O batismo conferido por São
João não era da mesma natureza que o Batismo sacramental, instituído
posteriormente por Nosso Senhor Jesus Cristo. Provinha verdadeiramente de Deus,
mas não tinha o poder de conferir a graça santificante. O próprio Batista pôs em
realce a diferença: "Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais
poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das
sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo." (Lc 3, 16).
O efeito do batismo de João
consistia num incentivo ao arrependimento dos pecados, explica São Tomás de
Aquino.
Ora, em Jesus não havia
sequer sombra de pecado, nem poderia haver, uma vez que Ele era o Homem-Deus.
Não tinha, portanto, matéria para arrependimento e penitência. O que explica,
então, que Ele tenha querido ser batizado?
Várias
são as razões dadas pelos Padres e Doutores da Igreja:
Sujeitar-se à condição humana:
Quando o Verbo se fez Homem,
Ele quis se sujeitar às leis que regem a vida humana. Por exemplo, obedeceu às
leis que estavam em vigor entre os judeus, sendo apresentado no Templo após seu
nascimento, sofrendo a circuncisão, e cumprindo os ritos da Páscoa judaica.
Assim, quis também receber o batismo penitencial de João.
Comentando essas palavras,
Santo Agostinho diz que Nosso Senhor "quis fazer o que ordenou que todos
fizessem". E Santo Ambrósio acrescenta: "A justiça exige que
comecemos por fazer o que queremos que os outros façam, e exortemos os outros a
nos imitarem pelo nosso exemplo".
Purificar as águas:
Entre as dez razões
enumeradas na Suma Teológica para o batismo de Jesus, São Tomás de Aquino
coloca em destaque o objetivo da purificação das águas.
Citando Santo Ambrósio, diz o
Doutor Angélico que "o Senhor foi batizado, não por querer purificar-se,
mas para purificar as águas". Desse modo, continua ele, as águas
"purificadas pelo contato com o corpo de Jesus Cristo, que não conheceu o
pecado, tivessem a virtude de batizar". E conclui citando o mesmo
argumento, de São João Crisóstomo, de que Jesus "deixou as águas
santificadas para os que, depois, deveriam ser batizados".
Incentivar ao Batismo:
Outro motivo, dos mais
importantes, para o Senhor decidir sujeitar-se ao ritual do Jordão era estimular
nos homens o desejo do Batismo sacramental.
A recepção do Batismo é
necessária para a salvação, como demonstram as palavras de Jesus a Nicodemos:
"Quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de
Deus"(Jo 3, 5). Pelo tom categórico da afirmação, avalia-se a importância
desse Sacramento.
O batismo de João levava ao
arrependimento dos pecados, mas não tinha o poder de perdoá-los. O Batismo
sacramental, instituído por Jesus Cristo, tem efeitos infinitamente maiores.
Adão transmitiu a todos os
seus descendentes a culpa original. O Sacramento do Batismo limpa a alma da
mancha desse pecado, confere a graça santificante, eleva o homem à condição de
filho de Deus e abre-lhe as portas do Céu. Ele é a chave de todos os outros
Sacramentos, indispensáveis para o homem cumprir com fidelidade a Lei de Deus.
Tal
é a grandeza e a eficácia do Sacramento do Batismo.
Exortação que permanece até o fim do mundo:
"Eis o Cordeiro de Deus,
que tira o pecado do mundo" (Jo 1, 29), declarou São João Batista a dois
de seus discípulos, indicando Nosso Senhor Jesus Cristo que passava.
São João Evangelista e seu
irmão, São Tiago, que até então haviam seguido fielmente o Batista,
compreenderam que Jesus era Aquele ao qual deviam entregar suas vidas. E
deixando seu antigo mestre, procuraram logo o Senhor, pedindo-Lhe permissão
para O acompanharem e viver com Ele.
Pelos séculos dos séculos,
essas palavras do grande .profeta da penitência . ressoarão no mundo,
convidando todos os homens a também colocarem seus olhos no Divino Salvador, a
se encantarem com a figura d.Ele e - como católicos fiéis - a seguirem seus
mandamentos, até o momento em que forem chamados para estar definitivamente com
Ele, na vida Eterna.
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