No entanto, desde a idade de 15 anos, Ana Maria aspirava
a uma verdade ainda mais profunda que aquela que lhe tinha sido transmitida
através da sua educação luterana. Aos 22
anos, ela começou a ler quotidianamente a Sagrada Escritura e a Imitação de
Cristo. Um dia, frente a alguns colegas de seu pai, ela defendeu mesmo a
doutrina da infalibilidade pontifícia. Ela também acreditava na virgindade de
Maria, sem nunca ter estado em contato com católicos, nem ter lido obras
católicas.
Teve a intuição de que Deus a chamaria para seu serviço
quando tivesse 30 anos. Porém, não sabia nem onde, nem como isso ia acontecer.
Ela tudo entregava nas mãos da Divina Providência.
Em fevereiro de 1886, estando ela em Berlim na casa de
amigos, Ana Maria leu num jornal de Colônia um anúncio propondo um trabalho de
enfermeira chefe num hospital psiquiátrico. Seria este o sacrifício, o
tal serviço que ela esteve esperando durante oito anos? Assim, Ana Maria deixou
Berlim para começar a trabalhar na clínica de Lindenburg.
Ela não tinha nenhuma experiência de enfermeira, mas sua
entrega e seu amor quase maternal logo transformaram o asilo num autêntico Lar.
À exceção do diretor, todas as pessoas da clínica de Lindenburg eram católicas.
Um dos sacerdotes que vinha visitar os
doentes ofereceu-lhe um catecismo da Igreja Católica. Nele, ela encontrou o que
até então ela chamava de “sua religião pessoal”. E assim começou rapidamente a
preparar, em segredo, a sua conversão.
O diretor acabou por descobrir as intenções de Ana Maria.
Mandou-a de volta para casa, mas voltou a chamá-la algumas semanas mais tarde.
Aí, quando Ana Maria se preparava para subir no trem com destino a Colônia, seu
pai a exortou de não se converter ao catolicismo. Ela lhe prometeu unicamente “Que tal não aconteceria hoje ou amanhã”.
Quando Ana Maria fez a sua profissão de fé na Igreja Católica, em 30 de Outubro
de 1888, deixou para trás todo o seu passado.
Desaprovada pelo seu pai, despedida de Lindenburg, Ana
Maria colocou toda a sua confiança em Deus. Apesar de se ter proposto para
vários empregos, ela não conseguia um outro trabalho, porque seu diretor tinha
feito uma carta de recomendação pouco favorável. A partir de então, ela se viu
sem trabalho e sem casa. Graças à ajuda de amigos católicos, Ana Maria foi
recebida num convento, onde também se cuidava de pessoas de idade.
Todas as tardes e todas as noites, Ana Maria vinha junto
ao Senhor, frente ao altar do Santíssimo Sacramento, pedia: “Senhor,
segundo a Vossa vontade, mandai-me a trabalhar para a salvação das almas aonde
quiserdes. Escutai o ardente desejo da minha alma de poder demonstrar o meu
amor e a minha gratidão. (...) meu Deus, se for possível, não me mandeis para
Berlim, seja, porém feita a Vossa vontade e não a minha.”
Era deste modo que Ana Maria rezava todos os dias.
Desejava entrar numa ordem religiosa, mas tinha constantemente aquilo a que
chamava “tentações do orgulho” de fundar a sua própria Congregação. Ela não
podia partilhar com ninguém esta sua ideia. Passados 10 meses, ela recebeu
então uma carta da Condessa de Savigny, uma católica fervorosa que vivia em
Berlim, e que lhe propunha trabalho de dama de companhia. Apesar da sua
tristeza à ideia de deixar Colônia, Ana Maria aceitou.
Ana Maria começou a ler A Vida de Santa Teresa de
Jesus. A humildade de Teresa, o seu amor por Deus, o seu desejo ardente de
salvar almas e o seu heroísmo correspondiam perfeitamente a Ana Maria. Desde
então ela queria uma só coisa: entrar no Carmelo. Mas, uma vez mais o seu
confessor a dissuadiu, e ela continuou a resistir à “sua tentação”. Quando o
seu confessor partiu para as missões, Ana Maria procurou o conselho de um outro
padre. As palavras dele foram libertadoras: “Pare de resistir à graça!”
Em Berlim, colocou-se em contato com o Delegado Episcopal
de Berlim, e, obteve autorização para abrir um Lar para crianças. Com 500
marcos, que a Condessa lhe tinha dado, abriu
o primeiro Lar São José, a 2 de Agosto de 1891. Começou por instalar três
crianças, uma educadora e uma empregada doméstica, em alguns quartos de um
prédio antigo, situado em “Pappelallee.” As crianças a chamavam “Mãe” e muito
rapidamente passou a ser conhecida como “Mãe
da Pappelallee”. Mas ainda faltava algo: a presença eucarística. Ana Maria
não se cansava de rezar: “Senhor, se
virdes, eu venho também”, e estava firmemente decidida a só se
instalar no Lar São José, quando o Santíssimo Sacramento aí estivesse presente.
“Deus inflamou o meu coração com tanta
veemência de amor, que todo o sofrimento que a graça de Deus mais tarde me
mandou ou permitiu que caísse sobre mim, não me parecia mais que uma gota de
água que cai em cima de um ferro incandescente”.
Com Jesus e por seu amor, ela estava pronta para tudo
suportar, mas a sua ausência era para ela uma verdadeira tortura.
“Coração
de Jesus, ninguém pode compreender como anseio por Vós. Ninguém é capaz de
contar as lágrimas de desejo que chorei por Vós. Senhor, se virdes, eu venho
também!”
Era esta a sua oração constante. Era a fonte que
alimentava todas as sua atividades apostólicas.A 8 de Dezembro de 1891, Cristo veio morar na “Pappelallee”. Para Ana Maria foi “o dia mais feliz da sua vida”.
“As
nossa almas ganham vida nova na grande fonte de amor que é o Santíssimo Sacramento
e todos os dias se reacendem no fogo do Divino Amor que nunca descansa, mas que
espalha ao redor de si as suas centelhas que são as obras de caridade em que
Ele se consume.”
Em 1897, mais de quarenta jovens se tinham já associado à
obra de Madre Teresa servindo nos Lares São José. Para além dos dois Lares de
crianças em Berlim, havia ainda mais dois em Boêmia e um outro em Oldenburg. Em
Berlim, ela abriu também um centro para os padres que trabalhavam ou estudavam
nesta cidade. No entanto, Madre Maria Teresa não fundava os Lares São José para
serem somente instituições sociais. Em 1891, contemplando a beleza de um pôr do
sol, ela compreendeu a razão de ser das suas fundações:
“A consagração das Servas do Divino Coração de Jesus a:
I – expiação dos pecados,
II – Santificação pessoal,
III – Salvação das almas”.
A partir de Novembro de 1896, Madre Maria Teresa e a sua
comunidade cuidam das crianças e fazem missão nos domicílios, observando ao
mesmo tempo a regra Primitiva da Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
Tal como a sua mãe espiritual, Santa Teresa de Jesus , a
maior alegria da Madre Maria Teresa era a de ser filha da Igreja . A sua
humildade era imensa ao se aperceber que Deus a tinha chamado a si, “uma
filha do deserto”, para fundar uma comunidade religiosa, e para guiar outras
mulheres já nascidas no seio da Igreja. Como
uma verdadeira filha da Igreja, sempre se mostrou fiel e obedeceu aos bispos e
aos ensinamentos da Igreja. A “voz do Bispo” representava para ela o “voz de
Deus”, mesmo quando se tratava de encerrar um convento ou um Lar.
Em 1897, Madre Maria Teresa esperava obter do Cardeal
Kopp, Bispo de Breslau (de que Berlim dependia nessa altura), o reconhecimento
da sua fundação como Congregação religiosa. Apesar de financiar o trabalho das Irmãs,
o prelado continuou inflexível e recusou a aprovação canônica da Congregação.
Seguindo os conselhos de um padre, Madre Maria Teresa decidiu ir procurar ajuda
a Roma. Lá, encontrou o Padre Geral da Ordem do Carmelo, e expôs-lhe o
seu desejo de reunir numa mesma espiritualidade os dois aspectos do espírito do
Carmelo – oração contemplativa e zelo apostólico - para responder às
necessidades da época. Esta iniciativa entusiasmou de tal maneira o Superior
Geral que ele abençoou o seu escapulário e a ajudou a obter uma carta de
recomendação do Cardeal Parocchi, protetor da Ordem do Carmelo.
Contudo, devido a situação tensa que se vivia na Igreja
da Alemanha, o Cardeal Kopp continuou a recusar considerar como religiosas as
irmãs que trabalhavam nos Lares São José. Madre Maria Teresa começou a procura
de um bispo que aceitasse receber as suas noviças e criar uma Casa Mãe em sua
diocese. Durante seis anos, viajou desde a Baviera até à Holanda, passando pela
Inglaterra e pela Itália. Por duas vezes obteve autorização de fundar uma Casa
Mãe, mas circunstâncias adversas a obrigaram a deixar essas dioceses, fechando
os noviciados antes mesmo que as irmãs pudessem pronunciar os seu votos.
Finalmente, em 1904, em Rocca di Papa, Itália, surge a
Casa Mãe. Aí se manteve durante 18 anos, tendo sido transferida para
Sittard depois da primeira Guerra Mundial.
A calúnia e a difamação dos opositores pareciam vir de
todo o lado, onde quer que Madre Maria Teresa se instalasse. Mas nunca ela
retorquiu dizendo mal deles. Durante todos esses anos, teve que enfrentar a
solidão, o afastamento da sua família, a doença e a pobreza.
O sofrimento tinha-se tornado para Madre Maria Teresa uma
fonte de alegria profunda, pois era um meio que ela utilizava para unir sua
alma a Deus, e para, com o Salvador, participar na redenção do mundo.
Ao fundar as Carmelitas do Divino Coração de Jesus, Madre
Maria Teresa entregou-se inteiramente a Deus como vítima do seu amor. Passou a
sua vida servindo os pobres e rezando, trabalhando e sofrendo pela salvação das
almas e pela liberdade da Igreja . Em
1930, o trabalho e o sacrifício de Madre Maria Teresa foram coroados pela
aprovação de sua Congregação pelo Papa Pio XI.
Apesar de muito enfraquecida fisicamente e quase cega,
passava largas horas em oração, de joelhos, frente ao Santíssimo Sacramente, e
continuou sempre meiga e atenciosa para com as suas Irmãs.
Antes de morrer, a 29 de Setembro de 1938, deixou às suas
Irmãs, como sendo sua última vontade e testamento, uma linda declaração:“Tudo o que Deus faz é bem feito. Seja sempre louvado e exaltado o Senhor”.
Durante toda a noite, só teve uma oração: “Tenho de voltar à casa do pai! Deixem-me ir para a casa!”.
Hoje também celebramos:
Santo André Kim e companheiros
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