sábado, 14 de novembro de 2015

Beata Madre Maria Luisa Merkert

Aos trinta e três anos, em 1850, tendo retornado à sua cidade natal de Nysa, na Silésia, depois de um longo caminho espiritual marcado por obstáculos, incompreensões e muitas contrariedades, Maria Merkert encontrou-se totalmente só e cercada de olhares de desconfiança. Mas aquele era o momento designado pela Providência Divina para a atuação do extraordinário carisma com que Deus havia enriquecido a sua serva: ser apóstola da caridade para com os doentes e os mais necessitados. Cada carisma é um dom, uma possibilidade concreta que o Espírito Santo oferece a cada homem e a cada mulher para encontrar-se com o Senhor. Maria Merkert como uma moderna samaritana, havia recebido o carisma de encontrar Jesus padecente, abandonado, doente, naqueles que sofriam. E ela fez-se solidária com eles, servindo os miseráveis, crianças abandonadas e pobres.

O seu pensamento constante era este: "Cuidai de tudo com atenção, assisti os doentes com amor e paciência e não vos ocupeis de nada que impeça o vosso dever".
Maria Merkert não poderia imaginar que aquele ponto do caminho, onde toda a sua obra parecia fracassar, como um mero caso, era o momento escolhido por Deus para provar a sua fé. Ela havia escrito: "Não percamos o ânimo, façamos o que está ao nosso alcance e o mais Deus completará. O mais está nos mãos de Deus".

"O mais está nos mãos de Deus". Deus foi o seu conforto e a sua força, como reconhece o decreto sobre as suas virtudes heroicas da Congregação para a Causa dos Santos, de 20 de Dezembro de 2004. "Maria Merkert perseverou na sua missão em tempos muito difíceis e exortava as suas filhas espirituais a comportar-se com a mesma fidelidade".
A Serva de Deus Maria Merkert, nasceu na cidade de Nysa, na Silésia, a 21 de Setembro de 1817, filha de pais profundamente religiosos. Maria Merkert, com a sua irmã mais velha Matilde, viveu a infância (orfã de pai já aos nove meses de idade) e a juventude nutrida por uma ardente espiritualidade cristã incentivada pelo exemplo de sua mãe. Em 1842 morreu também a sua mãe. A dureza da vida quotidiana e a direção da casa fizeram dela uma mulher cuidadosa, hábil nos trabalhos manuais e muito prudente.

Foi em 1842 que a Providência Divina se manifestou, através de um encontro que se pode pensar tenha sido casual, com a jovem Dorota Clara Wolff, então com trinta e sete anos de idade e interiormente iluminada. Maria se sentiu chamada assim como Clara a cumprir uma particular missão: amar a Deus de modo absoluto, curando os membros sofredores do Corpo de Cristo, segundo as Palavras do Senhor: "Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes (Mt 25, 40). Assim, Maria, sua irmã Matilde, Dorota Clara e a conterrânea Francisca Werner, uniram-se para iniciar a trabalhar sem nenhuma aprovação canônica, nem votos religiosos, buscando imitar Cristo no seu amor misericordioso, assistindo com admirável abnegação os doentes, sobretudo os agonizantes e as crianças abandonadas em suas casas. Maria era sempre vista ao lado das camas num pobre dormitório coletivo, atendendo com paciência e dignidade a cada necessidade material e também espiritual.
Assim, iniciaram a formação religiosa do noviciado e um adequado aprendizado dos métodos de assistência aos doentes, com as irmãs de São Carlos Borromeu de Praga, com a intenção de retornarem a Nysa como irmãs canonicamente reconhecidas, como uma nova congregação. Matilde não pode segui-las, morreu em  março de 1846.
Nessa fase aprendeu o que sabe bem o que é a humilhação e a rejeição. Foi uma dura prova. O ideal das irmãs de São Carlos Borromeu, no entanto, discordava de alguns pontos da missão que Dorota Clara e Maria se sentiam chamadas a cumprir, sobretudo na assistência aos doentes a domicílio, que as irmãs praticavam extraordinariamente. Sentindo a mudança dos seus planos de vida, Dorota Clara deixou o noviciado de Praga e se separou para sempre de Maria.
Esta, cheia de angústia e de perplexidade interior, em 30 de Junho de 1850, juntamente com Francisca Werner decidem deixar as irmãs de São Carlos Borromeu e retornar a Nysa.
Como Jesus só e abandonado no Jardim das Oliveiras, bebeu o cálice amargo, da incompreensão e hostilidade da parte de muitos, escandalizados pela sua decisão. Foi abandonada também pelo seu diretor espiritual, Pe. Francisco Fischer.
Era aquela, porém, a escola da cruz. Sua especial vocação e missão iniciada em 1842, dava-lhe serenidade, confiança e a esperança de que tudo, no final, sairia bem. "Não percamos o ânimo e empenhemo-nos a fazer o que podemos: o mais está nas mãos de Deus".

Francisca Werner e Maria Merkert recomeçaram em Nysa as atividades caritativas sob a proteção de Santa Isabel da Turíngia (1207-1231), conhecida como a santa da caridade para com os indigentes e doentes. A fé destas duas mulheres vinha da proteção divina. Assimilava os ensinamentos da Carta aos Hebreus: "A fé é um modo de possuir desde agora o que se espera" (Hb 11,1). Os sofrimentos morais foram os exercícios onde aprenderam a apoiar-se somente em Deus.
Um ano antes da sua morte, a Serva de Deus escreveu: "Coloquemos fiel e devotamente a nossa vida nas mãos de Deus, pois prometemos dedicar as nossas fracas forças exclusivamente ao seu serviço". Tanto amor oferecido, tanta alegria no sofrimento.
Maria Merkert estava convencida sobre a vontade de Deus e dedicou todas as suas forças aos sofredores e àqueles que necessitavam de ajuda, não temendo nem mesmo pela sua própria vida. A Associação (como eram chamadas as irmãs) constituiu-se em Nysa para curar os doentes abandonados sob a proteção de Santa Isabel. Não era possível, esquecer ou deixar de falar sobre tanta bondade em meio a população e as autoridades civis: em um ano foram tratadas 383 pessoas doentes, distribuídos 11.561 pratos de comida aos pobres.
Em 5 de Março de 1860, pela primeira vez, as irmãs professaram os votos religiosos. Maria Merkert foi eleita a primeira Madre-Geral. Em 1871 a Congregação recebeu o reconhecimento pontifício do Beato Pio IX, confirmado definitivamente em 1887 por Leão XIII.
A longa estrada marcada por ofensas, mágoas, obstáculos, calúnias e heroicos sacrifícios, foi reconhecida pela Igreja como "um caminho de Deus". Hoje as Irmãs de Santa Isabel são aproximadamente 1700 e servem a Igreja e a sociedade em várias nações da Europa e da América Latina; também em Jerusalém testemunham com a vida e o trabalho o amor misericordioso de Deus.
A Serva de Deus, enfraquecida sob o peso da abnegação, do sacrifício, das responsabilidades e do dinamismo em servir que brotou da sua profunda fé, morreu aos 55 anos de idade, em 14 de Novembro de 1872. As co-irmãs, "órfãs", saudaram-na como uma mãe: "Adeus, nossa amada, querida e boa Mãe". A sua figura permanece viva e atual porque os sofredores na Igreja têm sempre necessidade de ajuda de um "bom Samaritano".


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