sábado, 2 de janeiro de 2016

Santos Basílio Magno e Gregório Nazianzeno

Como uma só alma em dois corpos

“Encontramo-nos em Atenas. Como o curso de um rio, que partindo da única fonte se divide em muitos braços, Basílio e eu nos tínhamos separado para buscar a sabedoria em diferentes regiões. Mas voltamos a nos reunir como se nos tivéssemos posto de acordo, sem dúvida porque Deus assim quis.
Nesta ocasião, eu não apenas admirava meu grande amigo Basílio vendo-lhe a seriedade de costumes e a maturidade e prudência de suas palavras, mas ainda tratava de persuadir a outros que não o conheciam tão bem a fazerem o mesmo. Logo começou a ser considerado por muitos que já conheciam sua reputação.

Que acontece então? Ele foi quase o único entre todos os que iam estudar em Atenas a ser dispensado da lei comum; e parecia ter alcançado maior estima do que comportava sua condição de novato. Este foi o prelúdio de nossa amizade, a centelha que fez surgir nossa intimidade; assim fomos tocados pelo amor mútuo.

Com o passar do tempo, confessamos um ao outro nosso desejo: a filosofia era o que almejávamos. Desde então éramos tudo um para o outro; morávamos juntos, fazíamos as refeições à mesma mesa, estávamos sempre de acordo aspirando aos mesmos ideais e cultivando cada dia mais estreita e firmemente nossa amizade.
Movia-nos igual desejo de obter o que há de mais invejável: A ciência; no entanto, não tínhamos inveja, mas valorizávamos a emulação. Ambos lutávamos, não para ver quem tirava o primeiro lugar, mas para cedê-lo ao outro. Cada um considerava como própria a glória do outro.

Parecia que tínhamos uma só alma em dois corpos. E embora não se deva dar crédito àqueles que dizem que tudo se encontra em todas as coisas, ao nosso caso podia se afirmar que de fato cada um se encontrava no outro e com o outro.

A única tarefa e objetivo de ambos era alcançar a virtude e viver para as esperanças futuras, de tal forma que, mesmo antes de partirmos desta vida, tivéssemos emigrado dela. Nesta perspectiva, organizamos toda a nossa vida e maneira de agir. Deixamo-nos conduzir pelos mandamentos divinos estimulando-nos mutuamente à prática da virtude. E, se não parecer presunção minha dizê-lo, éramos um para o outro regra e o modelo para discernir o certo e o errado.

Assim como cada pessoa tem um sobrenome recebido de seus pais ou adquirido de si próprio, isto é, por causa da atividade ou orientação de sua vida, para nós a maior atividade e o maior nome era sermos realmente cristãos e como tal reconhecidos.”

São Gregório de Nazianzeno

Os dois Santos celebrados em conjunto pela Igreja foram amigos e seguiram carreiras paralelas. Ambos provinham de famílias de santos, ambos foram monges, bispos e lutaram contra o arianismo, a grande heresia da época.
São Basílio, nasceu no ano 330 e era neto de Santa Macrina, filho de Santa Emélia e irmão de São Gregório de Nissa, de São Pedro de Sebaste e de outra Santa Macrina. Foi bispo de Cesaréia e escreveu a célebre Regra dos Monges do Oriente. Basílio Magno, como também é conhecido, começou sua caminhada como orador. É chamado Magno em virtude de sua intensa atividade pastoral, de seus sermões e escritos em defesa da religião.
Ele criou na cidade de Cesaréia uma verdadeira cruzada de serviço aos pobres, fundando hospitais, asilos, casas de repousos, escolas de artesanato e outras obras caritativas. Escrevia "A quem fiz justiça conservando o que é meu? Diga-me, sinceramente, o que lhe pertence? De quem recebeu? Se cada um se contentasse com o necessário e desse aos pobres o supérfluo, não haveria nem ricos nem pobres".
Ele faleceu aos 50 anos no dia 01 de Janeiro de 379 e São Gregório Nazianzeno, também comemorado nesta data; disse no dia do enterro: “Basílio santo, nasceu entre os santos. Basílio pobre viveu pobre entre os pobres. Basílio, filho de mártires, sofreu como um mártir. Basílio pregou sempre; com seus lábios e com seus exemplos, e seguirá pregando sempre com seus escritos admiráveis”.           
São Gregório Nazianzeno era filho de São Gregório, o Velho e de Santa Nona, e irmão de Santa Gorgônia. Como Patriarca de Constantinopla, presidiu ao primeiro Concílio de Constantinopla, que definiu solenemente a Divindade do Espírito Santo. Foi perseguido pelos hereges arianos, que o forçaram a deixar sua cátedra, retornando então à vida de monge.
Gregório morreu no ano 390. Dentre o seu legado encontramos quase cinquenta sermões e duzentas e quarenta e quatro cartas, que tratam, em especial, sobre a verdadeira divindade do Espírito Santo e da santidade da Virgem Maria como Mãe de Deus.
Sua inspiração poética também nos presenteou com cerca de quatrocentos poemas. Seus sermões e escritos deixaram um tesouro de testemunho ortodoxo, em um tempo de muita confusão e luta interna na Igreja de Roma.




Nenhum comentário:

Postar um comentário