Aos
trinta e três anos, em 1850, tendo retornado à sua cidade natal de Nysa, na
Silésia, depois de um longo caminho espiritual marcado por obstáculos,
incompreensões e muitas contrariedades, Maria Merkert encontrou-se totalmente só e
cercada de olhares de desconfiança. Mas aquele era o momento designado pela
Providência Divina para a atuação do extraordinário carisma com que Deus havia
enriquecido a sua serva: ser apóstola da caridade para com os doentes e os mais
necessitados. Cada carisma é um dom, uma possibilidade concreta que o Espírito
Santo oferece a cada homem e a cada mulher para encontrar-se com o Senhor. Maria Merkert como uma moderna samaritana,
havia recebido o carisma de encontrar Jesus padecente, abandonado, doente,
naqueles que sofriam. E ela fez-se solidária com eles, servindo os miseráveis,
crianças abandonadas e pobres.
O
seu pensamento constante era este: "Cuidai
de tudo com atenção, assisti os doentes com amor e paciência e não vos ocupeis
de nada que impeça o vosso dever".
Maria Merkert não poderia imaginar que
aquele ponto do caminho, onde toda a sua obra parecia fracassar, como um mero
caso, era o momento escolhido por Deus para provar a sua fé. Ela havia escrito:
"Não percamos o ânimo, façamos o que está ao nosso alcance e o mais Deus
completará. O mais está nos mãos de Deus".
"O mais está nos mãos de
Deus". Deus foi o seu conforto e a
sua força, como reconhece o decreto sobre as suas virtudes heroicas da
Congregação para a Causa dos Santos, de 20 de Dezembro de 2004. "Maria Merkert perseverou na sua
missão em tempos muito difíceis e exortava as suas filhas espirituais a
comportar-se com a mesma fidelidade".
A
Serva de Deus Maria Merkert, nasceu na cidade de Nysa, na Silésia, a 21 de
Setembro de 1817, filha de pais profundamente religiosos. Maria Merkert, com a
sua irmã mais velha Matilde, viveu a infância (orfã de pai já aos nove meses de
idade) e a juventude nutrida por uma ardente espiritualidade cristã incentivada
pelo exemplo de sua mãe. Em 1842 morreu também a sua mãe. A dureza da vida
quotidiana e a direção da casa fizeram dela uma mulher cuidadosa, hábil nos
trabalhos manuais e muito prudente.
Foi
em 1842 que a Providência Divina se manifestou, através de um encontro que se
pode pensar tenha sido casual, com a jovem Dorota Clara Wolff, então com trinta
e sete anos de idade e interiormente iluminada. Maria se sentiu chamada assim como Clara a cumprir uma particular
missão: amar a Deus de modo absoluto, curando os membros sofredores do Corpo de
Cristo, segundo as Palavras do Senhor: "Todas as vezes que fizestes isto a
um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes (Mt 25,
40). Assim, Maria, sua irmã Matilde, Dorota Clara e a conterrânea Francisca
Werner, uniram-se para iniciar a trabalhar sem nenhuma aprovação canônica, nem
votos religiosos, buscando imitar Cristo no seu amor misericordioso, assistindo
com admirável abnegação os doentes, sobretudo os agonizantes e as crianças
abandonadas em suas casas. Maria era sempre vista ao lado das camas num pobre
dormitório coletivo, atendendo com paciência e dignidade a cada necessidade
material e também espiritual.
Assim,
iniciaram a formação religiosa do noviciado e um adequado aprendizado dos métodos
de assistência aos doentes, com as irmãs de São Carlos Borromeu de Praga, com a
intenção de retornarem a Nysa como irmãs canonicamente reconhecidas, como uma
nova congregação. Matilde não pode segui-las, morreu em março de 1846.
Nessa
fase aprendeu o que sabe bem o que é a humilhação e a rejeição. Foi uma dura
prova. O ideal das irmãs de São Carlos Borromeu, no entanto, discordava de
alguns pontos da missão que Dorota Clara e Maria se sentiam chamadas a cumprir,
sobretudo na assistência aos doentes a domicílio, que as irmãs praticavam
extraordinariamente. Sentindo a mudança dos seus planos de vida, Dorota Clara
deixou o noviciado de Praga e se separou para sempre de Maria.
Esta,
cheia de angústia e de perplexidade interior, em 30 de Junho de 1850,
juntamente com Francisca Werner decidem deixar as irmãs de São Carlos Borromeu
e retornar a Nysa.
Como
Jesus só e abandonado no Jardim das Oliveiras, bebeu o cálice amargo, da
incompreensão e hostilidade da parte de muitos, escandalizados pela sua
decisão. Foi abandonada também pelo seu diretor espiritual, Pe. Francisco
Fischer.
Era
aquela, porém, a escola da cruz. Sua especial vocação e missão iniciada em
1842, dava-lhe serenidade, confiança e a esperança de que tudo, no final,
sairia bem. "Não percamos o ânimo e
empenhemo-nos a fazer o que podemos: o mais está nas mãos de Deus".
Francisca
Werner e Maria Merkert recomeçaram em Nysa as atividades caritativas sob a
proteção de Santa Isabel da Turíngia (1207-1231), conhecida como a santa da
caridade para com os indigentes e doentes. A fé destas duas mulheres vinha da
proteção divina. Assimilava os ensinamentos da Carta aos Hebreus: "A fé é
um modo de possuir desde agora o que se espera" (Hb 11,1). Os
sofrimentos morais foram os exercícios onde aprenderam a apoiar-se somente em
Deus.
Um
ano antes da sua morte, a Serva de Deus escreveu: "Coloquemos fiel e devotamente a nossa vida nas mãos de Deus, pois
prometemos dedicar as nossas fracas forças exclusivamente ao seu serviço".
Tanto amor oferecido, tanta alegria no sofrimento.
Maria Merkert estava convencida sobre a
vontade de Deus e dedicou todas as suas forças aos sofredores e àqueles que
necessitavam de ajuda, não temendo nem mesmo pela sua própria vida. A Associação (como eram chamadas as irmãs) constituiu-se
em Nysa para curar os doentes abandonados sob a proteção de Santa Isabel. Não
era possível, esquecer ou deixar de falar sobre tanta bondade em meio a
população e as autoridades civis: em um ano foram tratadas 383 pessoas doentes,
distribuídos 11.561 pratos de comida aos pobres.
Em
5 de Março de 1860, pela primeira vez, as irmãs professaram os votos
religiosos. Maria Merkert foi eleita a primeira Madre-Geral. Em 1871 a
Congregação recebeu o reconhecimento pontifício do Beato Pio IX, confirmado
definitivamente em 1887 por Leão XIII.
A
longa estrada marcada por ofensas, mágoas, obstáculos, calúnias e heroicos
sacrifícios, foi reconhecida pela Igreja como "um caminho de Deus".
Hoje as Irmãs de Santa Isabel são aproximadamente 1700 e servem a Igreja e a
sociedade em várias nações da Europa e da América Latina; também em Jerusalém
testemunham com a vida e o trabalho o amor misericordioso de Deus.
A
Serva de Deus, enfraquecida sob o peso da abnegação, do sacrifício, das
responsabilidades e do dinamismo em servir que brotou da sua profunda fé, morreu
aos 55 anos de idade, em 14 de Novembro de 1872. As co-irmãs,
"órfãs", saudaram-na como uma mãe: "Adeus, nossa amada, querida
e boa Mãe". A sua figura permanece
viva e atual porque os sofredores na Igreja têm sempre necessidade de ajuda de
um "bom Samaritano".
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