sexta-feira, 3 de julho de 2020

03 de julho - São Tomé - Apóstolo

Este santo apóstolo é conhecido pela sua proverbial incredulidade quando recebeu a notícia da ressurreição de Jesus.

"A incredulidade de Tomé não foi um acaso, mas prevista nos planos de Deus. O discípulo, que, duvidando da Ressurreição do mestre, pôs as mãos nas chagas do mesmo, curou com isso a ferida da nossa incredulidade." 

 São Gregório Magno

Tomé, sempre presente nas quatro listas contempladas pelo Novo Testamento, ele, nos primeiros três Evangelhos, é colocado ao lado de Mateus (Mt 10, 3; Mc3, 18; Lc 6, 15), enquanto nos Atos está próximo de Filipe (At 1, 13). O seu nome deriva de uma raiz hebraica, ta'am, que significa "junto", "gêmeo". De fato, o Evangelho chama-o várias vezes com o sobrenome de "Dídimo" (Jo 11, 16; 20, 24; 21, 2), que em grego significa precisamente "gêmeo". Não é claro o porquê deste apelido.

Sobretudo o Quarto Evangelho oferece-nos informações que reproduzem alguns traços significativos da sua personalidade. O primeiro refere-se à exortação, que ele fez aos outros Apóstolos, quando Jesus, num momento crítico da sua vida, decidiu ir a Betânia para ressuscitar Lázaro, aproximando-se assim perigosamente de Jerusalém (Mc 10, 32). Naquela ocasião Tomé disse aos seus condiscípulos: "Vamos nós também, para morrermos com Ele" (Jo 11, 16).

Esta sua determinação em seguir o Mestre é deveras exemplar e oferece-nos um precioso ensinamento: revela a disponibilidade total de aderir a Jesus, até identificar o próprio destino com o d'Ele e querer partilhar com Ele a prova suprema da morte. De fato, o mais importante é nunca se separar de Jesus. Por outro lado, quando os Evangelhos usam o verbo "seguir" é para significar que para onde Ele se dirige, para lá deve ir também o seu discípulo.

Uma segunda intervenção de Tomé está registrada na Última Ceia. Naquela ocasião Jesus, predizendo a sua partida iminente, anuncia que vai preparar um lugar para os discípulos para que também eles estejam onde Ele estiver; e esclarece: "E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho"(Jo 14, 4). É então que Tomé intervém e diz: "Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?" (Jo 14, 5). Na realidade, com esta expressão ele coloca-se a um nível de compreensão bastante baixo; mas estas suas palavras fornecem a Jesus a ocasião para pronunciar a célebre definição: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14, 6). Portanto, Tomé é o primeiro a quem é feita esta revelação, mas ela é válida também para todos nós e para sempre. Todas as vezes que ouvimos ou lemos estas palavras, podemos colocar-nos com o pensamento ao lado de Tomé e imaginar que o Senhor fala também conosco como falou com ele.

Ao mesmo tempo, a sua pergunta confere também a nós o direito, por assim dizer, de pedir explicações a Jesus. Com frequência nós não o compreendemos. Tenhamos a coragem para dizer: não te compreendo, Senhor, ouve-me, ajuda-me a compreender. Desta forma, com esta franqueza que é o verdadeiro modo de rezar, de falar com Jesus, exprimimos a insuficiência da nossa capacidade de compreender, ao mesmo tempo colocamo-nos na atitude confiante de quem espera luz e força de quem é capaz de as doar.

Depois, muito conhecida e até proverbial é a cena de Tomé incrédulo, que aconteceu oito dias depois da Páscoa. Num primeiro momento, ele não tinha acreditado em Jesus que apareceu na sua ausência, e dissera: "Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito" (Jo 20, 25). No fundo, destas palavras sobressai a convicção de que Jesus já é reconhecível não tanto pelo rosto quanto pelas chagas. Tomé considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus são agora sobretudo as chagas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou. Nisto o Apóstolo não se engana. Como sabemos, oito dias depois Jesus aparece no meio dos seus discípulos, e desta vez Tomé está presente. E Jesus interpela-o: "Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!" (Jo 20, 27). Tomé reage com a profissão de fé mais maravilhosa de todo o Novo Testamento: "Meu Senhor e meu Deus!"(Jo 20, 28).

A este propósito, Santo Agostinho comenta: Tomé via e tocava o homem, mas confessava a sua fé em Deus, que não via nem tocava. Mas o que via e tocava levava-o a crer naquilo de que até àquele momento tinha duvidado. O evangelista prossegue com uma última palavra de Jesus a Tomé: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto, crerão" (Jo 20, 29). Esta frase também se pode conjugar no presente; "Bem-aventurados os que creem sem terem visto".

Uma última anotação sobre Tomé é-nos conservada no Quarto Evangelho, que o apresenta como testemunha do Ressuscitado no momento seguinte à pesca milagrosa no Lago de Tiberíades (Jo 21, 2). Naquela ocasião ele é mencionado inclusivamente logo depois de Simão Pedro: sinal evidente da grande importância de que gozava no âmbito das primeiras comunidades cristãs. Com efeito, em seu nome foram escritos depois os Atos e o Evangelho de Tomé, ambos apócrifos, mas, contudo, importantes para o estudo das origens cristãs.

Por fim recordamos que segundo uma antiga tradição, Tomé evangelizou primeiro a Síria e a Pérsia depois foi até à Índia ocidental (Atos de Tomé 1-2 e 17ss.), de onde enfim alcançou também a Índia meridional, onde, segundo a mesma tradição, foi martirizado.

 Papa Bento XVI – Audiência Geral, 27 de setembro de 2006

 


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