quarta-feira, 30 de julho de 2014

Papa Francisco fala aos Jesuítas



"O brasão de nós Jesuítas é um monograma, significa “Iesus Hominum Salvator” (IHS). Cada um de vós poderá dizer-me: sabemos disso muito bem! Mas este brasão nos recorda continuamente uma realidade que não devemos nunca esquecer: a centralidade de Cristo para cada um de nós e para toda a Companhia, que Santo Inácio quis propriamente chamar de “de Jesus” para indicar o ponto de referência. Além disso, também no início dos Exercícios Espirituais, coloca-nos diante do nosso Senhor Jesus Cristo, do nosso Criador e Salvador (cfr EE, 6). E isto leva todos nós Jesuítas e toda a Companhia a sermos “descentralizados”, a ter adiante o “Cristo sempre maior”, o “Deus sempre maior”, o “intimior intimo meo“, que nos leva continuamente para fora de nós mesmos, leva-nos a uma certa kenosis, a “sair do próprio amor, querer e interesse” (EE, 189). Não é descontada a pergunta para nós, para todos nós: Cristo é o centro da minha vida? Coloco verdadeiramente Cristo no centro da minha vida? Porque há sempre a tentação de pensar estarmos nós no centro. E quando um Jesuíta coloca a si mesmo no centro e não Cristo, erra. Na primeira Leitura, Moisés repete com insistência ao povo para amar o Senhor, para caminhar pelos seus caminhos, “porque é Ele a tua vida” (cfr Dt 30, 16.20). Cristo é a nossa vida! À centralidade de Cristo corresponde também a centralidade da Igreja: são dois focos que não se pode separar: eu não posso seguir Cristo se não na Igreja e com a Igreja. E também neste caso nós Jesuítas e toda a Companhia não estamos no centro, estamos, por assim dizer, “movidos”, estamos a serviço de Cristo e da Igreja, a Esposa de Cristo nosso Senhor, que é a nossa Santa Mãe Igreja Hierárquica (cfr EE, 353). Ser homens enraizados e fundados na Igreja: assim nos quer Jesus. Não pode haver para nós caminhos paralelos ou isolados. Sim, caminhos de busca, caminhos criativos, sim, isto é importante: ir rumo às periferias, às tantas periferias. Por isto requer criatividade, mas sempre em comunidade, na Igreja, com esta pertença que nos dá coragem para seguir adiante. Servir Cristo é amar esta Igreja concreta, e servi-la com generosidade e espírito de obediência.

Qual é o caminho para viver esta dupla centralidade? Olhemos para a experiência de São Paulo, que é também a experiência de Santo Inácio. O Apóstolo, na Segunda Leitura que escutamos, escreve: esforço-me para correr rumo à perfeição de Cristo “porque também eu fui conquistado por Jesus Cristo” (Fil 3,12). Para Paulo, aconteceu no caminho de Damasco, para Inácio na sua casa de Loyola, mas o ponto fundamental é comum: deixar-se conquistar por Cristo. Eu procuro Jesus, eu sirvo Jesus porque Ele me procurou primeiro, porque fui conquistado por Ele: e este é o coração da nossa experiência. Mas Ele é o primeiro. Em espanhol, há uma palavra que é muito gráfica, que o explica bem: Ele nos “primeireia”, “Ele nos primeireia”. É o primeiro sempre. Quando nós chegamos, Ele já chegou e nos espera. E aqui gostaria de chamar a meditação para o Reino da Segunda Semana. Cristo, Nosso Senhor, Rei eterno, chama cada um de nós dizendo-nos: “quem quer vir comigo deve trabalhar comigo, para que seguindo-me no sofrimento, siga-me também na alegria” (EE, 95): Ser conquistado por Cristo para oferecer a este Rei toda a nossa pessoa e todo o nosso cansaço (cfr EE, 96); dizer ao Senhor querer fazer tudo pelo seu maior serviço e louvor, imitá-lo no suportar também as injúrias, desprezo, pobreza (cfr EE, 98). Mas penso no nosso irmão na Síria neste momento. Deixar-se conquistar por Cristo significa estar sempre voltado para o que está na frente, em direção à meta de Cristo (cfrFil 3,14) e perguntar-se com verdade e sinceridade: O que tenho feito por Cristo? O que faço por Cristo? O que devo fazer por Cristo?"

Papa Francisco 31/07/2013

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