domingo, 25 de janeiro de 2015

Conversão de São Paulo

"O tema oferecido à nossa meditação na Semana de oração, que hoje concluímos, é: «Todos seremos transformados pela vitória de nosso Senhor Jesus Cristo» (cf.1 Cor 15, 51-58).
O significado desta transformação misteriosa, da qual nos fala a breve segunda leitura desta tarde, é demonstrado admiravelmente na vicissitude pessoal de são Paulo.
A seguir ao acontecimento extraordinário ocorrido ao longo do caminho de Damasco, Saulo, que se distinguia pela diligência com que perseguia a Igreja nascente, foi transformado num apóstolo incansável do Evangelho de Jesus Cristo. Na vicissitude deste evangelizador extraordinário vê-se claramente que essa transformação não é o resultado de uma longa reflexão interior, nem sequer o fruto de um esforço pessoal. Ela é, antes de tudo, obra da graça de Deus que agiu em conformidade com as suas modalidades imperscrutáveis.
É por isso que Paulo, escrevendo à comunidade de Corinto alguns anos depois da sua conversão afirma, como ouvimos na primeira leitura destas Vésperas: «Mas pela graça de Deus sou aquele que sou, e a graça que Ele me concedeu não foi inútil» (1 Cor 15, 10). Além disso, considerando com atenção a vicissitude de são Paulo, compreende-se como a transformação que ele experimentou na sua existência não se limita ao plano ético — como conversão da imoralidade para a moralidade — nem sequer ao plano intelectual — como mudança do próprio modo de compreender a realidade — mas trata-se sobretudo de uma renovação radical do próprio ser, sob muitos aspectos semelhante a um renascimento. Tal transformação encontra o seu fundamento na participação no mistério da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, e delineia-se como um caminho gradual de conformação a Ele. À luz desta consciência são Paulo, quando sucessivamente é chamado a defender a legitimidade da sua vocação apostólica e do Evangelho por ele anunciado, diz: «Já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim. E esta vida, que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a Si mesmo por mim» (Gl 2, 20).

A experiência pessoal vivida por são Paulo permite-lhe aguardar com esperança fundada o cumprimento deste mistério de transformação, que dirá respeito a todos aqueles que acreditaram em Jesus Cristo e também a toda a humanidade e à criação inteira. Na breve segunda leitura que foi proclamada esta tarde são Paulo, depois de ter desenvolvido uma longa argumentação destinada a fortalecer nos fiéis a esperança da ressurreição, utilizando as imagens tradicionais da literatura apocalíptica que lhe é contemporânea, descreve em poucas linhas o grande dia do juízo final, em que se cumpre o destino da humanidade: «Num instante, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final... os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados» (1 Cor 15, 52). Nesse dia, todos os crentes serão transformados em conformidade com Cristo e tudo o que é corruptível será transformado pela sua glória: «Com efeito, é necessário — diz são Paulo — que este corpo corruptível se revista de incorruptibilidade, que este corpo mortal se revista de imortalidade» (v. 53). Então, o triunfo de Cristo será finalmente completo porque, diz-nos ainda são Paulo demonstrando como as antigas profecias das Escrituras se realizam, a morte será vencida definitivamente e, com ela, o pecado que a fez entrar no mundo e a lei que fixa o pecado sem dar a força de o derrotar: «A morte foi tragada pela vitória. / Onde está, ó morte, a tua vitória? / Onde está, ó morte, o teu aguilhão? / O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei» (vv. 54-56).

Por conseguinte, são Paulo diz-nos que cada homem, mediante o batismo na morte e ressurreição de Cristo, participa na vitória daquele que foi o primeiro a derrotar a morte, dando início a um caminho de transformação que se manifesta desde já numa novidade de vida e que alcançará a sua plenitude no fim dos tempos.

É muito significativo que este trecho se conclua com uma ação de graças: «Sejam dadas graças a Deus, que nos concede a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo!» (v. 57). O cântico de vitória sobre a morte transforma-se em canto de ação de graças, elevado ao Vencedor.”

Homilia Papa Bento XVI
25/01/2012


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