domingo, 29 de março de 2015

Domingo de Ramos: Porta de Entrada para a Semana Santa


Hoje, Domingo de Ramos, ao entrar na igreja, todo nós, exultantes, com os ramos de oliveira e as palmas, daremos um duplo testemunho acerca do Senhor: pelos ramos de oliveira confessaremos o Messias, o Ungido, já que é da oliveira que sai o azeite para a unção; e ao recebê-lo com as palmas da vitória, daremos testemunho de seu triunfo sobre a morte, porque teremos compreendido o significado de seu último sinal que foi o Despertar de Lázaro.
Através destas duas portas entraremos na Semana Santa e este curto tempo que vamos viver estará marcado por acontecimentos misteriosos, muitas vezes, aparentemente contraditórios, pouco claro para a nossa mente “pragmática” e “realista”.

Olhando atentamente para o Senhor, veremos no Evangelho deste Domingo de Ramos que o Senhor avança e entra triunfalmente em Jerusalém e é recebido como um rei vitorioso. Não obstante, montado num jumento, se apresenta como um soberano humilde, não-violento. E isto já nos adverte que seu reino não é deste mundo (Jo 18,36).

Jesus recebe silencioso todas estas aclamações do povo e, ante a curiosidade de alguns gregos que querem vê-lo, diz umas palavras que, até mesmo para os discípulos mais próximos são, no mínimo, enigmáticas:
É chegada a hora em que o Filho do Homem será glorificado. Amém! Amém! 
Digo-vos: se o grão de trigo caído na terra não morre, fica só; 
mas se morre, dá muito fruto. Jo 12, 23-24.

Seus discípulos, certamente se perguntariam: Como pode ser que o Senhor, que acaba de ressuscitar Lázaro, e que hoje é aclamada pela maioria do povo de Israel, nos diga agora que sua glorificação consiste em que morrerá como um grão de trigo?
É que neste curto espaço de tempo de uma semana, momento em que vamos nos submergir no Mistério de nossa Salvação, tudo será renovado.
A morte vai adquirir um novo significado, será uma morte frutífera; Deus será glorificado por sua morte porque irá transformá-la numa passagem luminosa para a Ressurreição. Porém, esta transformação o Senhor a realizará atravessando a dor, as trevas e a solidão que a morte contém em suas entranhas.
Todas as palavras que o Senhor dirige à multidão são pouco compreensíveis. Como pode ser que um dos elementos mais repulsivos da época, o elemento de tortura por excelência que utilizavam os romanos, a cruz, seja transformado pelo Senhor, com sua presença, num pólo de atração para Ele?
Eu, quando for erguido no alto sobre a terra, atrairei todos a Mim.Dizia isto para significar de que morte iria morrer. Jo 12, 32

Quem se recorda dos que mataram os profetas e o Cristo?
Então, com um novo olhar, estes acontecimentos nos podem ser iluminados.
Nas palavras finais do Evangelho do Domingo de Ramos, o Senhor vai se distanciando lentamente da multidão até ocultar-se dela. A sua vida pública vai chegando ao seu fim. A hora da glória só será compartilhada na intimidade por alguns poucos. Veremos que a maioria dos que hoje o recebem como rei, pedirão que seja crucificado. O aparente êxito de hoje, será transformado no aparente fracasso dos dias que virão.
Por isso, tudo pode ser novo nesta semana que começa se não abandonamos o Senhor porque, é a partir de suas ações, e não de nossos pensamentos, que cada coisa terá um novo olhar.
Seguir o Senhor para estar com Ele, para servi-Lo, fazer um silêncio profundo sobre nossas necessidades, sobre nossos pensamentos, sobre nossos sentimentos, sobre nossas opiniões. Estar atentos aos acontecimentos sem a interferência de nosso eu, sequer para tentar compreender.
Quiçá então, ao final deste curto percurso, animemo-nos a recorrer, algo se faça novo em nós, e comece nosso caminho rumo a verdadeira conversão.


No Domingo de Ramos, o Senhor entra em Jerusalém e nos convida para que O sigamos. Que as portas da igreja, que abrimos hoje solenemente na liturgia, sejam simbolicamente as portas de nosso coração aberto e vulnerável, orientado unicamente, neste tempo de uma semana, para a realização do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

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