Com 16 anos, Catarina foi concedida como esposa a
Giuliano Adorno, um homem que, depois de várias experiências comerciais e
militares no Médio Oriente, tinha regressado a Genova para casar. A vida
matrimonial não foi fácil, também devido à índole do marido, apaixonado pelo
jogo de azar. Inicialmente, a própria Catarina foi induzida a levar um tipo de
vida mundana em que, contudo, não conseguia encontrar a serenidade. Depois de
dez anos, no seu coração havia um profundo sentido de vazio e de amargura.
A conversão teve início a 20 de Março de 1473, graças a uma experiência
singular. Tendo ido à igreja de são Bento e ao mosteiro de Nossa Senhora das
Graças para se confessar, ajoelhou-se diante do sacerdote e «recebeu — como ela
mesma escreve — uma chaga no coração, de um imenso amor de Deus», com uma visão
tão clarividente das suas misérias e dos seus defeitos e, ao mesmo tempo, da
bondade de Deus, que quase desmaiou. Foi tocada no coração por este
conhecimento de si mesma, da vida vazia que ela levava e da bondade de Deus.
Desta experiência derivou a decisão que orientou
toda a sua vida, expressa com estas palavras: «Basta com o mundo e com os pecados».
Então Catarina fugiu, suspendendo a Confissão.
Voltou para casa, entrou no quarto mais escondido e chorou prolongadamente. Naquele momento, foi instruída
interiormente sobre a oração e adquiriu a consciência do imenso amor de Deus
por ela, pecadora, uma experiência espiritual que não conseguia expressar com
palavras. Foi nessa ocasião que lhe apareceu Jesus sofredor que carregava a
cruz, como é frequentemente representado na iconografia da santa.
Poucos dias depois, foi ter com o sacerdote para
finalmente realizar uma boa Confissão. Aqui teve início aquela «vida de
purificação» que, durante muito tempo, lhe fez sentir uma dor constante pelos
pecados cometidos e que a impeliu a impor-se penitências e sacrifícios para
demonstrar o seu amor a Deus.
Neste caminho, Catarina foi-se aproximando cada vez
mais do Senhor, até entrar naquela que é denominada «vida unitiva», ou seja,
uma relação de profunda união com Deus. Na Vida está escrito que a sua
alma era orientada e ensinada interiormente só pelo dócil amor de Deus, que lhe
concedia tudo aquilo que ela precisava. Catarina abandonou-se de modo tão total
nas mãos do Senhor que chegou a viver, durante cerca de vinte e cinco anos —
como ela escreve — «sem o intermédio de
qualquer criatura, instruída e governada unicamente por Deus», alimentada
sobretudo pela oração constante e pela Sagrada Comunhão recebida todos os dias,
o que não era comum na sua época. Só muitos anos mais tarde o Senhor lhe
concedeu um sacerdote que cuidasse da sua alma.
Catarina hesitava sempre em confiar e manifestar a
sua experiência de comunhão mística com Deus, sobretudo pela profunda humildade
que sentia diante das graças do Senhor. Foi só a perspectiva de dar glória a
Ele e de poder favorecer o caminho espiritual de outros que a levou a narrar
aquilo que se verificava nela, a partir do momento da sua conversão, que é a
sua experiência originária e fundamental. O lugar da sua ascensão aos vértices
místicos foi o hospital de Pammatone, a maior estrutura hospitalar genovesa, da
qual foi diretora e animadora.
Portanto, não obstante esta profundidade da sua
vida interior, Catarina vive uma existência totalmente ativa. Em Pammatone
foi-se formando ao seu redor um grupo de seguidores, discípulos e colaboradores,
fascinados pela sua vida de fé e pela sua caridade.
O próprio marido, Giuliano Adorno, foi conquistado por ela, a ponto de
abandonar a sua vida desregrada, de se tornar terciário franciscano e de se
transferir para o hospital, para oferecer a sua ajuda à esposa.
O compromisso de Catarina no cuidado dos doentes
continuou até ao fim do seu caminho terreno, a 15 de Setembro de 1510.
Desde a conversão até à morte, não houve
acontecimentos extraordinários, mas dois elementos caracterizaram toda a sua existência:
por um lado a experiência mística, ou seja, a
profunda união com Deus, sentida como uma união esponsal e,
por outro, a assistência aos enfermos, a
organização do hospital e o serviço ao próximo, especialmente aos mais
necessitados e abandonados.
Estes dois polos — Deus e o próximo — preencheram totalmente a sua vida,
transcorrida praticamente entre as paredes do hospital.
Estimados amigos, nunca devemos esquecer que quanto
mais amarmos a Deus e formos constantes na oração, tanto mais conseguiremos
amar verdadeiramente quantos estão ao nosso redor, quem está perto de nós,
porque seremos capazes de ver em cada pessoa o Rosto do Senhor, que ama sem
limites nem distinções.
A mística não cria distâncias em relação ao outro,
não cria uma vida abstrata, mas sobretudo aproxima do outro, porque se começa a
ver e a agir com os olhos, com o Coração de Deus.
O pensamento de Catarina sobre o purgatório, pelo qual ela é particularmente conhecida, está condensado nas últimas duas partes do livro citado no início: o Tratado sobre o purgatório e o Diálogo entre a alma e o corpo. É importante observar que, na sua experiência mística, Catarina jamais tem revelações específicas sobre o purgatório ou sobre as almas que ali estão a purificar-se. Todavia, nos escritos inspirados pela nossa santa, é um elemento central, e o modo de o descrever tem características originais em relação à sua época. O primeiro traço original diz respeito ao «lugar» da purificação das almas. No seu tempo, ele era representado principalmente com o recurso a imagens ligadas ao espaço: pensava-se num certo espaço, onde se encontraria o purgatório. Em Catarina, ao contrário, o purgatório não é apresentado como um elemento da paisagem das vísceras da terra: é um fogo não exterior, mas interior. Este é o purgatório, um fogo interior.
A santa fala do caminho de purificação da alma,
rumo à plena comunhão com Deus, a partir da própria experiência de profunda dor
pelos pecados cometidos, em relação ao amor infinito de Deus.
Ouvimos sobre o momento da conversão, quando Catarina sente
repentinamente a bondade de Deus, a distância infinita da própria vida desta
bondade e um fogo ardente no interior de si mesma. E este é o fogo que
purifica, é o fogo interior do purgatório. Também aqui
há um traço original em relação ao pensamento do tempo. Com efeito, não se
começa a partir do além para narrar os tormentos do purgatório — como era
habitual naquela época e talvez ainda hoje — e depois indicar o caminho para a
purificação ou a conversão, mas a nossa santa começa a partir da própria
experiência interior da sua vida a caminho da eternidade.
A alma — diz Catarina — apresenta-se a Deus ainda
vinculada aos desejos e à pena que derivam do pecado, e isto torna-lhe
impossível regozijar com a visão beatífica de Deus. Catarina afirma que Deus é tão puro e santo que a alma com as manchas
do pecado não pode encontrar-se na presença da majestade divina.
E também nós sentimos como estamos distantes, como
estamos repletos de tantas coisas, a ponto de não podermos ver Deus. A alma está consciente do imenso amor e da
justiça perfeita de Deus e, por conseguinte, sofre por não ter correspondido de
modo correto e perfeito a tal amor, e precisamente o amor a Deus torna-se
chama, é o próprio amor que a purifica das suas escórias de pecado.
Com a sua vida, santa Catarina ensina-nos que quanto mais amamos a Deus
e entramos em intimidade com Ele na oração, tanto mais Ele se faz conhecer e
acende o nosso coração com o seu amor.
Escrevendo acerca do purgatório, a santa
recorda-nos uma verdade fundamental da fé, que se torna para nós um convite a
rezar pelos defuntos, a fim de que eles possam chegar à visão beatífica de Deus
na comunhão dos santos (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1032).
Além disso, o serviço humilde, fiel e generoso, que
a santa prestou durante toda a sua vida no hospital de Pammatone, é um exemplo
luminoso de caridade para todos e um encorajamento especialmente para as
mulheres que oferecem uma contribuição fundamental para a sociedade e a Igreja
com a sua obra preciosa, enriquecida pela sua sensibilidade e pela atenção aos
mais pobres e necessitados.
Obrigado!
Papa Bento XVI, 12 de Janeiro de 2011
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