quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

20 de janeiro - Beato Cyprian Michael Iwene Tansi

Iwene Tansi nasceu em setembro de 1903 em Igboezunu, no estado de Anambra, na Nigéria, em uma família pagã. Perdeu o pai ainda pequeno e sua mãe, viúva e com cinco filhos, entregou Iwene à tutela de um parente cristão que, quando este tinha 9 anos, o fez batizar e aí recebeu o nome de Michael (Miguel).

Era de caráter obediente e paciente e costumava passar longas horas em oração na igreja, motivo pelo qual era às vezes zombado pelos meninos. Durante a adolescência, sentiu-se atraído ao sacerdócio e entrou para o seminário diocesano, não obstante a forte oposição da família.

Sua formação durou 12 anos, ao final dos quais foi ordenado, no dia 19 de dezembro de 1937. Passou os anos seguintes se dedicando à atividade paroquial. Seu ministério foi caracterizado por uma caridade ardente para com o próximo e as pessoas da região tinham-no por um “santo vivo”.

Combateu a superstição e fomentou a formação espiritual das mulheres e dos candidatos ao matrimônio. Levava uma intensa vida ascética, impondo-se frequentes restrições.

Durante a década de 1940, manifesta um interesse pela vida contemplativa e o expressa a seu arcebispo, que entra em contato com mosteiros trapistas irlandeses e ingleses a fim de encontrar um local aonde Pe. Michael pudesse receber uma formação monástica.

O Mosteiro de Mount St. Bernard, na Inglaterra, respondeu positivamente às demandas do arcebispo nigeriano e em 1950 Pe. Michael ingressa ali, recebendo o nome de Irmão Cyprian (Cipriano). Sua intenção era, após haver recebido a formação, de regressar à Nigéria e ali fundar um mosteiro, mas, ao dar-se conta das dificuldades que tal passo exigiria, pede para professar em Mount St. Bernard e esperar a oportunidade na qual o mosteiro pudesse fazer uma fundação ali.

A fundação ocorreu, porém não na Nigéria, mas sim nos Camarões. Irmão Cipriano foi designado mestre-de-noviços da fundação, mas pouco antes da viagem, em dezembro de 1963, foi detectada uma trombose profunda na perna e, pouco depois, uma excrescência no estômago. Ele foi levado às pressas para o hospital em Leichester, onde foi diagnosticado um aneurisma da aorta; o monge que o acompanhava voltou ao mosteiro com a intenção de regressar na manhã seguinte, mas durante a noite a doença agravou-se e na manhã de 20 de janeiro de 1964 morreu completamente sozinho, em quarto anônimo de um hospital estrangeiro, sem ter visto sua pátria novamente, desde que saiu em 1950.

O corpo foi levado de volta ao mosteiro e no dia 22 o funeral foi celebrado com a presença de outros padres nigerianos residentes em Londres. O centro monástico em Camerum foi inaugurado após sua morte e quando em 1986, 22 anos após sua morte, o processo de beatificação foi aberto na catedral de Omitsha, duas comunidades trapistas operavam na Nigéria, uma masculina e outra feminina e uma comunidade dos monges beneditinos.

Primeiro beato da Nigéria, foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 22 de março de 1998. Trecho da sua homília:

Hoje, um dos filhos da Nigéria, o Padre Cipriano Michael Iwene Tansi, foi proclamado “Beato”, precisamente na terra onde ele pregou a Boa Nova da salvação e procurou reconciliar os seus concidadãos com Deus e uns com os outros. De fato, a Catedral onde o Padre Tansi foi ordenado e a paróquia onde exerceu o ministério sacerdotal não estão distantes de Oba, lugar onde nos encontramos reunidos. Algumas pessoas, a quem ele proclamou o Evangelho e administrou os sacramentos, hoje estão aqui conosco — inclusive o Cardeal Francis Arinze, que foi batizado pelo Padre Tansi e recebeu a sua primeira educação numa das suas escolas.

A vida e o testemunho do Padre Tansi são fonte de inspiração para todos na Nigéria, País que ele tanto amou. Ele era antes de tudo um homem de Deus: as longas horas passadas diante do Santíssimo Sacramento cumularam o seu coração de amor generoso e corajoso. Os que o conheceram dão testemunho do seu grande amor a Deus. Todos os que se encontraram com ele se sentiram tocados pela sua bondade pessoal. Ele foi também um homem do povo: colocou sempre os outros antes de si mesmo, e esteve especialmente atento às necessidades pastorais das famílias. Assumiu o grande encargo de preparar bem os casais para o sagrado matrimônio e anunciou a importância da castidade. Procurou de todos os modos promover a dignidade das mulheres. De modo especial, considerava preciosa a educação das jovens. Também quando foi enviado pelo Bispo Heerey à Abadia Cisterciense do Monte São Bernardo, na Inglaterra, para seguir a própria vocação monástica, com a esperança de poder trazer para a África a vida contemplativa, ele jamais se esqueceu do seu povo e não deixou de oferecer orações e sacrifícios pela sua contínua santificação.

O Padre Tansi sabia que existe algo do filho pródigo em cada ser humano. Sabia que todos os homens e todas as mulheres são tentados a separar-se de Deus, para procurarem a própria independência e existência egoísta. Sabia que depois eles ficariam desiludidos pelo vazio da ilusão que os havia fascinado e que, no fim, eventualmente achariam nas profundezas do próprio coração o caminho do retorno à casa do Pai. Encorajou as pessoas a confessarem os próprios pecados e a receberem o perdão de Deus no Sacramento da Reconciliação. Pediu-lhes que perdoassem uns aos outros como Deus nos perdoa e transmitissem o dom da reconciliação, tornando isto uma realidade em todos os níveis da vida nigeriana. O Padre Tansi esforçou-se por imitar o pai da parábola: estava sempre disponível para aqueles que procuravam a reconciliação. Difundia a alegria da comunhão restabelecida com Deus. Exortava as pessoas a acolherem a paz de Cristo, e encorajava-as a alimentar a vida da graça com a Palavra de Deus e com a sagrada Comunhão.

O Beato Cipriano Michael Tansi é um primeiro exemplo dos frutos de santidade que cresceram e amadureceram na Igreja na Nigéria, visto que antes o Evangelho foi anunciado nesta terra. Ele recebeu o dom da fé graças aos esforços dos missionários e, fazendo seu o estilo de vida cristã, tornou-o realmente africano e nigeriano. De igual modo, também os nigerianos de hoje — tanto os jovens como os adultos — são chamados a colher os frutos espirituais que foram plantados no meio deles e estão agora prontos para a colheita. A respeito disso, desejo agradecer e encorajar a Igreja na Nigéria no que se refere à sua obra missionária na Nigéria, em África e noutros lugares. O testemunho que o Padre Tansi deu do Evangelho e da caridade cristã é um dom espiritual que esta Igreja local oferece agora à Igreja universal.

 

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