"O tema oferecido à nossa
meditação na Semana de oração, que hoje concluímos, é: «Todos seremos
transformados pela vitória de nosso Senhor Jesus Cristo» (cf.1 Cor 15,
51-58).
O significado desta
transformação misteriosa, da qual nos fala a breve segunda leitura desta tarde,
é demonstrado admiravelmente na vicissitude pessoal de são Paulo.
A seguir ao acontecimento
extraordinário ocorrido ao longo do caminho de Damasco, Saulo, que se
distinguia pela diligência com que perseguia a Igreja nascente, foi transformado
num apóstolo incansável do Evangelho de Jesus Cristo. Na vicissitude deste
evangelizador extraordinário vê-se claramente que essa transformação não é o
resultado de uma longa reflexão interior, nem sequer o fruto de um esforço
pessoal. Ela é, antes de tudo, obra da graça de Deus que agiu em conformidade
com as suas modalidades imperscrutáveis.
É por isso que Paulo,
escrevendo à comunidade de Corinto alguns anos depois da sua conversão afirma,
como ouvimos na primeira leitura destas Vésperas: «Mas pela graça de Deus
sou aquele que sou, e a graça que Ele me concedeu não foi inútil» (1 Cor 15,
10). Além disso, considerando com
atenção a vicissitude de são Paulo, compreende-se como a transformação que ele
experimentou na sua existência não se limita ao plano ético — como conversão da
imoralidade para a moralidade — nem sequer ao plano intelectual — como mudança
do próprio modo de compreender a realidade — mas trata-se sobretudo de uma
renovação radical do próprio ser, sob muitos aspectos semelhante a um renascimento.
Tal transformação encontra o seu fundamento na participação no mistério da
Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, e delineia-se como um caminho gradual de
conformação a Ele. À luz desta consciência são Paulo, quando sucessivamente é
chamado a defender a legitimidade da sua vocação apostólica e do Evangelho por
ele anunciado, diz: «Já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim. E
esta vida, que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou
e se entregou a Si mesmo por mim» (Gl 2, 20).
A experiência pessoal vivida
por são Paulo permite-lhe aguardar com esperança fundada o cumprimento deste
mistério de transformação, que dirá respeito a todos aqueles que acreditaram em
Jesus Cristo e também a toda a humanidade e à criação inteira. Na breve segunda
leitura que foi proclamada esta tarde são Paulo, depois de ter desenvolvido uma
longa argumentação destinada a fortalecer nos fiéis a esperança da
ressurreição, utilizando as imagens tradicionais da literatura apocalíptica que
lhe é contemporânea, descreve em poucas linhas o grande dia do juízo final, em
que se cumpre o destino da humanidade: «Num instante, num abrir e fechar de
olhos, ao som da trombeta final... os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós
seremos transformados» (1 Cor 15,
52). Nesse dia, todos os crentes
serão transformados em conformidade com Cristo e tudo o que é corruptível será
transformado pela sua glória: «Com efeito, é necessário — diz são Paulo — que
este corpo corruptível se revista de incorruptibilidade, que este corpo mortal
se revista de imortalidade» (v. 53). Então, o triunfo de Cristo será finalmente
completo porque, diz-nos ainda são Paulo demonstrando como as antigas profecias
das Escrituras se realizam, a morte será vencida definitivamente e, com ela, o
pecado que a fez entrar no mundo e a lei que fixa o pecado sem dar a força de o
derrotar: «A morte foi tragada pela vitória. / Onde está, ó morte, a tua
vitória? / Onde está, ó morte, o teu aguilhão? / O aguilhão da morte é o
pecado, e a força do pecado é a Lei» (vv. 54-56).
Por conseguinte, são Paulo
diz-nos que cada homem, mediante o batismo na morte e ressurreição de Cristo,
participa na vitória daquele que foi o primeiro a derrotar a morte, dando
início a um caminho de transformação que se manifesta desde já numa novidade de
vida e que alcançará a sua plenitude no fim dos tempos.
É muito significativo que este
trecho se conclua com uma ação de graças: «Sejam dadas graças a Deus, que
nos concede a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo!» (v. 57). O cântico
de vitória sobre a morte transforma-se em canto de ação de graças, elevado ao
Vencedor.”
Homilia Papa Bento XVI
25/01/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário