Uma jovem escrava, usada por Deus para levar a fé
aos pagãos. Nos primeiros anos do século IV, nas terras entre o mar Negro e o
mar Cáspio, hoje território da Geórgia, vivia uma jovem escrava cristã chamada
Nina ou Nuné. Sua vida é um grande testemunho de que nada é coincidência, mas
tudo é providência. Os Georgianos consideram-na o instrumento providencial da
sua conversão.
A partir do ano 300 os bárbaros começaram a invadir
a região oriental do império romano, saqueando cidades e levando prisioneiros
para serem vendidos como escravos. E a região da Capadócia e sua vizinhança
havia sido evangelizada desde as primeiras viagens missionárias de Paulo.
Muitos desses escravos tiveram oportunidade de testemunhar sua fé nas terras
pagãs para onde eram levados. Se em Roma o cristianismo exigia definições mais
elaboradas da doutrina, por outro lado, as primeiras sementes evangélicas eram
lançadas nas terras pagãs da Geórgia. Era o Espírito de Deus em ação.
Nina era uma escrava que demonstrava toda sua fé em
Cristo, na alegria com que enfrentava as dificuldades e os sofrimentos. Esse
fato chamou a atenção dos pagãos com quem convivia. Assim, teve a oportunidade
de ensinar a palavra de Cristo a todos os que a cercavam. Tornou-se tão
conhecida que passaram a chamá-la de “Cristiana”, a serva cristã.
A antiga tradição russa narra que, certa vez, uma
senhora procurou-a, pedindo que solicitasse a intervenção de Deus para que seu
filho, gravemente enfermo, não morresse. Nina se ajoelhou aos pés da cama onde
estava a criança e rezou com tanto fervor e disse: “Eu não posso fazer nada, mas
Deus Todo-Poderoso pode restituir-lhe a saúde, se for essa a Sua vontade”. Deitou o moribundo no seu próprio catre, cobriu-o com o
seu cilício, orou a Deus em nome de Cristo e, a seguir, restituiu à mãe o filho
curado. O menino abriu os olhos, sorriu e levantou-se na frente de
todos. Foi o bastante para que toda a região mostrasse interesse pela religião
da serva de Cristo. Quanto mais prodígios ela promovia, mais catequizava e
convertia os pagãos.
Até que, um dia, a rainha desse povo, chamada Nana,
adoeceu gravemente e nenhum remédio conseguia fazê-la melhorar. Tentaram de
tudo. Nada parecia possível. Então, alguém se lembrou dos chamados “poderes” da
serva cristã. Como último recurso, foram sugeridos à rainha, que mandou
chamá-la. Assim, essa humilde escrava foi ao palácio atender a rainha, levando
consigo apenas a certeza de sua fé e a confiança de suas orações. Logo
conseguiu curar a soberana.
Enquanto ela se recuperava, seu marido, o rei
Mirian, certo dia, saiu em comitiva para uma caçada. Mas o grupo acabou isolado
no bosque devido a uma violentíssima tempestade. A situação era crítica, com
trovões e raios incendiando árvores, pedras rolando ao vento e atingindo
pessoas. O pavor tomou conta de todos, clamaram por seus deuses, mas nada
acontecia. Lembrando-se da rainha, o rei decidiu rezar para o Deus de
Cristiana. Uma luz, então, foi vista saindo do céu, a tempestade cessou e todos
puderam regressar sãos e salvos à Corte. Nesse instante, o rei sentiu a fé
invadir seu coração.
Ao voltar, procurou a escrava Nina e lhe pediu que
falasse tudo o que sabia sobre sua religião. Acabou catequizado e convertido.
Entretanto os reis Mirian e Nana não podiam ser batizados, pois na Corte não
havia nenhum bispo. Seguindo a orientação de Cristiana, o rei enviou esse
pedido ao imperador Constantino.
Nesse meio tempo, mandou construir a primeira
igreja cristã, de acordo com uma planta feita sob orientação de Nina, já
liberta. Quando chegou o primeiro bispo da Geórgia acompanhado de um grupo de
sacerdotes missionários, encontraram o povo já abraçando a doutrina de santa
Nina, como os fiéis a chamavam por força de sua piedade e prodígios de fé. Com
facilidade, converteram a nação inteira, a partir da grande solenidade do
batismo do casal real. Depois, junto com o bispo, o rei Mirian e a rainha Nana
construíram o Mosteiro Samtavro, anexo àquela igreja, onde mais tarde foram
sepultados. Nele também viveu alguns anos santa Nina, que morreu no ano 330.
Venerada pelos fiéis como padroeira da Geórgia,
suas relíquias estão guardadas na Catedral da Metiskreta, antiga capital do
país. Seu culto foi confirmado, sendo realizado, no Oriente, em 14 de janeiro,
enquanto a Igreja de Roma a comemora no dia 15 de dezembro.
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