Salve, Maria, virgem, mãe e serva:
virgem, na verdade, por virtude daquele que nasceu de ti; mãe por virtude
daquele que cobriste com panos e nutriste em teu seio; serva, por aquele que
amou de servo a forma! Como Rei, quis entrar em tua cidade, em teu seio, e saiu
quando lhe aprouve, cerrando para sempre sua porta, porque concebeste sem
concurso de varão, e foi divino teu parto.
Salve, Maria, templo onde mora Deus,
templo santo, como o chama o profeta Davi, quando diz: "O teu templo é
santo e admirável em sua justiça" (Sl 64).
Salve, Maria, criatura mais
preciosa da criação; salve, Maria, puríssima pomba; salve, Maria, lâmpada
inextinguível; salve, porque de ti nasceu o sol da Justiça!
Salve, Maria,
morada da infinitude, que encerraste em teu seio o Deus infinito, o Verbo
unigênito, produzindo sem arado e sem semente a espiga incorruptível!
Salve,
Maria, mãe de Deus, aclamada pelos profetas, bendita pelos pastores, quando com
os anjos cantaram o sublime hino de Belém: "Glória a Deus nas alturas e
paz na terra aos homens de boa vontade" (Lc 2,14).
Salve, Maria, Mãe de
Deus, alegria dos anjos, júbilo dos arcanjos que te glorificam no céu! Salve,
Maria, Mãe de Deus: por ti adoraram a Cristo os Magos guiados pela estrela do
Oriente; salve, Maria, Mãe de Deus, honra dos apóstolos!
Salve, Maria, Mãe de
Deus, por quem João Batista, ainda no seio de sua mãe exultou de alegria,
adorando como luzeiro a perene luz!
Salve, Maria, Mãe de Deus, que trouxeste ao
mundo graça inefável, da qual diz são Paulo: "apareceu a todos os homens a
graça de Deus salvador" (Tt 2,1).
Salve, Maria, Mãe de Deus, que fizeste
brilhar no mundo aquele que é luz verdadeira, a nosso Senhor Jesus Cristo, que
diz em seu Evangelho: "eu sou a luz do mundo!" (Jo 8,12). Deus te
salve, Mãe de Deus, que iluminaste aos que estavam em trevas e sombras de
morte; porque o povo que jazia nas trevas viu uma grande luz (Is 9, 2), uma luz
não outra senão Jesus Cristo nosso Senhor, luz verdadeira que ilumina todo
homem que vem a este mundo (Jo 1,9).
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem se apregoa
nos Evangelhos: "bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mt 21,9), por
quem se encheram de igrejas nossas cidades, campos e vilas ortodoxas!
Salve,
Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o vencedor da morte e o destruidor
do inferno!
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o autor da
criação e o restaurador das criaturas, o Rei dos céus!
Salve, Maria, Mãe de
Deus, por quem floresceu e refulgiu o brilho da ressurreição!
Salve, Maria, Mãe
de Deus, por quem luziu o sublime batismo de santidade no Jordão!
Salve, Maria,
Mãe de Deus, por quem o Jordão e o Batista foram santificados e o demônio foi
destronado!
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem é salvo todo espírito fiel!
Salve, Maria, Mãe de Deus, - pois acalmaste e serenaste os mares para que pudessem
nossos irmãos cooperadores e pais e defensores da fé, serem conduzidos, com
alegria e júbilo espiritual, a esta assembléia de entusiásticos defensores de
tua honra!"
Cirilo de Alexandria
São Cirilo de
Alexandria. Ligado à controvérsia cristológica que levou ao Concílio de Éfeso
do ano 431, último representante de importância da tradição alexandrina, Cirilo
foi definido mais tarde no Oriente como «Custódio
da exatidão» – que quer dizer custódio da verdadeira fé – e inclusive como
«selo dos Padres».
Venerado como santo tanto no Oriente como no
Ocidente, em 1882 São Cirilo foi proclamado doutor da Igreja pelo Papa Leão
XIII.
Chegaram-nos poucas notícias sobre a vida de
Cirilo antes de sua eleição à importante sede de Alexandria. Sobrinho de
Teófilo, que desde o ano 385 como bispo regeu com mão firme e prestigio a
diocese de Alexandria, Cirilo nasceu provavelmente nessa mesma cidade egípcia
entre o ano 370 e 380. Depois abraçou a vida eclesiástica e recebeu uma boa
educação, tanto cultural como teológica. Após a morte do seu tio Teófilo, sendo
ainda jovem, Cirilo foi eleito no ano 412 como bispo da influente Igreja de
Alexandria, governando-a com grande energia durante 32 anos, buscando afirmar
sempre o primado em todo o Oriente, fortalecido também pelos laços tradicionais
com Roma.
Dois ou três anos depois, no ano 417, o bispo
de Alexandria deu provas de realismo ao sanar a ruptura da comunhão com
Constantinopla, que acontecia desde o ano 406, após a deposição de Crisóstomo.
Mas o antigo contraste com a sede de Constantinopla voltou a estourar dez anos
depois, quando no ano 428 foi eleito Nestório, monge severo e de prestígio
formado em Antioquia. O novo bispo de Constantinopla suscitou logo oposições,
pois em sua pregação preferia para Maria o título de «Mãe de Cristo»
(«Christotòkos»), ao invés de «Mãe de Deus» (Theotòkos»), já então muito
querido pela devoção popular.
O motivo dessa decisão do bispo Nestório era
sua adesão à cristologia da tradição de Antioquia que, para salvaguardar a
importância da humanidade de Cristo, acabava afirmando sua separação da
divindade. Deste modo, já não era uma autêntica união entre Deus e o homem em
Cristo e, portanto, já não podia falar-se de «Mãe de Deus».
A reação de Cirilo, então máximo expoente da
cristologia de Alexandria, que sublinha intensamente a unidade da pessoa de
Cristo, foi imediata e se deslocou com todos os meios já a partir do ano 429,
entre outras coisas, enviando algumas cartas ao mesmo Nestório.
Na Segunda Carta que Cirilo enviou, em
fevereiro de 430, lemos uma clara afirmação do dever dos pastores de preservar
a fé do Povo de Deus. Este era seu critério, válido também para hoje: a fé do Povo de Deus é expressão da
tradição, é garantia da sã doutrina. Escreve estas linhas a Nestório: «É necessário expor ao povo de Deus o
ensinamento e a interpretação da fé de maneira mais irrepreensível e recordar
que quem escandaliza ainda que for a um só dos pequenos que crêem em Cristo,
sofrerá um castigo intolerável».
Na mesma carta a Nestório, carta que mais
tarde, no ano 451, teria sido aprovada pelo Concilio de Calcedônia, quarto
concilio ecumênico, Cirilo descreve com clareza sua fé cristológica: «São diversas as naturezas que se uniram em
uma verdadeira unidade, mas de ambas resultou um só Cristo e Filho, não porque
por causa da unidade se tenha eliminado a diferença das naturezas humana e
divina, mas porque humanidade e
divindade reunidas de forma inefável produziram o único Senhor, Cristo, o Filho
de Deus».
Isso é importante: realmente a verdadeira
humanidade e a verdadeira divindade se unem em uma só Pessoa, nosso Senhor
Jesus Cristo. Por isso, continua dizendo o bispo de Alexandria, «professamos um só Cristo e Senhor, não só
no sentido de que adoramos o homem junto com o ‘Logos’, para não insinuar a
idéia da separação dizendo ‘junto’, mas no sentido de que adoramos um só, pois
seu corpo não é algo alheio ao ‘Logos’, com o qual está sentado à destra do
Pai. Não estão sentados a seu lado dois filhos, mas um só, unido com a própria
carne».
Rapidamente, o bispo de Alexandria, graças a
agudas alianças, conseguiu que Nestório fosse condenado repetidamente: por
parte da sede romana com uma série de doze anátemas redigidos por ele mesmo e,
finalmente, pelo Concílio de Éfeso, no ano 431, o terceiro concílio ecumênico.
A assembleia, que se desenvolveu com vicissitudes tumultuosas, concluiu
com o primeiro grande triunfo da devoção a Maria e com o exílio do bispo de
Constantinopla, que não queria reconhecer à Virgem o título de «Mãe de Deus»,
por causa de uma cristologia equivocada, que criava divisão no próprio Cristo.
Depois de ter prevalecido deste modo sobre o rival e sua doutrina, Cirilo soube
alcançar já no ano 433 uma fórmula teológica de compromisso e de reconciliação
com os de Antioquia. E isso também é significativo: por uma parte se dá a
clareza da doutrina da fé, mas por outra, a intensa busca da unidade da reconciliação.
Nos anos seguintes, ele se dedicou com todos os meios a defender e esclarecer
sua posição teológica até a morte, ocorrida em 27 de junho do ano 444.
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