Pierina Morosini era a mais
velha dos nove filhos do casal Roque e Sara Morosini, humildes camponeses da
Diocese de Bérgamo, ao norte da Itália. Nasceu em 1931. À medida que foi
crescendo, a sua mãe ensinou-lhe as principais verdades da Fé e incutiu-lhe o santo
temor de Deus.
Como a mãe recitasse com os
filhos as orações da manhã e da noite, e os fizesse repetir os elementos do
Catecismo, aos 4 anos Pierina já sabia de memória muitas orações, os Atos de
Fé, Esperança, Caridade e Contrição, além dos Mandamentos e das Obras de
Misericórdia.
Assim preparada, recebeu o
Crisma aos 6 anos e a Primeira Comunhão aos 7 anos. Desde cedo mostrou aptidões
para a vida religiosa, desejando ser missionária franciscana. Aos 16 anos, com
licença do confessor, fez voto de castidade e depois acrescentou os votos
particulares de pobreza e obediência.
Modesta, prudente, simples
e, principalmente, muito pura, Pierina obteve sempre o primeiro prêmio, com
distinção, em todas as provas que fez no curso primário. Renunciou, no entanto,
prosseguir os estudos, para auxiliar o pai no sustento da numerosa família. A
renúncia mais dolorosa, porém, consistiu em retardar a entrada para o convento,
pois a invalidez do pai devido a um acidente obrigou-a a tornar-se o arrimo da
família.
Aprendeu corte e costura aos
11 anos e aos 13 costurava com perfeição roupas para toda família. Aos 15 anos
empregou-se numa fábrica de tecelagem.
Era sempre amável no
trabalho, sem contudo ceder nada em matéria de moral e de costumes. De
tal modo era venerada na empresa onde trabalhava, que logo ao terem
conhecimento de sua morte suas companheiras dividiram entre si o avental de
Pierina, a fim de guardar dela uma relíquia.
Tendo que caminhar cerca de
três horas diariamente para ir ao trabalho, Pierina preenchia este tempo
rezando o Rosário. Uma parte do trajeto rezava-o com as companheiras de
trabalho e o restante, sozinha. Ela incentivava as companheiras a rezarem,
embora algumas tivessem respeito humano. "Aqui, no meio de todos dá
vergonha!", dizia uma. Mas ela: "Eu rezo aqui e não penso mais
nisso". "Riem de você, Pierina!". Era inútil, ela
continuava firme.
Além de trabalhar oito horas
no Cotonifício, Pierina tinha um outro "turno” em casa, onde
costurava ou remendava as roupas dos familiares em sua máquina de costura,
cozinhava, limpava, enfim, fazia o que podia para aliviar a pesada carga de sua
mãe, que além de cuidar de uma família de 11 pessoas, atendia a algumas
crianças cujos pais tinham que trabalhar e ficavam aos seus cuidados. "O
tempo é mais precioso do que o ouro!", repetia freqüentemente Pierina.
Enquanto trabalhava rodeada
dos irmãozinhos e das outras crianças, contava para eles episódios do Evangelho
e da vida dos Santos, ou fazia com que rezassem em voz alta. Quantas jovens
foram instruídas por ela no Catecismo! Tinha um jeito especial para
convencê-las a fazer o bem. Algumas vezes levava com ela os álbuns ilustrados
de Dom Bosco e Domingos Sávio - que havia comprado para ensinar seus irmãos - e
os lia, explicava, mostrava as belas ilustrações a cores".
À noite, quando todos já
dormiam, Pierina lia à luz de uma vela (a eletricidade só chegaria a sua aldeia
em 1955) os seus livros comprados com grande sacrifício. Entre suas leituras
estão: Santa Gema Galgani, Santo Cura d'Ars (que leu várias vezes), Padre
Daniel de Samarate, o apóstolo dos leprosos no Brasil, São João Bosco, São
Domingos de Sávio... Além destes, o "A jovem piedosa", que
continha orações e meditações adaptadas às jovens, e "A grande
promessa" sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
Seu amor à virtude da pureza
levou-a a tomar como protetora Santa Maria Goretti. A única vez que a jovem
saiu dos limites da região onde residia foi quando viajou a Roma a fim de
assistir à canonização de sua protetora, que ocorreu no dia 27 de abril de
1947.
Uma outra frase escrita à
mão por Pierina em seu livro de orações, para ela poder lê-la e meditá-la,
deixa transparecer a sua espiritualidade: “A virgindade é um profundo
silêncio de todas as coisas da terra”.
Segundo o testemunho de seus
conterrâneos, Pierina sempre foi muito recatada. Todos diziam que ela era uma
moça diferente das demais. O seu avental de trabalho tinha mangas compridas e
ela o mantinha fechado até o pescoço. Quando fazia calor lhe
diziam: "Mas, abre um pouco!" Ela sorria, limitando-se a
enxugar o suor com um lenço muito limpo. Ela estava sempre limpa e bem
penteada.
Conheceu o Padre Luciano em
abril de 1946, quando sofreu um acidente na fábrica e precisou se recuperar no
Hospital onde ele era Capelão. Ele foi o seu único diretor espiritual. Sobre
uma página branca de seu livro de orações ela havia escrito uma frase que
resume a sua conduta em relação ao diretor espiritual: "A minha
vocação: me deixarei conduzir como uma menina de um dia".
Entre os livros de Pierina
foi encontrada uma folha datilografada contendo um "Pequeno
regulamento diário" que era uma verdadeira regra de vida. Embora
no mundo, Pierina levava uma vida de verdadeira religiosa. Consagrou-se
como escrava a Nossa Senhora, segundo o método daquele grande santo, fazendo
todas as ações do dia em união com a Virgem Imaculada.
Os sete propósitos revelam
bem sua espiritualidade simples e ardente:
"Sou toda Vossa e tudo quanto possuo Vos ofereço,
amável Jesus, por meio de Maria Vossa Mãe Santíssima".
- Me esforçarei para manter a paz na família;
- Quando o cansaço me enfraquecer, me mostrarei
sempre alegre;
- Terei sumo respeito por mamãe; a obedecerei e
não responderei grosseiramente;
- Não comerei nenhuma guloseima;
- Durante o dia procurarei permanecer na presença
de Deus, farei comunhões espirituais e rezarei jaculatórias;
- Não buscarei saber coisas dos outros;
- Não direi nunca palavra em meu louvor e procurarei estar escondida aos olhos dos homens.
Pierina comungava
diariamente, mesmo nos dias mais rigorosos do inverno, levantando-se às quatro
horas da madrugada para participar da Missa.
No dia 4 de abril de 1957,
quinta-feira, Pierina saiu da fábrica onde trabalhava, em Cedrina, dirigindo-se
a sua casa.
Chegando a um trecho mais
despovoado da estrada, foi abordada por um jovem que de há muito pretendera, em
vão, manter conversa com ela. Ela acelerou seus passos e rezou mais
fervorosamente. O rapaz, no entanto, a alcançou, passando a fazer-lhe propostas
indecorosas em tom de ameaça. Pierina procurou correr, mas o rapaz segurou-a.
Ela, porém, lutou valentemente contra o jovem. Desvairado, o rapaz apanhou uma grande
pedra e por oito vezes atingiu violentamente o seu crânio. Ela ainda caminhou
vinte passos, mas depois caiu por terra desfalecida.
Em sua casa todos a
aguardavam com impaciência. Seu irmão, Santo, pressentindo alguma tragédia,
deixou de lado os livros e saiu à procura da irmã. Depois de muito a procurar,
encontrou-a caída sob algumas árvores do caminho, a cabeça mergulhada numa poça
de sangue, o rosário junto às mãos. Conduzida agonizante a um hospital de
Bérgamo, veio a falecer 40 horas depois do crime, no dia 6 de abril de 1957,
primeiro sábado do mês.
Em janeiro de 1976 foi
aberto o processo de beatificação dessa nova mártir da pureza, morta aos vinte
e cinco anos de idade. A fama do martírio, que correu por toda parte, foi
finalmente confirmada pela Santa Sé a 16 de junho de 1987, depois de rigoroso
processo. Pierina foi beatificada no domingo, 4 de outubro de 1987, e é
comemorada pela Santa Igreja no dia 6 de abril.
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