a Santiago de Compostela, Espanha. Esta primeira
peregrinação penitencial não durou menos de cinco anos, depois de meditar e
falar com Deus com todos os homens que conhecia.
Sua vida diária foi marcada pela humildade e renúncia da
carne para a ascese espiritual. Foi alimentado apenas de pão e água e raramente
comeu um alimento mais saboroso como legumes temperados com vinagre sem óleo.
Estritamente com os pés descalços, levava no tórax e abdome
duas argolas de ferro que tinham sido pregadas por um serralheiro para melhor
mortificar a carne. Dia e noite ele passava em oração, e muitas vezes algumas
horas de descanso foram passados ao ar livre, no chão. Depois de voltar da
Espanha, cada vez mais impulsionado pelo fervor religioso, Guilherme viajou
pela Itália, parando em cada cidade e em cada lugar onde havia santos e igrejas
famosas para serem venerados. Estava disposto a chegar a Jerusalém, a Terra
Santa e o santuário espanhol constituiu, de fato, o chamado para grandes
peregrinações; o peregrino que em vida havia sido distinguido por ter feito
pelo menos uma dessas duas peregrinações poderia ter certeza de que no dia do
juízo final não apareceria nu como
todos os outros mortais.
Um acidente fortuito desviou no último momento este
propósito e sua vida. Quando chegou a um ponto da viagem, em Taranto, Guilherme
foi atacado por ladrões, que, decepcionados com os poucos bens que ele levava,
o surraram violentamente. Ele viu neste caso um sinal da providência divina, e
desistiu de ir para a Terra Santa. Para confirmar isso, durante o período de
convalescença, ele encontrou-se com João de Matera, hoje santo, que lhe disse,
profeticamente, que Deus não desejava apenas isso dele e que Guilherme, para o
bem de muitos deveria permanecer na Itália. Suas últimas incertezas
desapareceram alguns dias depois, quando o próprio Senhor lhe apareceu em uma
visão prevendo a fundação de uma Congregação. Finalmente virando as costas para
o mar, Gilherme tornou-se um eremita e começou a viajar no sul da Itália em
busca de um local adequado para a sua vida solitária e meditativa.
Encontrou a solidão na região próxima de Avellino, na
montanha de Montevergine. Era uma terra habitada apenas por animais selvagens,
onde, segundo a tradição, um lobo teria matado o burro que lhe servia de
transporte. Guilherme, então, teria domesticado toda a matilha, que passou a
prestar-lhe todo tipo de auxílio.
Vivia como eremita, dedicando-se à oração e à penitência, mas isso durou pouco
tempo. Logo começou a ser procurado por outros eremitas, religiosos e fiéis.
Acabou fundando, em 1128, um mosteiro masculino, o qual colocou sob as regras
beneditinas e dedicou a Maria, ficando conhecido como o Mosteiro de
Montevergine.
Dele Guilherme se tornou o abade, todavia por pouco tempo, pois transmitiu o
cargo para um monge sucessor e continuou peregrinando. Entretanto tal
procedimento se tornou a rotina de sua vida monástica. Guilherme acabou
fundando um outro mosteiro beneditino, dedicado a Maria, em Monte Cognato. Mais
uma vez se encontrou na posição de abade e novamente transmitiu o posto ao
monge que elegeu para ser seu sucessor.
Desejando imensamente a solidão, foi para a planície de Goleto, não muito
distante dali, onde, por um ano inteiro, viveu dentro do buraco de uma árvore
gigantesca. E eis que tornou a ser descoberto e mais outra comunidade se formou
ao seu redor. Dessa vez teve de fundar um mosteiro "duplo", ou seja,
masculino e feminino. Contudo criou duas unidades distintas, cada uma com sua
sede e igreja própria.
E foi assim que muitíssimos mosteiros nasceram em Irpínia e em Puglia. Desse
modo, ele, que desejava apenas ser um monge peregrino na Terra Santa, fundou a
Congregação Beneditina de Montevergine, que floresceu por muitos séculos.
Somente em 1879 ela se fundiu à Congregação de Montecassino.
Guilherme morreu no dia 25 de junho de 1142, no mosteiro de Goleto. Em 1942, o
papa Pio XII canonizou-o e declarou são Guilherme de Vercelli Padroeiro
principal da Irpínia.
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