Beato Mariano Mullerat I Soldevila |
Mariano não tem dificuldade em encontrar na profissão médica a saída natural para o chamado de serviço que ele sente, muito forte, dentro de si. Acima de tudo, ele adora ajudar os pobres, que não podem pagar, e os doentes no fim da vida, que ele acompanha segurando a mão até o fim, preparando-os também para receber os sacramentos.
"A Catalunha será cristã ou não será". Esse é o compromisso preciso de Mariano, que em algum momento de sua vida também é eleito prefeito de sua cidade, Arbeca. Todo mundo vota nele, crentes ou não, porque "as pessoas o amavam", como disse o Cardeal Becciu. Com seu exemplo e seu testemunho, ele propõe um tema que após alguns anos será tratado no Concílio Vaticano II e estará no centro da exortação apostólica pós-sinodal "Christifideles laici" de João Paulo II: o compromisso dos católicos leigos para "sujar as mãos" na administração da sociedade. Mariano faz isso com atividade política, porque "ele já havia entendido o que era então um ensinamento de Paulo VI: que a política é a mais alta forma de caridade", continua o Cardeal Becciu.
Mariano também é o marido atencioso de Dolores, com quem ele forma uma família que é uma célula realmente saudável em uma sociedade em crise: também se torna um pai amoroso de cinco filhas. Algumas se tornarão religiosas, um sinal de que Mariano e Dolores interpretaram bem a ideia da família como uma Igreja doméstica, permitindo que as meninas respirem o ar perfumado da Palavra de Deus que torna todas as coisas novas, experimentem fidelidade à Missa e ao Adoração do Santíssimo Sacramento.
Além disso, o novo Beato também está muito
próximo da espiritualidade dominicana. Sua cunhada, na verdade, era monja
da Anunciação e ele, como médico, cuida da saúde das religiosas e como prefeito
cuida das escolas administradas pela Ordem.
Após sua morte, será uma das freiras a quem
ajudava que vai se lembrar dele assim: “No início da guerra civil,
ele nos visitava frequentemente para nos encorajar e ter esperança; ele
nos pediu para sermos fortes diante do perigo que nos ameaçava e nunca deixamos
de pedir sua ajuda".
De acordo com a filha dele, ele amava os pacientes e, quando a
família do doente era pobre, o médico deixava dinheiro debaixo do
travesseiro.
Além disso, Mariano era muito religioso. Na casa dele, mandou construir
um pequeno oratório com um crucifixo.
“Nós, suas filhas, temos o prazer de venerar esta imagem. Toda noite, antes de irmos para a cama, sentimos como se um ímã nos aproximasse daquele Cristo. Rezamos, damos graças e refletimos sobre como foi o nosso dia”, revela uma das filhas do médico.
E aqui a situação na Espanha precipita. Em 13 de agosto de 1936, Mariano é retirado de sua casa e preso. A motivação oficial gira em torno de uma questão de facções políticas, mas a verdade é que Mariano é um cristão, um indivíduo agora desconfortável.
A filha ainda lembra que, em 13 de agosto de 1936, às seis horas da
manhã, a avó dela disse que era para todos saírem de casa porque tinham ido
buscar o pai. Cerca de 25 guardas estavam na rua e cinco entraram e reviraram
toda a casa. “Meu pai quis beijar o crucifixo. Um guarda o seguiu e
ficou impressionado com a imagem. Tanto que quando os outros quiseram entrar,
ele não deixou. Foi assim que o crucifixo o salvou”, disse a mulher.
Adela Mullerat ainda conta: “Nós nos reunimos na entrada da casa para dar adeus ao meu pai. No bolso dele, ele levava um crucifixo e alguns remédios. Um deles serviu para curar um de seus perseguidores, que ficou ferido ao disparar a arma de fogo”.
Consciente do destino que o aguardava, Mariano Mullerat proferiu as seguintes palavras ao se despedir da sua esposa: "Dolores, perdoa-lhes como eu os perdoo".
Quando o levam embora em uma van, uma mulher
pede aos guardas, chorando, para permitir que o dr. Mariano visite seu filho
gravemente doente. Ele não terá permissão, mas Mariano escreve algo em um
pedaço de papel e a olha nos olhos: “Não chore. Seu filho não vai
morrer. Dê a ele este remédio e reze para que Deus o ajude”, ele a
consola.
Chegando na forca, antes de ser morto, as testemunhas dizem que até o fim ele ora em voz alta e pede a todos que o façam, tanto que um de seus torturadores o acerta na boca para fazê-lo parar. Mas não adianta.
É assim que devemos aprender a ser cristãos. O
legado que o novo Beato nos deixa, como nos disse o Cardeal Becciu: "A
coragem de testemunhar a Cristo até o fim, em todos os ambientes, diante de
todas as dificuldades, sempre".
Mariano Mullerat I Soldevila foi beatificado no dia 23 de março de 2019, na Catedral de Tarragona na Espanha, em cerimônia presidida pelo Cardeal Angelo Becciu, que na sua homilia declarou:
“Trata-se de uma bela figura de leigo, realmente interessante e
edificante. Como médico, distinguiu-se pela sua religiosidade que o inspirava a
se dedicar aos outros, sobretudo aos mais necessitados de assistência médica
gratuita. Mariano era um homem moderno: como médico amou os enfermos; como
político, serviu o povo, com caridade. Era um verdadeiro cristão: era fiel às
práticas de piedade, à adoração ao Santíssimo Sacramento e à Missa. Eis a
explicação desta sua força espiritual, da sua energia e da sua disponibilidade
e amor com os outros. Diante da morte, Mariano encorajava seus cinco
companheiros ao patíbulo, a perdoar seus perseguidores e algozes e a dar
testemunho da sua fé em Cristo”.
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