segunda-feira, 6 de julho de 2020

06 de julho - Santa Maria Goretti

Santa Maria Goretti
“Há cem anos, no dia 6 de julho de 1902, no hospital de Netuno, morria Maria Goretti, barbaramente apunhalada um dia antes na pequena aldeia de Le Ferriere, no Campo Pontino. Pela sua vivência espiritual, pela força da sua fé, pela capacidade de perdoar ao seu algoz, ela põe-se entre as Santas mais amadas do século XX. Portanto, oportunamente, a Congregação da Paixão de Jesus Cristo, a quem está confiado o cuidado do Santuário onde repousam os restos mortais da Santa, quis celebrar esta data com particular solenidade.

Santa Maria Goretti foi uma jovem em quem o Espírito de Deus infundiu a coragem de permanecer fiel à vocação cristã, até ao supremo sacrifício da vida. A idade jovem, a falta de educação escolar e a pobreza do ambiente em que vivia não impediram a graça de manifestar nela os seus prodígios. Pelo contrário, precisamente em tais condições apareceu de maneira eloquente a predileção de Deus pelas pessoas humildes. Voltam à mente as palavras com que Jesus bendisse o Pai celestial por se ter revelado aos pequeninos e aos simples, e não aos sábios, nem aos doutos deste mundo (cf. Mt 11, 25).

Observou-se, justamente, que o martírio de Santa Maria Goretti inaugurou aquele a que se haveria de chamar o século dos mártires. E foi precisamente nesta perspectiva que, no final do Grande Jubileu do Ano 2000, sublinhei que "a consciência mais viva não nos impediu, porém, de dar glória ao Senhor por tudo o que Ele fez ao longo dos séculos, de modo particular neste último, que deixamos para trás, assegurando à sua Igreja uma longa série de santos e de mártires"

Mensagem do Papa João Paulo II – Centenário da morte de Santa Maria Goretti – 06 de julho de 2002

Maria nasceu em 16 de outubro de 1890, na Itália. Filha de Luigi Goretti e Assunta Carlini, terceira de sete filhos de uma família pobre, mas rica em fé e virtudes, cultivadas por meio da oração em comum, terço todos os dias e aos domingos Missa e sagrada Comunhão. No dia seguinte a seu nascimento, foi batizada e consagrada à Virgem. Aos seis anos recebeu o sacramento da Confirmação.

Depois do nascimento de seu quarto filho, Luigi Goretti, pela dura crise econômica que enfrentava, decidiu emigrar com sua família para o interior, ainda insalubre naquela época, onde após um ano de trabalho esgotante, Luigi contraiu a malária, e morreu.

Como consequência da morte de Luigi, Assunta teve que trabalhar deixando a casa a cargo dos filhos mais velhos. Maria freqüentemente chorava a morte de seu pai, e aproveita qualquer ocasião para ajoelhar-se diante de sua tumba, e rezar para que seu pai goze da glória divina.

Junto com a tarefa de cuidar de seus irmãos menores, Maria seguia rezando e assistindo a seu curso de catecismo. Posteriormente, sua mãe contará que o terço lhe era necessário e, de fato, o levava sempre enrolado em volta do pulso. Assim como a contemplação do crucifixo, que foi para Maria uma fonte onde se nutria de um intenso amor de Deus e de um profundo horror pelo pecado.

Desde muito pequena ansiava receber a Sagrada Eucaristia. Segundo era costume na época, deveria esperar até os onze anos, mas um dia perguntou a sua mãe:

– Mamãe, quando tomarei a Comunhão? Quero Jesus.

– Como vai tomá-la, se não sabes o catecismo? Além disso, não sabes ler, não temos dinheiro para comprar o vestido, os sapatos e o véu, e não temos nem um momento livre.

– Pois assim nunca tomarei a Comunhão, mamãe! E eu não posso estar sem Jesus!

– E, o que queres que eu faça? Não posso deixar que comungues como uma pequena ignorante.

Diante destas condições, Maria começou a se preparar com ajuda de uma pessoa do lugar, e todo o povo a ajudar dando-lhe a roupa da comunhão. Desta maneira, recebeu a Eucaristia em 29 de maio de 1902.

A comunhão constante acrescenta nela o amor pela pureza e a anima a tomar a resolução de conservar essa virtude a todo custo. Um dia, após ter escutado uma conversa maliciosa entre um rapaz e uma de suas companheiras, diz com indignação à sua mãe:

– Mamãe, que mal havia essa menina!

– Procura não tomar parte nunca nestas conversações.

– Não quero nem pensar, mamãe; antes que fazê-lo, preferiria...E a palavra morrer fica entre seus lábios. Um mês depois, ocorre o que ela sentenciou.

Luigi Goretti havia se associado com Giovanni Serenelli e seu filho Alessandro. As duas famílias vivem em quartos separados, mas a cozinha é comum. Luigi se arrependeu em seguida daquela união com Giovanni Serenelli, pessoa muito diferente dos seus, bebedor e carente de discrição em suas palavras.

Depois da morte de Luigi, Assunta e seus filhos haviam caído sob o jugo despótico dos Serenelli, Maria, que compreendeu a situação, esforça-se para apoiar sua mãe:

- Ânimo, mamãe, não tenhas medo, que já estamos crescendo. Basta com que o Senhor nos conceda saúde. A Providência nos ajudará. Lutaremos e seguiremos lutando!

Desde a morte de seu marido, Assunta sempre esteve no campo e nem sequer tem tempo de ocupar-se da casa, nem da instrução religiosa dos menores. 

Maria se encarrega de tudo, na medida do possível. Durante as refeições, não se senta à mesa até que todos estejam servidos, e para ela serve as sobras. Seu cuidado se estende igualmente aos Serenelli.

Por sua vez, Giovanni, cuja esposa havia falecido no hospital psiquiátrico de Ancona, não se preocupa em nada com seu filho Alessandro, jovem robusto de dezenove anos, grosseiro e cheio de vícios, que gostava de cobrir seu quarto com imagens obscenas e ler livros indecentes.

Em seu leito de morte, Luigi Goretti havia pressentido o perigo que a companhia dos Serenelli representava para seus filhos, e havia repetido sem cessar à sua esposa:

– Assunta, volte para Corinaldo! Infelizmente Assunta está endividada e comprometida por um contrato de arrendamento.

Depois de ter maior contato com a família Goretti, Alessandro começou a fazer proposições desonestas à inocente Maria, que em um princípio não compreende. 

Mais tarde, ao adivinhar as intenções perversas do rapaz, a jovem rejeita a adulação e as ameaças. Suplica à sua mãe que não deixe sozinha na casa, mas não se atreve a explicar-lhe claramente a causa de seu pânico, pois Alessandro a havia ameaçado:

– Se contar algo a tua mãe, te mato.

Seu único recurso é a oração. Na véspera de sua morte, Maria pede novamente chorando à sua mãe que não a deixe sozinha, mas, ao não receber mais explicações, esta o considera um capricho e não dá nenhuma importância àquela reiterada súplica.

No dia 5 de julho, a uns quarenta metros da casa, estão debulhando as favas na terra. Às três da tarde, no momento em que Maria se encontra sozinha em casa, Alessandro diz:

– "Assunta, quer fazer o favor de levar os bois para mim?" Sem suspeitar nada, a mulher o faz.

Maria, sentada na soleira da cozinha, remenda uma camisa que Alessandro lhe entregou depois de comer, enquanto vigia sua irmãzinha Teresinha, que dorme a seu lado.

– Maria! grita Alessandro.

– Quer queres?

– Quero que me sigas.

– Para quê?

– Segue-me!

– Se não me dizes o que queres, não te sigo.

Perante a resistência, o rapaz a agarra violentamente pelo braço e a arrasta até a cozinha, trancando a porta. A menina grita, o ruído não chega ao lado de fora. Ao não conseguir que ela se renda, Alessandro a amordaça e esgrime um punhal. Maria põe-se a tremer, mas não sucumbe. Furioso, o jovem tenta com violência arrancar-lhe a roupa, mas Maria se desata da mordaça e grita:

– Não faças isso, que é pecado... Irás para o inferno.

Pouco cuidadoso com o juízo de Deus, o desgraçado levanta a arma:

– Se não deixar, te mato.

Frente àquela resistência, a atravessa com facadas. A menina se põe a gritar:

– Meu Deus! Mamãe! E cai no chão.

Pensando que estava morta, o assassino atira a faca longe e abre a porta para fugir, mas ao escutá-la gemer de novo, volta, pega a arma e a atravessa outra vez de parte a parte; depois, sobe e se tranca em seu quarto.

Maria recebeu catorze facadas graves e ficou inconsciente.

Quase ao mesmo tempo, despertada pelo ruído, Teresinha grita e sua mãe escuta. Assustada, diz a seu filho Mariano:

–  Corre a buscar a Maria; diga-lhe que Teresinha a chama.

Naquele momento, Giovanni Serenelli sobe as escadas e, ao ver o horrível espetáculo que se apresenta diante seus olhos, exclama:

– Assunta, e tu também, Mário, vem!

Mario Cimarelli, um trabalhador da granja, sobe as escadas a toda pressa. A mãe chega também:

– Mamãe! Geme Maria.

É Alessandro, que queria me fazer mal!

Chamam o médico e os guardas, que chegam a tempo para impedir que os vizinhos, muito exaltados, matassem Alessandro.

Ao chegar ao hospital, os médicos se surpreenderam de que a menina ainda não havia sucumbido a seus ferimentos, pois alcançou o pericárdio, o coração, o pulmão esquerdo, o diafragma e o intestino. Ao diagnosticar que não tem cura, chamaram o capelão. Maria se confessa com toda clareza. Em seguida, durante duas horas, os médicos cuidaram dela sem anestesiá-la.

Maria não se lamenta, e não deixa de rezar e de oferecer seus sofrimentos à santíssima Virgem, Mãe das Dores. Sua mãe conseguiu que lhe permitam permanecer à cabeceira da cama. Maria ainda tem forças para consolá-la:

– Mamãe, querida mamãe, agora estou bem... Como estão meus irmãos e irmãs?

Em um momento, Maria diz à sua mãe:

 Mamãe, dê-me uma gota de água.

– Minha pobre Maria, o médico não quer, porque seria pior para ti.

Incomodada, Maria continua dizendo:

– Como é possível que eu não possa beber nem uma gota de água?

Em seguida, dirige o olhar sobre Jesus crucificado, que também havia dito “Tenho sede!” E entendeu.

O sacerdote também está a seu lado, assistindo-a paternalmente. No momento de lhe dar a Sagrada Comunhão, perguntou-lhe:

– Maria, perdoa de todo coração teu assassino?

Ela respondeu:

– Sim, perdoo pelo amor de Jesus, e quero que ele também venha comigo ao paraíso. Quero que esteja a meu lado... Que Deus o perdoe, porque eu já o perdoei.

Maria recebeu a Eucaristia e a Extrema unção, serena, tranquila, humilde no heroísmo de sua vitória.

Depois de breves momentos, escutam-na dizer: "Papai". Finalmente, Maria entra na glória da Comunhão com Deus amor. É o dia 6 de julho de 1902, às três horas da tarde.

Foi canonizada no dia 25 junho de 1950 e na homilia de canonização o Papa Pio XII,  indicou Maria Goretti como "a pequena e doce mártir da pureza" porque, apesar da ameaça de morte, não desobedeceu ao mandamento de Deus.

 


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