segunda-feira, 27 de junho de 2016

São Cirilo de Alexandria - Discurso pronunciado no Concílio de Éfeso sobre Maria – ano 431


"Salve, ó Maria, Mãe de Deus, virgem e mãe, estrela e vaso de eleição! 
Salve, Maria, virgem, mãe e serva: virgem, na verdade, por virtude daquele que nasceu de ti; mãe por virtude daquele que cobriste com panos e nutriste em teu seio; serva, por aquele que amou de servo a forma! Como Rei, quis entrar em tua cidade, em teu seio, e saiu quando lhe aprouve, cerrando para sempre sua porta, porque concebeste sem concurso de varão, e foi divino teu parto. 
Salve, Maria, templo onde mora Deus, templo santo, como o chama o profeta Davi, quando diz: "O teu templo é santo e admirável em sua justiça" (Sl 64). 
Salve, Maria, criatura mais preciosa da criação; salve, Maria, puríssima pomba; salve, Maria, lâmpada inextinguível; salve, porque de ti nasceu o sol da Justiça! 
Salve, Maria, morada da infinitude, que encerraste em teu seio o Deus infinito, o Verbo unigênito, produzindo sem arado e sem semente a espiga incorruptível! 
Salve, Maria, mãe de Deus, aclamada pelos profetas, bendita pelos pastores, quando com os anjos cantaram o sublime hino de Belém: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade" (Lc 2,14). 
Salve, Maria, Mãe de Deus, alegria dos anjos, júbilo dos arcanjos que te glorificam no céu! Salve, Maria, Mãe de Deus: por ti adoraram a Cristo os Magos guiados pela estrela do Oriente; salve, Maria, Mãe de Deus, honra dos apóstolos! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem João Batista, ainda no seio de sua mãe exultou de alegria, adorando como luzeiro a perene luz! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, que trouxeste ao mundo graça inefável, da qual diz são Paulo: "apareceu a todos os homens a graça de Deus salvador" (Tt 2,1). 
Salve, Maria, Mãe de Deus, que fizeste brilhar no mundo aquele que é luz verdadeira, a nosso Senhor Jesus Cristo, que diz em seu Evangelho: "eu sou a luz do mundo!" (Jo 8,12). Deus te salve, Mãe de Deus, que iluminaste aos que estavam em trevas e sombras de morte; porque o povo que jazia nas trevas viu uma grande luz (Is 9, 2), uma luz não outra senão Jesus Cristo nosso Senhor, luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo (Jo 1,9). 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem se apregoa nos Evangelhos: "bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mt 21,9), por quem se encheram de igrejas nossas cidades, campos e vilas ortodoxas! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o vencedor da morte e o destruidor do inferno! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o autor da criação e o restaurador das criaturas, o Rei dos céus! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem floresceu e refulgiu o brilho da ressurreição! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem luziu o sublime batismo de santidade no Jordão! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem o Jordão e o Batista foram santificados e o demônio foi destronado! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem é salvo todo espírito fiel! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, - pois acalmaste e serenaste os mares para que pudessem nossos irmãos cooperadores e pais e defensores da fé, serem conduzidos, com alegria e júbilo espiritual, a esta assembléia de entusiásticos defensores de tua honra!"

Cirilo de Alexandria


São Cirilo de Alexandria. Ligado à controvérsia cristológica que levou ao Concílio de Éfeso do ano 431, último representante de importância da tradição alexandrina, Cirilo foi definido mais tarde no Oriente como «Custódio da exatidão» – que quer dizer custódio da verdadeira fé – e inclusive como «selo dos Padres».


Venerado como santo tanto no Oriente como no Ocidente, em 1882 São Cirilo foi proclamado doutor da Igreja pelo Papa Leão XIII.

Chegaram-nos poucas notícias sobre a vida de Cirilo antes de sua eleição à importante sede de Alexandria. Sobrinho de Teófilo, que desde o ano 385 como bispo regeu com mão firme e prestigio a diocese de Alexandria, Cirilo nasceu provavelmente nessa mesma cidade egípcia entre o ano 370 e 380. Depois abraçou a vida eclesiástica e recebeu uma boa educação, tanto cultural como teológica. Após a morte do seu tio Teófilo, sendo ainda jovem, Cirilo foi eleito no ano 412 como bispo da influente Igreja de Alexandria, governando-a com grande energia durante 32 anos, buscando afirmar sempre o primado em todo o Oriente, fortalecido também pelos laços tradicionais com Roma.

Dois ou três anos depois, no ano 417, o bispo de Alexandria deu provas de realismo ao sanar a ruptura da comunhão com Constantinopla, que acontecia desde o ano 406, após a deposição de Crisóstomo. Mas o antigo contraste com a sede de Constantinopla voltou a estourar dez anos depois, quando no ano 428 foi eleito Nestório, monge severo e de prestígio formado em Antioquia. O novo bispo de Constantinopla suscitou logo oposições, pois em sua pregação preferia para Maria o título de «Mãe de Cristo» («Christotòkos»), ao invés de «Mãe de Deus» (Theotòkos»), já então muito querido pela devoção popular.

O motivo dessa decisão do bispo Nestório era sua adesão à cristologia da tradição de Antioquia que, para salvaguardar a importância da humanidade de Cristo, acabava afirmando sua separação da divindade. Deste modo, já não era uma autêntica união entre Deus e o homem em Cristo e, portanto, já não podia falar-se de «Mãe de Deus».

A reação de Cirilo, então máximo expoente da cristologia de Alexandria, que sublinha intensamente a unidade da pessoa de Cristo, foi imediata e se deslocou com todos os meios já a partir do ano 429, entre outras coisas, enviando algumas cartas ao mesmo Nestório.
Na Segunda Carta que Cirilo enviou, em fevereiro de 430, lemos uma clara afirmação do dever dos pastores de preservar a fé do Povo de Deus. Este era seu critério, válido também para hoje: a fé do Povo de Deus é expressão da tradição, é garantia da sã doutrina. Escreve estas linhas a Nestório: «É necessário expor ao povo de Deus o ensinamento e a interpretação da fé de maneira mais irrepreensível e recordar que quem escandaliza ainda que for a um só dos pequenos que crêem em Cristo, sofrerá um castigo intolerável».

Na mesma carta a Nestório, carta que mais tarde, no ano 451, teria sido aprovada pelo Concilio de Calcedônia, quarto concilio ecumênico, Cirilo descreve com clareza sua fé cristológica: «São diversas as naturezas que se uniram em uma verdadeira unidade, mas de ambas resultou um só Cristo e Filho, não porque por causa da unidade se tenha eliminado a diferença das naturezas humana e divina, mas porque humanidade e divindade reunidas de forma inefável produziram o único Senhor, Cristo, o Filho de Deus».

Isso é importante: realmente a verdadeira humanidade e a verdadeira divindade se unem em uma só Pessoa, nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, continua dizendo o bispo de Alexandria, «professamos um só Cristo e Senhor, não só no sentido de que adoramos o homem junto com o ‘Logos’, para não insinuar a idéia da separação dizendo ‘junto’, mas no sentido de que adoramos um só, pois seu corpo não é algo alheio ao ‘Logos’, com o qual está sentado à destra do Pai. Não estão sentados a seu lado dois filhos, mas um só, unido com a própria carne».

Rapidamente, o bispo de Alexandria, graças a agudas alianças, conseguiu que Nestório fosse condenado repetidamente: por parte da sede romana com uma série de doze anátemas redigidos por ele mesmo e, finalmente, pelo Concílio de Éfeso, no ano 431, o terceiro concílio ecumênico.

A assembleia, que se desenvolveu com vicissitudes tumultuosas, concluiu com o primeiro grande triunfo da devoção a Maria e com o exílio do bispo de Constantinopla, que não queria reconhecer à Virgem o título de «Mãe de Deus», por causa de uma cristologia equivocada, que criava divisão no próprio Cristo. Depois de ter prevalecido deste modo sobre o rival e sua doutrina, Cirilo soube alcançar já no ano 433 uma fórmula teológica de compromisso e de reconciliação com os de Antioquia. E isso também é significativo: por uma parte se dá a clareza da doutrina da fé, mas por outra, a intensa busca da unidade da reconciliação. Nos anos seguintes, ele se dedicou com todos os meios a defender e esclarecer sua posição teológica até a morte, ocorrida em 27 de junho do ano 444.

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